Risco, talento
Há três anos, o jornalista José Carlín pedia, no diário espanhol El Pais, que o Real Madrid (ou o Barça) contratasse José Mourinho. E para quê?, pergunta o leitor. Para dar animação ao futebol espanhol e para transformar todos os jogos em espectáculo. Cito (estávamos em Dezembro de 2007): “Com as suas sandices engenhosas e com essa arrogância de deus grego que transporta para todo o lado, ele acrescentaria um valor incomensurável ao maior espectáculo da Terra.” Menos de três anos depois, o Real Madrid fez-lhe a vontade, se bem que as condições sejam já diferentes. Mas, para o espectador, que bilhete bem pago.
Muitos e leitores, certamente amáveis e sensatos, acham que não é preciso isso. Como não são precisos bons jogadores. Basta – ouço isto sempre nos fóruns das rádios e nos comentários televisivos – que se jogue “para a equipa” e que “o grupo de trabalho” esteja “unido”. Sinceramente, é conversa da treta. Para quem há-de jogar um futebolista talentoso quando joga bem e quando é bem servido? Para a equipa. Muitos pensam que as alas do FC Porto podem melhorar desde que Hulk seja posto na ordem – André Villas-Boas também referiu que era preciso acabar com os malabarismos (e toda a gente leu: Hulk). Não creio. No jogo com o Ajax foi um malabarismo que deu o golo a James. Quaresma era acusado de malabarista – até que Jesualdo o deixou dançar flamenco e ensinar aos adversários o que era uma trivela em pleno estádio da Luz.
Bons treinadores para quê? Basta um psicólogo de algibeira, como Scolari. Bons jogadores para quê? Não sei se repararam – mas as declarações de José Mourinho sobre Cristiano Ronaldo explicam melhor: “Quero um esquema táctico onde Ronaldo se sinta como um peixe na água para ser o melhor.” Ou seja: aproveitar o seu talento e não esmagá-lo, como fez a selecção. A inveja e o desejo de humilhar os melhores transformou Portugal num país ressentido que odeia as excepções e tem horror ao “quadro de honra”. Está a faltar arrojo ao nosso futebol, cheio de mestres-escola com medinho do risco.
in A Bola - 24 Julho 2010
Muitos e leitores, certamente amáveis e sensatos, acham que não é preciso isso. Como não são precisos bons jogadores. Basta – ouço isto sempre nos fóruns das rádios e nos comentários televisivos – que se jogue “para a equipa” e que “o grupo de trabalho” esteja “unido”. Sinceramente, é conversa da treta. Para quem há-de jogar um futebolista talentoso quando joga bem e quando é bem servido? Para a equipa. Muitos pensam que as alas do FC Porto podem melhorar desde que Hulk seja posto na ordem – André Villas-Boas também referiu que era preciso acabar com os malabarismos (e toda a gente leu: Hulk). Não creio. No jogo com o Ajax foi um malabarismo que deu o golo a James. Quaresma era acusado de malabarista – até que Jesualdo o deixou dançar flamenco e ensinar aos adversários o que era uma trivela em pleno estádio da Luz.
Bons treinadores para quê? Basta um psicólogo de algibeira, como Scolari. Bons jogadores para quê? Não sei se repararam – mas as declarações de José Mourinho sobre Cristiano Ronaldo explicam melhor: “Quero um esquema táctico onde Ronaldo se sinta como um peixe na água para ser o melhor.” Ou seja: aproveitar o seu talento e não esmagá-lo, como fez a selecção. A inveja e o desejo de humilhar os melhores transformou Portugal num país ressentido que odeia as excepções e tem horror ao “quadro de honra”. Está a faltar arrojo ao nosso futebol, cheio de mestres-escola com medinho do risco.
in A Bola - 24 Julho 2010
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