outubro 14, 2006

Scolari sem inimigos para se desculpar

1. Luiz Felipe Scolari diz - e bem - que os polacos "tive­ram uma disposição fantás­tica e uma grande capacida­de física" e que o jogo deles foi bom de ver. É simpático concordar com Scolari em matéria de futebol. Mas logo a seguir o treinador da se­lecção acha que os polacos só marcaram porque "come­temos erros". Juntamente com Fernando Santos, o gaúcho é um dos melhores do género a justificar derro­tas, embora fique a anos-luz do actual treinador do Benfica - Santos enreda-se em frases de graciosa engenha­ria que funcionam porque vencem qualquer um pelo cansaço; Scolari é directo como se estivesse em Passo Fundo; lá na serra: "Pô-, nada nos correu bem, tchê."

Acontece que "nada nos correu bem" porque Scolari está com sérias dificuldades em reorganizar uma equipa que ele não conhece e onde lhe falta o espírito de sacris­tia com que tem gosto em trabalhar: meninos arruma­dos e respeitosos, rapazes que se contentam em ouvir Roberto Leal a caminho do estádio e se comovem com os vídeos e power-points que "incentivam o grupo de trabalho". Acontece, além disso, que Scolari não tem, como teve durante o Euro, uma equipa-base (treinada por Mourinho) a guiar o fio de jogo e a que a sua teimo­sia se dobrou depois do primeiro jogo com a Grécia que resultou naquele 0-1 des­graçado. É bom ser um "trei­nador conservador" quando se tem matéria-prima (como ele tinha na época do Mun­dial da Coreia-Japão e, depois, no Euro), mas construir uma equipa é outra coisa. Por isso Nani entrou tarde de mais, por isso havia laterais que de­viam estar no miolo (como Deco), e havia gente no meio do campo que devia estar na ban­cada. Isso, Scolari não expli­cou, tchê. E agora não tem ini­migos para se desculpar. Aque­le silêncio incomoda-o.

2. Os sub-21 portaram-se como uns valentes. Sim, os rus­sos pareciam barqueiros do Volga; mas os portugueses de­ram a volta, e dar a volta é coisa rara por estes lados.

3. A Liga de Luís Filipe Vieira e Valentim Loureiro acabou com cenas lamentáveis, mas adequadas aos personagens. É bom que não se esqueça que aquilo foi obra destes dois cavalheiros.

4. Jesualdo Ferreira diz que o F. C. Porto não perde três vezes seguidas. Pode ser. Até agora, o F. C. Porto tem o melhor ataque do campeonato; o Braga tinha o nono, mas contava com uma defesa ao nível dos portistas, ex-aequo. O que significa que os rapazes se comportaram como uma manada durante a digestão, ruminando o jogo. A vantagem é que Jesualdo não é queixinhas quando tem razões de queixa – nomeadamente, a falta de agressividade, de bons pontas-de-lança ou de alguém para rematar como deve ser. Mas não pode anunciar melho­rias de jogo para jogo porque isso, caro Jesualdo, não se vê ainda. Pode ser esta semana, pode ser.

5. 0 que mais me assusta no F. C. Porto: o quarteto Quaresma, Anderson, Lucho e Helton - e o prejuízo da SAD.

in Topo Norte - Jornal de Notícias - 14 Outubro 2006