O escrete ficou devendo
1. A minha vizinhança brasileira de noite e veio toda para a varanda gritar. Eu também gritei porque sou meio brasileiro. A minha filha, que vive no Brasil, telefonou-me logo de seguida lembrando que “ganhámos”, mas isto não augura nada de bom, com aquela defesa que parecia, não a rede, mas um buraco de rede (rasgado, de vez em quando, por túneis croatas), e aquele ataque que imitava vagamente múmias dançando mas evitando o essencial, que eram as bolas ao primeiro toque. “Ganhámos” é pouco. Como se diz no Brasil, o escrete ficou devendo futebol. Jogou malzinho, jogou deficiente – ou seja, sem eficácia. Ronaldo estacionado como um buda e Ronaldinho apenas um retrato do que costuma ser – mas aqui há um erro de estratégia, parece-me. Uma estratégia de Parreira, que parece tirada a papel químico da múmia Zagallo. Onde é que se viu o Brasil, aos oitenta minutos, a defender o resultado? Nem com Scolari, de quem agora têm saudades.
O Parreirão é um homem bom, mas vai ter problemas com a Austrália, que não tem créditos a haver do estrelato – ao contrário do escrete. O golaço de Kaká não redime a equipa, se bem que falte falar da Croácia, que merece aplauso: eles são bons de bola e têm juízo em campo.
À hora a que escrevo esta crónica, às onze da noite, há buzinadelas de entusiastas brasileiros pelas ruas – eles acreditam que têm os deuses do lado certo. Mas se continuarem assim em campo, pode ser que o fim seja triste. Falou o catastrofista.
2. A FIFA deve ter imposto uma disciplina qualquer à televisão, que não transmite repetições de boas jogadas. Já não falo de lances duvidosos, onde acredito que queira poupar os árbitros. Ontem, por exemplo, impediu-nos de ver aquela entrada em campo do torcedor croata e do voo encarpado seguido de salto mortal do “steward” alemão. Estava o homem dentro de campo, a rádio e os blogs online já falavam do assunto e a televisão como se não fosse nada. Estas transmissões bem-educadas, se me entendem, podem salvar a honra do convento, mas não são de fiar.
3. A França empatou. Foi bom. Dá sempre ânimo.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 14 Junho 2006
O Parreirão é um homem bom, mas vai ter problemas com a Austrália, que não tem créditos a haver do estrelato – ao contrário do escrete. O golaço de Kaká não redime a equipa, se bem que falte falar da Croácia, que merece aplauso: eles são bons de bola e têm juízo em campo.
À hora a que escrevo esta crónica, às onze da noite, há buzinadelas de entusiastas brasileiros pelas ruas – eles acreditam que têm os deuses do lado certo. Mas se continuarem assim em campo, pode ser que o fim seja triste. Falou o catastrofista.
2. A FIFA deve ter imposto uma disciplina qualquer à televisão, que não transmite repetições de boas jogadas. Já não falo de lances duvidosos, onde acredito que queira poupar os árbitros. Ontem, por exemplo, impediu-nos de ver aquela entrada em campo do torcedor croata e do voo encarpado seguido de salto mortal do “steward” alemão. Estava o homem dentro de campo, a rádio e os blogs online já falavam do assunto e a televisão como se não fosse nada. Estas transmissões bem-educadas, se me entendem, podem salvar a honra do convento, mas não são de fiar.
3. A França empatou. Foi bom. Dá sempre ânimo.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 14 Junho 2006
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