Uma surpreendente elegância
1. O "Daily Telegraph" de ontem fazia o resumo do jogo das meias-finais na última página, ao fundo. No lugar nobre da página, a vitória de Federer no ténis e o pedido do Chelsea para que se investigue o cerco que o novo presidente do Real Madrid, Ramon Calderón, terá feito a Arjen Robben. Ressentimentos. Por que não pediu o Chelsea para investigar as negociações com Cristiano Ronaldo? Porque o "Telegraph" precisava de Ronaldo como personagem do seu artigo sobre as meias-finais. Agradeço, por mim Ronaldo foi a figura do jogo de anteontem, e a invocação do nome do miúdo continua a humilhar os ingleses de cada vez que eles pensam no seu fado - triste fado, aliás: o melhor futebol que eles fizeram foi contra Portugal. Por isso a desilusão inglesa foi maior. Nós compreendemos e gostamos. O futebol também é isso: humilhar a Inglaterra está entre o que dá sentido ao nosso jogo, de cada vez que nos encontramos. Devemos passar a amar a Inglaterra: a sua equipa nacional de futebol só nos dá alegrias. Amemos a Inglaterra. A Inglaterra é nossa amiga.
2. Michael Owen, o inglês do Newcastle, que saiu do Mundial com os ligamentos em frangalhos, questiona a validade dos penáltis para decidir uma eliminatória. É tarde. A Inglaterra que não se queixe; Eriksson estava surpreendido porque tinham treinado penáltis antes do jogo mas, na hora decisiva, falharam. Como se sabe, treinar penáltis não é tudo. É preciso ter um treinador como Fernando Brassard a afinar a técnica dos guarda-redes. É um trabalho de prestidigitação. Se a palavra é complicada, escolhamos outra é preciso merecer defender um penálti.
3. Os jogadores portugueses estavam tristes. Mas não havia neles a mágoa do ressentimento. Mesmo quando acusaram o árbitro uruguaio (esse, o estrábico) de práticas inconfessáveis, fizeram-no com uma surpreendente elegância, quase literária. Coisa de cavalheiros ao abandonar o salão de esgrima e guardar o florete no veludo. Em 2000, Figo despiu a camisola e, em 2002, João Pinto abraçou-se com os punhos a Angel Sanchez. É uma diferença substancial.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 7 Julho 2006
2. Michael Owen, o inglês do Newcastle, que saiu do Mundial com os ligamentos em frangalhos, questiona a validade dos penáltis para decidir uma eliminatória. É tarde. A Inglaterra que não se queixe; Eriksson estava surpreendido porque tinham treinado penáltis antes do jogo mas, na hora decisiva, falharam. Como se sabe, treinar penáltis não é tudo. É preciso ter um treinador como Fernando Brassard a afinar a técnica dos guarda-redes. É um trabalho de prestidigitação. Se a palavra é complicada, escolhamos outra é preciso merecer defender um penálti.
3. Os jogadores portugueses estavam tristes. Mas não havia neles a mágoa do ressentimento. Mesmo quando acusaram o árbitro uruguaio (esse, o estrábico) de práticas inconfessáveis, fizeram-no com uma surpreendente elegância, quase literária. Coisa de cavalheiros ao abandonar o salão de esgrima e guardar o florete no veludo. Em 2000, Figo despiu a camisola e, em 2002, João Pinto abraçou-se com os punhos a Angel Sanchez. É uma diferença substancial.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 7 Julho 2006
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