À minha maneira
É um clássico da Linha de Cascais. No Inverno, jantares acolhedores. No Verão, tranquilo e dedicado ao mar. Tem uma lareira fantástica.
Onde se vai jantar quando se está "a meio da marginal" e a disposição é a de uma comida clássica, sem grandes aventuras, num restaurante com serviço mais do que correcto? Felizmente, já há muitos lugares que obedecem a esse quadro, "a meio da marginal", sem necessidade de chegar a Cascais e de nos metermos pelo Guincho (onde iremos um destes dias). Um desses lugares é O Toscano. Mais vale dizê-lo logo para evitar que o leitor consulte o guia.
Há, na verdade, uma serie de restaurantes cujo brilho & glória assenta nessa característica que, por vezes, me é muito simpática: não acrescenta grandes novidades à história da gastronomia, não fervilha de novidades nem de "gente conhecida", não nos distrai deliberadamente com propostas gentis do novo dicionário da cozinha internacional (fatias de cherne com perfume de figo, tomate confitado e uma poeira de gengibre), apresenta peixe onde quer mostrar peixe, chama grelos salteados a um bom molho de grelos salteados, o bife geralmente é só bife, as sobremesas estão carregadas de sugestões pecaminosas com nomes vulgares (papos-de-anjo, trouxas-de-ovos, arroz-doce ou farófias) e o serviço combina maravilhosamente o estilo dos antigos criados de mesa com a familiaridade que se manifesta mais em gestos simpáticos do que em ademanes que não temos coragem de explicar ao resto da família. Nisto, convém relembrar os velhos restaurantes que souberam acompanhar a evolução dos gostos médios sem grande dificuldade em sobreviver e manter acesa a chama dos seus fogões. Ora, a relação que se mantém com O Toscano ao final da segunda visita é já a de familiaridade, justamente. Aqueles senhores circulam de mesa em mesa, atentos, ajeitam um copo, renovam os níveis de agua e de vinho, trocam de cinzeiro, sugerem um nadinha de arroz para terminar as gambas panadas, piscam o olho com o atrevimento de quem sabe que uma aguardente "daquelas" vem a propósito, propõem o segundo cafezinho se a conversa esta demorada. Enfim, é um restaurante à antiga. Isso agrada-me também. A comida agrada-me, mas esses pormenores (a rosa oferecida às senhoras, à saída, já foi mais comovente do que hoje, mas é sempre uma coisa que aparece depois no 'tablier' do carro) são mais do que um agrado num meio em que há muita desatenção. Mas que o leitor não julgue que eu vou a um restaurante apenas para ser bem tratado, não.
A ementa do Toscano tem aquela modernidade dos anos setenta (a casa abriu em 1972) onde espargos brancos ainda são sinónimo de grandeza e umas gambas fritas com alho merecem que se contemple o seu molho com níveis ancestrais de colesterol e devassidão. Este tom prolonga-se ate à carta dos peixes que apresenta o toque ligeiramente exótico (há trinta anos, certamente) de um caril de gambas à moda de Java, mas que nos salva de seguida com peixes frescos e bem grelhados (robalo, dourada, garoupa, salmonete, linguado), além daquilo que são já ex-libris da sua ementa: os filetes de pescada com arroz de marisco; as gambas panadas, de crosta decidida, também com arroz de marisco (onde há lombinhos generosos), e aquelas ovas de pescada deliciosas (fritas ou cozidas), tenras, em que o garfo pousa para quebrar o feitiço da sua pele imaculada. Já não há ovas assim. O peixe que vai ao forno em pão também é recomendável.
Nas carnes, segue-se o mesmo estilo, com modéstia de imaginação: as 'noisettes' de lombo de novilho no espeto, as carnes grelhadas (manta de porco Pata Negra, espetadas, lombo de javali) acompanham, no estilo, seduções clássicas como o tournedó ou os medalhões com cogumelos, o arroz de pato, a lebre ou coelho com arroz malandrinho ou sugestões de época (nos peixes, a lampreia, que é boa; nas carnes, o veado, que não prove!, o cabrito que aparece a espaços e umas costeletas de borrego suculentas). Quando vem o carrinho de sobremesas já estamos de estômago disciplinado e convertido: olhamos para ele com ternura e compreensão: pudim excelente, farófias muito boas, sericaia apetitosa. Os adjectivos são assim: simples, directos e clássicos, como O Toscano.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * *
Acesso: * * *
Decoração: * *
Serviço: * * * *
Acolhimento: * * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado * * * *
Garrafeira
Tintos: 168
Brancos: 52
Verdes e Alvarinhos: 9
Espumantes e Champagnes: 12
Aguardentes Portuguesas: 14
Portos e Madeiras: 16
Uísques: 34
Cervejas: 8
Outros dados
Charutos: SIM
Estacionamento: Parque privativo
Levar crianças: Sim
Bengaleiro: Sim
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio: 30 Euros
O TOSCANO
Praça Barbosa de Magalhães, 2
2775-162 Parede
Tel: 214 582 020 - 214 572894
Encerra à 2.ª feira
in Revista Notícias Sábado - 11 Fevereiro 2006
Onde se vai jantar quando se está "a meio da marginal" e a disposição é a de uma comida clássica, sem grandes aventuras, num restaurante com serviço mais do que correcto? Felizmente, já há muitos lugares que obedecem a esse quadro, "a meio da marginal", sem necessidade de chegar a Cascais e de nos metermos pelo Guincho (onde iremos um destes dias). Um desses lugares é O Toscano. Mais vale dizê-lo logo para evitar que o leitor consulte o guia.
Há, na verdade, uma serie de restaurantes cujo brilho & glória assenta nessa característica que, por vezes, me é muito simpática: não acrescenta grandes novidades à história da gastronomia, não fervilha de novidades nem de "gente conhecida", não nos distrai deliberadamente com propostas gentis do novo dicionário da cozinha internacional (fatias de cherne com perfume de figo, tomate confitado e uma poeira de gengibre), apresenta peixe onde quer mostrar peixe, chama grelos salteados a um bom molho de grelos salteados, o bife geralmente é só bife, as sobremesas estão carregadas de sugestões pecaminosas com nomes vulgares (papos-de-anjo, trouxas-de-ovos, arroz-doce ou farófias) e o serviço combina maravilhosamente o estilo dos antigos criados de mesa com a familiaridade que se manifesta mais em gestos simpáticos do que em ademanes que não temos coragem de explicar ao resto da família. Nisto, convém relembrar os velhos restaurantes que souberam acompanhar a evolução dos gostos médios sem grande dificuldade em sobreviver e manter acesa a chama dos seus fogões. Ora, a relação que se mantém com O Toscano ao final da segunda visita é já a de familiaridade, justamente. Aqueles senhores circulam de mesa em mesa, atentos, ajeitam um copo, renovam os níveis de agua e de vinho, trocam de cinzeiro, sugerem um nadinha de arroz para terminar as gambas panadas, piscam o olho com o atrevimento de quem sabe que uma aguardente "daquelas" vem a propósito, propõem o segundo cafezinho se a conversa esta demorada. Enfim, é um restaurante à antiga. Isso agrada-me também. A comida agrada-me, mas esses pormenores (a rosa oferecida às senhoras, à saída, já foi mais comovente do que hoje, mas é sempre uma coisa que aparece depois no 'tablier' do carro) são mais do que um agrado num meio em que há muita desatenção. Mas que o leitor não julgue que eu vou a um restaurante apenas para ser bem tratado, não.
A ementa do Toscano tem aquela modernidade dos anos setenta (a casa abriu em 1972) onde espargos brancos ainda são sinónimo de grandeza e umas gambas fritas com alho merecem que se contemple o seu molho com níveis ancestrais de colesterol e devassidão. Este tom prolonga-se ate à carta dos peixes que apresenta o toque ligeiramente exótico (há trinta anos, certamente) de um caril de gambas à moda de Java, mas que nos salva de seguida com peixes frescos e bem grelhados (robalo, dourada, garoupa, salmonete, linguado), além daquilo que são já ex-libris da sua ementa: os filetes de pescada com arroz de marisco; as gambas panadas, de crosta decidida, também com arroz de marisco (onde há lombinhos generosos), e aquelas ovas de pescada deliciosas (fritas ou cozidas), tenras, em que o garfo pousa para quebrar o feitiço da sua pele imaculada. Já não há ovas assim. O peixe que vai ao forno em pão também é recomendável.
Nas carnes, segue-se o mesmo estilo, com modéstia de imaginação: as 'noisettes' de lombo de novilho no espeto, as carnes grelhadas (manta de porco Pata Negra, espetadas, lombo de javali) acompanham, no estilo, seduções clássicas como o tournedó ou os medalhões com cogumelos, o arroz de pato, a lebre ou coelho com arroz malandrinho ou sugestões de época (nos peixes, a lampreia, que é boa; nas carnes, o veado, que não prove!, o cabrito que aparece a espaços e umas costeletas de borrego suculentas). Quando vem o carrinho de sobremesas já estamos de estômago disciplinado e convertido: olhamos para ele com ternura e compreensão: pudim excelente, farófias muito boas, sericaia apetitosa. Os adjectivos são assim: simples, directos e clássicos, como O Toscano.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * *
Acesso: * * *
Decoração: * *
Serviço: * * * *
Acolhimento: * * * *
Mesa: * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado * * * *
Garrafeira
Tintos: 168
Brancos: 52
Verdes e Alvarinhos: 9
Espumantes e Champagnes: 12
Aguardentes Portuguesas: 14
Portos e Madeiras: 16
Uísques: 34
Cervejas: 8
Outros dados
Charutos: SIM
Estacionamento: Parque privativo
Levar crianças: Sim
Bengaleiro: Sim
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio: 30 Euros
O TOSCANO
Praça Barbosa de Magalhães, 2
2775-162 Parede
Tel: 214 582 020 - 214 572894
Encerra à 2.ª feira
in Revista Notícias Sábado - 11 Fevereiro 2006
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