Índia em Lisboa
O Tamarind oferece uma experiência de genuína cozinha da índia, cheia de memórias pessoais de Hardev Walia, o seu criador. Vale a pena cair em tentação e ir aprendendo a escolher os pratos.
A pergunta tem toda a razão de ser em se tratando de gastronomias estranhas: será esta a verdadeira cozinha mexicana?, é esta a genuína comida indiana?, é fidedigna esta cozinha italiana?, será assim a verdadeira cozinha chinesa? Não esmoreça. Todos os dias faço a mesma pergunta – sobretudo, está bom de ver, nos dias em que sou levado (ou, mais raramente, quando sou eu que levo) a um restaurante marroquino, australiano, tailandês. Sou adepto do "desconhecido" em matéria de cozinha; não apenas do estranho, do longínquo, do exótico, do diferente. Esses adjectivos servem-me, mas o desconhecido também me interessa, e bastante. Línguas desconhecidas, pratos desconhecidos, misturas desconhecidas; espero sempre uma surpresa e um pecado nessas alturas.
Acontece-me, aliás, quando viajo experimentar por dever, mais até do que por curiosidade; um dever sem sacrifício, faço notar – um dever feito de perguntas. Nesse capítulo sigo as instruções nunca escritas de Anthony Bourdain e até alguns dos seus percursos – vou ao acaso. Comi em restaurantes indonésios à beira de caminhos desertos, em excelentes mesas argentinas, em tabernas mexicanas cheias de fumos, cozinhei com famílias onde pude fazê-lo. Qual o objectivo? Nenhum. Fazer apenas com que isso acontecesse; aproveitar a grandiosidade do mundo; gozar o momento; satisfazer a curiosidade. Nada de grandes antropologias ou etnologias.
No caso dos restaurantes indianos da capital há sempre a tentação de dizer que lhes devemos alguma coisa; e devemos: a tradição, o costume goês, as especiarias arrancadas do Oriente e, finalmente, os bons sabores que nos trazem. Grande parte dessas "cozinhas indianas" são de ascendência indo-portuguesa e só mais recentemente apareceram casas onde a designação "indiana" não significa "Norte de Moçambique" ou "indo-portuguesa" ou "goesa". Nada contra. Um desses lugares é o Tamarind, a dois passos da Avenida da Liberdade e da Praça da Alegria, na vetusta Rua da Glória, onde Hardev Walia, depois de uns tempos algarvios, nos serve menus cheios de serenidade e de reminiscências familiares.
A minha experiência foi muito boa (além de voltar a provar a cerveja 'Cobra' na sua versão de 660 ml) e a opção foi pelo menu do dia, a um preço muito aceitável de 9,5 euros e que incluía duas entradas vegetarianas, 'bajhies' de cebola e 'pokora' de couve-flor e batata - repeti as 'bajhies', fritinhos saborosos e muito indicados para entrada. Neste capítulo, das entradas, há ainda borrego em tandoori ('boti kebab') ou picado com cominhos ('neza kebab'), galinha marinada com ervas e natas (galinha 'tikka') e uma selecção de entradas de camarão e peixe ('tikki" de camarão, peixe masala, por exemplo), além de um misto de todas as entradas da casa. Depois disso, dividi 'karahi murgh' (galinha com cebola, pimento e tomate) e 'rogan gosh' (borrego estufado, com cominhos, tomate, pimentos) – na companhia da dose normal de pão nam (o pão ázimo indiano) e de arroz 'basmati'.
A escolha poderia ter-se encaminhado para um abundante cardápio de pratos vegetarianos (que inclui um suculento caril de vegetais ou dois pratos de lentilhas que provarei em próxima oportunidade, como 'turka dali' ou 'dali makhani'), ementa tandoori, ou seja, cozinhados em forno de barro (borrego e frango), alguns pratos de borrego ('saag ghost', com espinafres, caril, 'dhaniya keema', borrego picado) e de frango ('korma', com amêndoas e caju, 'makhani', com tomate e manteiga, 'tawa', com pimento e tomate, ou caril), além dos 'berya-ni', ou seja, arroz – os de borrego, galinha, vegetais ou marisco e peixe –, sem falar dos pratos de peixe e marisco.
No capítulo das sobremesas, optámos por uma 'delícia de manga' e por um gelado de natas - ambos a transitar pela fronteira do sublime, com aromas muito suaves, tranquilizadores, cheios de promessas. A carta de vinhos é curta mas bem escolhida e com vinhos de várias regiões.
Sai-se do Tamarind com a sensação de se ter viajado naquela salinha pequena, colorida, agradável.
À LUPA
Carta de vinhos: * *
Carta de digestivos: * *
Facilidade de acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 24
Vinhos brancos: 10
Portos & Madeiras: 6
Uísques: 8
Aguardentes portuguesas: 5
Outros dados
Charutos: Não
Estacionamento: parque nas proximidades
Levar crianças: sim
Bengaleiro: sim
Reserva: imprescindível à noite
Preço médio: 18 euros
RESTAURANTE TAMARIND
Rua da Glória, 43-45
1250-115 Lisboa
Tel: 21.3466 080 / 96.8866144
in Revista Notícias Sábado – 4 Novembro 2006
A pergunta tem toda a razão de ser em se tratando de gastronomias estranhas: será esta a verdadeira cozinha mexicana?, é esta a genuína comida indiana?, é fidedigna esta cozinha italiana?, será assim a verdadeira cozinha chinesa? Não esmoreça. Todos os dias faço a mesma pergunta – sobretudo, está bom de ver, nos dias em que sou levado (ou, mais raramente, quando sou eu que levo) a um restaurante marroquino, australiano, tailandês. Sou adepto do "desconhecido" em matéria de cozinha; não apenas do estranho, do longínquo, do exótico, do diferente. Esses adjectivos servem-me, mas o desconhecido também me interessa, e bastante. Línguas desconhecidas, pratos desconhecidos, misturas desconhecidas; espero sempre uma surpresa e um pecado nessas alturas.
Acontece-me, aliás, quando viajo experimentar por dever, mais até do que por curiosidade; um dever sem sacrifício, faço notar – um dever feito de perguntas. Nesse capítulo sigo as instruções nunca escritas de Anthony Bourdain e até alguns dos seus percursos – vou ao acaso. Comi em restaurantes indonésios à beira de caminhos desertos, em excelentes mesas argentinas, em tabernas mexicanas cheias de fumos, cozinhei com famílias onde pude fazê-lo. Qual o objectivo? Nenhum. Fazer apenas com que isso acontecesse; aproveitar a grandiosidade do mundo; gozar o momento; satisfazer a curiosidade. Nada de grandes antropologias ou etnologias.
No caso dos restaurantes indianos da capital há sempre a tentação de dizer que lhes devemos alguma coisa; e devemos: a tradição, o costume goês, as especiarias arrancadas do Oriente e, finalmente, os bons sabores que nos trazem. Grande parte dessas "cozinhas indianas" são de ascendência indo-portuguesa e só mais recentemente apareceram casas onde a designação "indiana" não significa "Norte de Moçambique" ou "indo-portuguesa" ou "goesa". Nada contra. Um desses lugares é o Tamarind, a dois passos da Avenida da Liberdade e da Praça da Alegria, na vetusta Rua da Glória, onde Hardev Walia, depois de uns tempos algarvios, nos serve menus cheios de serenidade e de reminiscências familiares.
A minha experiência foi muito boa (além de voltar a provar a cerveja 'Cobra' na sua versão de 660 ml) e a opção foi pelo menu do dia, a um preço muito aceitável de 9,5 euros e que incluía duas entradas vegetarianas, 'bajhies' de cebola e 'pokora' de couve-flor e batata - repeti as 'bajhies', fritinhos saborosos e muito indicados para entrada. Neste capítulo, das entradas, há ainda borrego em tandoori ('boti kebab') ou picado com cominhos ('neza kebab'), galinha marinada com ervas e natas (galinha 'tikka') e uma selecção de entradas de camarão e peixe ('tikki" de camarão, peixe masala, por exemplo), além de um misto de todas as entradas da casa. Depois disso, dividi 'karahi murgh' (galinha com cebola, pimento e tomate) e 'rogan gosh' (borrego estufado, com cominhos, tomate, pimentos) – na companhia da dose normal de pão nam (o pão ázimo indiano) e de arroz 'basmati'.
A escolha poderia ter-se encaminhado para um abundante cardápio de pratos vegetarianos (que inclui um suculento caril de vegetais ou dois pratos de lentilhas que provarei em próxima oportunidade, como 'turka dali' ou 'dali makhani'), ementa tandoori, ou seja, cozinhados em forno de barro (borrego e frango), alguns pratos de borrego ('saag ghost', com espinafres, caril, 'dhaniya keema', borrego picado) e de frango ('korma', com amêndoas e caju, 'makhani', com tomate e manteiga, 'tawa', com pimento e tomate, ou caril), além dos 'berya-ni', ou seja, arroz – os de borrego, galinha, vegetais ou marisco e peixe –, sem falar dos pratos de peixe e marisco.
No capítulo das sobremesas, optámos por uma 'delícia de manga' e por um gelado de natas - ambos a transitar pela fronteira do sublime, com aromas muito suaves, tranquilizadores, cheios de promessas. A carta de vinhos é curta mas bem escolhida e com vinhos de várias regiões.
Sai-se do Tamarind com a sensação de se ter viajado naquela salinha pequena, colorida, agradável.
À LUPA
Carta de vinhos: * *
Carta de digestivos: * *
Facilidade de acesso: * * *
Decoração: * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * * *
Mesa: * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 24
Vinhos brancos: 10
Portos & Madeiras: 6
Uísques: 8
Aguardentes portuguesas: 5
Outros dados
Charutos: Não
Estacionamento: parque nas proximidades
Levar crianças: sim
Bengaleiro: sim
Reserva: imprescindível à noite
Preço médio: 18 euros
RESTAURANTE TAMARIND
Rua da Glória, 43-45
1250-115 Lisboa
Tel: 21.3466 080 / 96.8866144
in Revista Notícias Sábado – 4 Novembro 2006
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