O Olivier Café, em Lisboa, abriu as suas portas para clientes que não gostam de comer mal
São dos melhores finais de tarde de Lisboa – em matéria de paisagem, de luz, se quiserem. Entre o Terreiro do Paço e o mercado da Ribeira, aquela luz merece ser a luz de Lisboa, perdida entre as muitas portas de bares; nada de bares sofisticados, naquela zona, mas antes preparados para sede do final da tarde: os irlandeses (quem mais podia ser?), os americanos, os das cervejas, os dos vinhos – e os do Cais do Sodré de antigamente. Tenho pena de que a Rua do Alecrim, rua literária por excelência, mas despropositadamente vivida como rua de passagem, barulhenta e penosa (ah, subi-la!), não tenha bares desses, dependurados sobre a imagem do Tejo, as tabacarias, padarias, cafés e mercearias do Arsenal. Foi aí que Olivier Costa, proprietário do Olivier da Rua do Teixeira – à entrada do Bairro Alto (pelo menos de quem vem de S. Pedro da Alcântara e do Príncipe Real) – abriu o Olivier Café, uma mistura de restaurante e café, cheio de música e que garantidamente abriu as suas portas para clientela que não gosta de comer mal mas que aprecia refeições, digamos, descontraídas.
Não é a mesma relação que se encontrava, há uns anos, entre o Tavares "Rico" e o Tavares "Pobre" (hoje em dia não há lugar para conciliação na luta de classes), mas pode considerar-se que estamos diante da procura de nova clientela – a que pode ter passado pelo Olivier da Rua do Teixeira mas cujo BI pode ser mais maneirinho. Em primeiro lugar, tem serviço de "valet parking", o que é bom; estacionar naquele lugar é impraticável a qualquer hora do dia ou da noite, pelo que a possibilidade de entregar o carro à porta, e reavê-lo depois, é boa lembrança (o Tavares também assegura essa facilidade). Em segundo lugar, a decoração é simpática, bonita, quente, calorosa. Para os conhecedores da zona, o Olivier Café está instalado na casa onde antes funcionava a Cervejaria Alemã – a ementa desceu, no mapa, dos 'eisbein' e 'schwein-axe', para aquilo que é comum designar-se como "ementas mediterrânicas". A "dieta mediterrânica", em geral, não deixa de ser uma mistificação agradável, resultado de inquéritos médicos sobre o que comiam os habitantes de Creta (bastante peixe, azeitinho, frutas e legumes). Ora, a "dieta mediterrânica nos restaurantes" é sobretudo variedade de ingredientes e inspiração em ementas do sul da Europa, e bom peixe fresco. Ainda bem.
Neste caso, começando pelo peixe, o visitante pode encontrar o lombo de cherne 'au beurre blanc', os medalhões de tamboril 'à Ia creme', as (cada vez mais inevitáveis e dispensáveis - mas sou eu a falar) vieiras com molho de açafrão e cheiro de caril, os linguine negro com camarões tigre (fácil, muito fácil, mas popular), o folhado de peixe com camarão e espinafre, e os ravioli de bacalhau e broa com molho de tomate e azeitonas. Nas carnes, há uma proposta valente, a de pernil de porco tostado com mel e alecrim, um avanço gastronómico com o 'magret' de pato com molho de vinho do Porto, o 'foie gras' fresco com maçã caramelizada e puré com trufa, a vitelinha branca com manteiga de ervas e alho confitado, o bife lombo, a manta de porco preto com chutney de manga e vinagre framboesa e o entrecôte de novilho, para duas pessoas, muito saboroso, irlandês. Para duas pessoas, aliás, o Olivier Café recomenda a vitela branca maturada com manteiga de ervas e alho confitado e massa com molho de parmesão, trufa branca e trufa preta.
Qualquer sociólogo sabe a que faixa etária se dirige esta ementa e mesmo na informalidade das sobremesas ('sorbet' de maça verde com vodka, 'crumble' de frutos silvestres com gelado de mel e coulant de chocolate) se detecta essa fragilidade adolescente, servida de champagnes jovens (como o Ruinart).
Sinceramente, as coisas são como são e o Olivier Café é assim exactamente, e não engana ninguém. Digamos que se trata de uma aposta 'pós-teenager', onde aquela música (sim, tem um DJ compreensivo de quinta a sábado) pode, às vezes, ser incomodativa para um cavalheiro como eu – mas ninguém me manda ter nascido há mais de quarenta anos.
À lupa
Vinhos: * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * *
Decoração: * * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 48
Vinhos brancos: 11
Portos & Madeiras: 15
Uísques: 20
Champanhes: 6
Aguardentes & Conhaques: 4
Outros dados
Charutos: Não
Estacionamento: Parque do Camões / Chiado, com serviço de “Valet Parking aos fins-de-semana Levar crianças: não
Área de não-fumadores: Não
Reserva: Imprescindível
Preço médio: 35 euros
OLIVIER CAFÉ
Rua do Alecrim, 23
1200-014 Lisboa
Telefone 213 422 916
Encerra ao domingo
in Revista Notícias Sábado – 20 Janeiro 2007
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