fevereiro 05, 2011

Um relâmpago

Não é uma catástrofe perder por 0-2. Seja como for, o campeonato continua. Mas, confesso, merece uma zanga. Se bem me lembro – e a coisa não merece grandes recordações salvo para efeitos pedagógicos –, houve uma ou duas oportunidades de golo desperdiçadas, o que é manifestamente pouco. Quanto aos golos sofridos, não se entende como aconteceram esses – e mal se entende como a defesa reagiu em bicos de pés em situações que exigiam resistência e combate. Combate, precisamente, que foi o que não existiu – em vez disso houve cerimónia a mais antes e depois do primeiro golo e contemporização depois do segundo.

Mesmo concordando com André Villas-Boas na ideia de que é possível “dar a volta ao resultado” (é sempre, excepto quando se trata de 0-5 ou 0-7, se me faço entender), é necessário fazer mais do que ter fé. É necessário preparar o mês de Abril. É necessário pôr jogadores a jogar; é necessário recuperar energias mas, sobretudo (ah, sublinhem a palavra “sobretudo”), colocá-las em campo. Por exemplo – e por muito que isto irrite André Villas-Boas (que acha preconceito pedir um ponta-de-lança), é possível marcar golos quando não há goleadores em campo? É; mas não parece provável. E vendo Falcao e Walter nas bancadas, não sei o que lhes diga.

Mas isto são pormenores. Há jogos assim e jogos assado; há jogos que se ganham por pura inteligência e jogos que se perdem por intranquilidade; numa carreira de 30 jogos e apenas duas derrotas nada está perdido e nada está decidido. Um 0-2 na Luz é limpinho.

Quanto à derrota propriamente dita, Villas-Boas e a equipa têm a obrigação de compreender que há derrotas valiosas e inesperadas que fortificam o carácter e ajudam a emendar a mão. Esperemos que esta se possa incluir nesse número. Há outros factores, decerto; a condição física tem os seus deslizes, a inteligência emocional as suas distracções – mas é nesses momentos que um relâmpago deve anunciar o caminho.

in A Bola - 5 Fevereiro 2011

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