O velho Portugal faz bem ao Brasil
1. Hoje Portugal joga com a Alemanha. Uma vitória e, portanto, o terceiro lugar no Mundial, vinham coroar uma campanha muito razoável. O país ainda está cheio de bandeiras que ninguém escondeu depois das meias-finais; seria (para quem as teve sempre desfraldadas) um acto de covardia metê-las no baú ao primeiro desaire depois de cinco vitórias. O terceiro lugar é muito bom, o quarto lugar simpático.
2. Parece que o Brasil já tem novo treinador. Estará guardado no segredo por quanto tempo?
3. O interesse dos brasileiros pelo destino português no Mundial é comovente e cínico. Bares do Rio de Janeiro, pátios de São Paulo, botecos de Porto Alegre e terreiros de Salvador encheram-se para acompanhar as meias-finais. Está claro que o "ingrediente Scolari" era importante no país que caricaturou os portugueses como padeiros, donos de açougue e emigrantes que se recusavam a tomar banho. Há, no Brasil, uma interessante xenofobia antiportuguesa, que não deixa de ser compreensível ou simpática, cheia de anedotas sobre Maneis e Joaquins - muito diferente dos festejos que se fazem em Luanda de cada vez que os portugueses são derrotados. Há várias maneiras de contrariar o riso brasileiro sobre os portugueses; uma delas é contar anedotas sobre brasileiros. Eles ficam muito ofendidos porque se julgam os proprietários do humor e porque vêem Portugal como o país era há 50 anos ou mais, cheio de mulheres vestidas de preto e de vítimas do seu humor malandro e maldoso. Também aí Scolari foi o nosso trunfo. Felipão já tinha humilhado o eixo Rio-São Paulo, o futebol de Luxemburgo e Émerson Leão, e imposto a sua alma de gaúcho irascível, capaz de agredir jornalistas e de pôr Pelé no seu sítio. Quando Portugal ultrapassou o Brasil neste Mundial, o Brasil - cujos comentadores viveram excitados o Euro 2004 ao descobrirem que as portuguesas já não tinham bigode e mostravam umbigos mais libidinosos do que os de Ipanema - não teve outro remédio senão reconhecer a sua derrota diante do velho Portugal. Faz-lhes bem. Sobretudo se contratarem Scolari.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 8 Julho 2006
2. Parece que o Brasil já tem novo treinador. Estará guardado no segredo por quanto tempo?
3. O interesse dos brasileiros pelo destino português no Mundial é comovente e cínico. Bares do Rio de Janeiro, pátios de São Paulo, botecos de Porto Alegre e terreiros de Salvador encheram-se para acompanhar as meias-finais. Está claro que o "ingrediente Scolari" era importante no país que caricaturou os portugueses como padeiros, donos de açougue e emigrantes que se recusavam a tomar banho. Há, no Brasil, uma interessante xenofobia antiportuguesa, que não deixa de ser compreensível ou simpática, cheia de anedotas sobre Maneis e Joaquins - muito diferente dos festejos que se fazem em Luanda de cada vez que os portugueses são derrotados. Há várias maneiras de contrariar o riso brasileiro sobre os portugueses; uma delas é contar anedotas sobre brasileiros. Eles ficam muito ofendidos porque se julgam os proprietários do humor e porque vêem Portugal como o país era há 50 anos ou mais, cheio de mulheres vestidas de preto e de vítimas do seu humor malandro e maldoso. Também aí Scolari foi o nosso trunfo. Felipão já tinha humilhado o eixo Rio-São Paulo, o futebol de Luxemburgo e Émerson Leão, e imposto a sua alma de gaúcho irascível, capaz de agredir jornalistas e de pôr Pelé no seu sítio. Quando Portugal ultrapassou o Brasil neste Mundial, o Brasil - cujos comentadores viveram excitados o Euro 2004 ao descobrirem que as portuguesas já não tinham bigode e mostravam umbigos mais libidinosos do que os de Ipanema - não teve outro remédio senão reconhecer a sua derrota diante do velho Portugal. Faz-lhes bem. Sobretudo se contratarem Scolari.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 8 Julho 2006
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