Menos ais, rapazes
Comecei a ver o jogo com dois angolanos, um deles por telefone - e acabei rodeado por uns bons milhões que até aplaudiriam Mendonça, Locó e Mantorras. Como foi isto acontecer? Bom, eu sei por causa dos críticos e por causa da imprensa, naturalmente (como disse Figo, o melhor do jogo); esses é que estragam sempre tudo. Um dos cavalheiros que anda nas rádios (desses que já apanhou um torcicolo por andar a dizer "sim senhor, sim senhor") bem lembrava, no final do jogo: devemos estar imbuídos "do espírito".
Ora, o espírito, se me percebem, estava lá: bandeirinhas nos carros, nas varandas, nas praias - mas o corpo, em Colónia, não correspondeu ao esforço do "espírito". Sim, ficámos com os três pontos, que era o fundamental.
Figo (o melhor do jogo) refilou, no fim "Não sei do que é que estavam à espera." Pois eu digo-lhe, caro Figo (o melhor do jogo): esperávamos uma equipa que deixasse de estar nervosinha por ser o primeiro jogo; esperávamos uma equipa que triunfasse claramente e não deixasse dúvidas depois de uma campanha patriótica em que os críticos foram tratados como se tivessem sarna; esperávamos uma equipa com estrelas capazes de ganhar a jogadores do Varzim, do Barreirense, do Paços de Ferreira, do Moreirense ou mesmo sem equipa; esperávamos uma equipa que jogasse melhor do que jogou frente ao Luxemburgo ou ao Liechtenstein; esperávamos uma equipa que, além de ganhar, não nos deixasse a desconfiar. Era disso que estávamos à espera.
Não, não queríamos que a nossa equipa jogasse tão bem como a do Equador ou a da Argentina (desculpe-me, caro Figo, o melhor em campo, esta franqueza de portuga humilde) - mas queríamos que não fosse assobiada em campo. Queríamos não ter esta impressão de ter ganho só por um. Não se zangue. Você, Figo foi o melhor em campo. Repito isto quantas vezes for preciso para que não se zangue e não faça essa cara de quem nunca é compreendido ou tem problemas de azia.
Se nós pedimos qualquer coisa mais do que aquilo que a equipa jogou, não é para sermos chatos, infiéis, descrentes, pessimistas - é para lhes dizermos, a esses que jogam com a nossa camisola, que esperávamos mais. Muito mais dos que os três pontos.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 12 Junho 2006
Ora, o espírito, se me percebem, estava lá: bandeirinhas nos carros, nas varandas, nas praias - mas o corpo, em Colónia, não correspondeu ao esforço do "espírito". Sim, ficámos com os três pontos, que era o fundamental.
Figo (o melhor do jogo) refilou, no fim "Não sei do que é que estavam à espera." Pois eu digo-lhe, caro Figo (o melhor do jogo): esperávamos uma equipa que deixasse de estar nervosinha por ser o primeiro jogo; esperávamos uma equipa que triunfasse claramente e não deixasse dúvidas depois de uma campanha patriótica em que os críticos foram tratados como se tivessem sarna; esperávamos uma equipa com estrelas capazes de ganhar a jogadores do Varzim, do Barreirense, do Paços de Ferreira, do Moreirense ou mesmo sem equipa; esperávamos uma equipa que jogasse melhor do que jogou frente ao Luxemburgo ou ao Liechtenstein; esperávamos uma equipa que, além de ganhar, não nos deixasse a desconfiar. Era disso que estávamos à espera.
Não, não queríamos que a nossa equipa jogasse tão bem como a do Equador ou a da Argentina (desculpe-me, caro Figo, o melhor em campo, esta franqueza de portuga humilde) - mas queríamos que não fosse assobiada em campo. Queríamos não ter esta impressão de ter ganho só por um. Não se zangue. Você, Figo foi o melhor em campo. Repito isto quantas vezes for preciso para que não se zangue e não faça essa cara de quem nunca é compreendido ou tem problemas de azia.
Se nós pedimos qualquer coisa mais do que aquilo que a equipa jogou, não é para sermos chatos, infiéis, descrentes, pessimistas - é para lhes dizermos, a esses que jogam com a nossa camisola, que esperávamos mais. Muito mais dos que os três pontos.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 12 Junho 2006
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