Margem mínima e Japão e Austrália
1. A julgar pelas reacções que recebi (o e-mail, essa invenção), todos teremos de ser patriotas até à última gota de sangue. Acho bem. Ai dos que duvidam, ai dos que protestam ou desconfiam – há uma legião de embevecidos, que já ganharam o “reyno dos céos”, que está disposta a tudo para defender as cores da Pátria, mesmo quando os seus representantes jogam medianamente (isto é um eufemismo; na verdade, eles jogaram mal). E Figo, além disso, enganou-nos: as vitórias pela margem mínima (além da Argentina, temos o caso evidente da medíocre Inglaterra, mediocremente dirigida para fazer um futebol medíocre, mauzinho) não são assim tão abundantes. Olhem o Equador, olhem a Alemanha, olhem o México, olhem a Austrália e a Itália. Mas se estão contentes com a “margem mínima”, tudo bem; nós somos apenas os “doidos da bola”. Nem treinadores de bancada. Fiquem com a margem mínima.
2. Por falar em margem mínima, eu gosto de Zico. Gostei sempre, mesmo na derrota de Zico ao lado de Sócrates, quando aquela selecção de futebol bailarino achou que podia ganhar tudo e perdeu contra a Itália do futebol à Scolari. Portanto, Zico: também gostei de ver como riu (com gosto) ao ver o golo de Nakamura, depois da faltinha sobre o guarda-redes australiano. Mas o destino é como o deserto australiano: vem longe. Aos 83 minutos Cahill parecia voar sobre “aquele grande recife de coral” – Guus Hiddink não faz o meu futebol, mas gosto do estilo. Em dez minutos, a vitória de Zico desapareceu como a poeira. Nós já fizemos o mesmo diante da Inglaterra, evidentemente, mas nessa altura não falávamos de margem mínima. Gosto, como se diz no Brasil, de vitórias “de virada” – aquele repente que dá a jogadores inconformados com o destino e com a margem mínima, que nunca chega para satisfazer derreados do espírito. Apreciei a combatividade da Austrália, como a do Equador, esses heróis que venceram Brasil e Argentina há uns anos. Aquele futebol não era prático – mas respirava por todo o lado. Não queria saber de margem mínima nem recuava para o esquema do Portugal-Grécia. Está dito.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 13 Junho 2006
2. Por falar em margem mínima, eu gosto de Zico. Gostei sempre, mesmo na derrota de Zico ao lado de Sócrates, quando aquela selecção de futebol bailarino achou que podia ganhar tudo e perdeu contra a Itália do futebol à Scolari. Portanto, Zico: também gostei de ver como riu (com gosto) ao ver o golo de Nakamura, depois da faltinha sobre o guarda-redes australiano. Mas o destino é como o deserto australiano: vem longe. Aos 83 minutos Cahill parecia voar sobre “aquele grande recife de coral” – Guus Hiddink não faz o meu futebol, mas gosto do estilo. Em dez minutos, a vitória de Zico desapareceu como a poeira. Nós já fizemos o mesmo diante da Inglaterra, evidentemente, mas nessa altura não falávamos de margem mínima. Gosto, como se diz no Brasil, de vitórias “de virada” – aquele repente que dá a jogadores inconformados com o destino e com a margem mínima, que nunca chega para satisfazer derreados do espírito. Apreciei a combatividade da Austrália, como a do Equador, esses heróis que venceram Brasil e Argentina há uns anos. Aquele futebol não era prático – mas respirava por todo o lado. Não queria saber de margem mínima nem recuava para o esquema do Portugal-Grécia. Está dito.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 13 Junho 2006
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