Esta miséria que se tem visto
1. É bom ter alguém para sacrificar e triturar. Esta semana calhou a vez a Carlos Martins, o jogador do Sporting que a vastíssima multidão de moralistas decretou estar "acabado" depois do cartão vermelho no jogo contra o Belenenses. Apetece perguntar qual o mal que lhes fez Carlos Martins – mas percebe-se à primeira: a generalidade dos comentadores convertidos ao compêndio scolariano prefere, em vez de jogadores, recrutas, rapazes cumpridores. Mas, às vezes, o futebol cumpridor não basta; é preciso procurar as excepções. O que teria acontecido a Eric Cantona em Portugal? Seria cilindrado. Paulo Bento afastá-lo-ia? É provável. Mas os tempos não estão para excepções; Garrincha seria banido, Didi escorraçado e até a Domingos da Guia, enfim, lhe mostrariam o caminho da porta. Carlos Martins não é Cantona, nem Didi, nem Garrincha, nem Lucho, nem Deco – claro que não, mas esta semana estou do lado dele. Houvesse muitos Carlos Martins, desesperados por jogar, desesperados por vencer (e com treinador à altura para os compreender), e o campeonato não seria esta miséria que se tem visto.
2. Falemos, pois, desta miséria que se tem visto: muitos jogos aplainados pela mesma bitola, sonsos, com pouco brilho. De quem é a culpa? Da depressão causada pelo futebol em si mesmo, e da "paragem de Inverno". Nada a fazer. Às vezes tenho saudades de gente capaz de polémicas, de um tempo em que os treinadores não apareciam naquelas fatiotas ridículas, de gente que arriscava. Lá para Março, Abril. Ao ver a ponta final, a Liga vai mexer. Tarde de mais, como de costume. Até lá, os jogadores caem ao mínimo toque, muito mariquinhas; prolongam uma jogada até ela se tornar insuportável, mastigada, previsível, à procura de uma falta; pela televisão (que mostra sempre um jogo a triplicar) vê-se como o estádio se transformou num teatro permanente a mostrar esta miséria que se tem visto.
3. O mercado de Inverno está à altura do futebol português; é bom sinal. Quem não tem dinheiro não tem vícios. Mas há uma coisa que me surpreende sempre – as transferências já feitas por milhões. Todos os anos, se se lembram, Rui Costa estavam no Benfica e Beto no Real Madrid. Rui Costa veio, passados anos, mas joga pouco; Beto nem passou por Barajas. Mas os seus nomes inflacionaram, até valerem muito pouco no mercado. Vejam o caso de Ricardo Rocha; a imprensa noticiou milhões, vários, mas sempre em ordem decrescente, até deixar de se falar. Não seria possível proteger o jogador?
4. O Apito Dourado está em segredo. Mas ao ver certas acusações pairarem nas páginas dos jornais, uma pessoa deveria munir-se de bom-senso e sorrir diante dos 4,2 milhões de euros pagos pela Caixa Geral de Depósitos como indemnizações a gestores.
5. Eu sou um conservador. Os equipamentos deviam ser sóbrios, sem "degradés" nem mangas "à Sporting", que parecem ter um problema de costura (aliás, o Sporting abusa dos "segundos equipamentos"). Deviam ser coisa sóbria que se entendesse. O F. C. Porto devia ter as riscas da ordem. Por isso, que o Benfica anuncie um equipamento alternativo cor-de-rosa, já não me surpreende.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 20 Janeiro 2007
2. Falemos, pois, desta miséria que se tem visto: muitos jogos aplainados pela mesma bitola, sonsos, com pouco brilho. De quem é a culpa? Da depressão causada pelo futebol em si mesmo, e da "paragem de Inverno". Nada a fazer. Às vezes tenho saudades de gente capaz de polémicas, de um tempo em que os treinadores não apareciam naquelas fatiotas ridículas, de gente que arriscava. Lá para Março, Abril. Ao ver a ponta final, a Liga vai mexer. Tarde de mais, como de costume. Até lá, os jogadores caem ao mínimo toque, muito mariquinhas; prolongam uma jogada até ela se tornar insuportável, mastigada, previsível, à procura de uma falta; pela televisão (que mostra sempre um jogo a triplicar) vê-se como o estádio se transformou num teatro permanente a mostrar esta miséria que se tem visto.
3. O mercado de Inverno está à altura do futebol português; é bom sinal. Quem não tem dinheiro não tem vícios. Mas há uma coisa que me surpreende sempre – as transferências já feitas por milhões. Todos os anos, se se lembram, Rui Costa estavam no Benfica e Beto no Real Madrid. Rui Costa veio, passados anos, mas joga pouco; Beto nem passou por Barajas. Mas os seus nomes inflacionaram, até valerem muito pouco no mercado. Vejam o caso de Ricardo Rocha; a imprensa noticiou milhões, vários, mas sempre em ordem decrescente, até deixar de se falar. Não seria possível proteger o jogador?
4. O Apito Dourado está em segredo. Mas ao ver certas acusações pairarem nas páginas dos jornais, uma pessoa deveria munir-se de bom-senso e sorrir diante dos 4,2 milhões de euros pagos pela Caixa Geral de Depósitos como indemnizações a gestores.
5. Eu sou um conservador. Os equipamentos deviam ser sóbrios, sem "degradés" nem mangas "à Sporting", que parecem ter um problema de costura (aliás, o Sporting abusa dos "segundos equipamentos"). Deviam ser coisa sóbria que se entendesse. O F. C. Porto devia ter as riscas da ordem. Por isso, que o Benfica anuncie um equipamento alternativo cor-de-rosa, já não me surpreende.
in Topo Norte - Jornal de Notícias - 20 Janeiro 2007
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