outubro 21, 2006

O profissionalismo

1. Não sei se os árbitros de­vem ou não profissionalizar-se mas, mesmo mantendo uma grande série de dúvidas e de suspeitas, aceito que ex­periências semelhantes se­jam positivas e vantajosas. Reconheço apenas que é ne­cessário que as arbitragens sejam melhores, que exista mais transparência nesse universo – e chego até a acei­tar que sejam introduzidas inovações de natureza tecno­lógica de modo a facilitar e a melhorar o trabalho dos árbi­tros. Isso é uma coisa. Inteira­mente diferente é a profissio­nalização dos árbitros, como entende o novo presidente da Liga de Clubes, contra a opi­nião da Federação. Ora, essa profissionalização custa di­nheiro. Quem deve pagá-la? Naturalmente, a Liga de Clu­bes.

Acontece que o secretário de Estado do Desporto afirmou, como é seu dever, que não ad­mite subsidiar essa profissio­nalização. Faz muito bem Laurentino Dias, partindo do princípio de que quem não tem dinheiro não tem vícios e de que só se pode ser "profis­sional" quando a profissão garante o salário. É evidente que os clubes podem pagar a arbitragem, mas não sei se es­tão dispostos a isso. Preferem ter os árbitros ao alcance da mão para se desculparem ou para arranjarem desculpas (o que são coisas diferentes). Se o presidente da Liga quer ár­bitros profissionais (no que eu antevejo algumas vantagens, como disse), então deve pa­gar-lhes para que eles se mantenham independentes,
sem estar à espera de eventuais e, a meu ver, inusitados apoios do governo. Nada tão simples.

2. A 6 de Maio passado, num Boavista - F. C. Porto, Ricardo Sil­va agrediu Anderson. Passados seis meses, esta semana, a co­missão de disciplina da Liga de­cidiu avançar com um castigo. Para exemplo de profissionalis­mo, já dá que pensar. Seis meses de profissionalismo. Mas que­rem melhor exemplo de profissio­nalismo na Liga de Clubes do que aquilo que aconteceu com o célebre "caso Mateus"?

3. Contra mim falo, que tinha os maiores receios acerca do re­gresso de Hélder Postiga. O miú­do das Caxinas entrou bem na época. Bruno Moraes está debai­xo de olho – será ele mais um dos pontas de que o F. C. Porto preci­sa?

4. Querem que fale do Sporting – F. C. Porto? Lamento, mas o meu coração só tem uma cor e é conhecida. Mentir para quê? Fingir que sou equidistante, porquê? Não vale a pena. Podia dizer que gostava de ver amanhã um bom jogo de futebol, cheio de "fair play", de elegância e de combatividade muito leal, e é verdade que esse é um bom desejo, gene­roso e louvável. Podia, de facto. Mas alguém ia acreditar? Tenho uma legião de amigos sportinguistas à espreita, vigilantes. Eles acham que eu devo ser "pro­fissional". Não percebem nada do assunto.

in Topo Norte – Jornal de Notícias – 21 Outubro 2006