fevereiro 01, 2008

Blog # 20

O português de antigamente era poupado, juntava moedas, sabia de economia doméstica, passajava as meias e sabia o que eram meias-solas. O mundo mudou radicalmente mas sobreviveram os certificados de aforro, uma instituição conservadora feita à medida de portugueses conservadores e timoratos, que desconfiavam da Bolsa e dos fundos especiais negociados pelos bancos. O mundo flutuava; os certificados eram sólidos. Não é preciso perceber de economia e Finanças para detectar a marosca, que vinha na primeira página do CM de ontem: “Governo tira 144 milhões a aforradores”. Foi-lhes ao bolso, como costuma? Não. Foi aos certificados, uma coisa fácil de subscrever e um incentivo à poupança efectiva – para o dia de amanhã, para os anos de intempérie. Baixou 0,8% os juros e ficou com 144 milhões para combater o défice e financiar os seus gastos. A Banca e o Governo agradecem em conjunto, desafiando o espírito comezinho dos portugueses que conheciam a palavra “poupança”.

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O escritor Paulo Coelho tem um blogue onde faz pirataria dos seus próprios livros. Ele confessou, ao ‘The Guardian’, que se faz passar por fã de si mesmo e, assim, ajuda a vender mais Paulo Coelho. Não é esquizofrenia mas apenas um homem com uma vida dupla: nos seus livros intruja os leitores; no blogue intruja-se a si mesmo.

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- Em Maio, a Dom Quixote vai publicar ‘Perdido de Volta’, de Miguel Gullander, um luso-sueco que vive em Benguela. O livro já saiu no Brasil.

- Documentário, quase, e chocante: ‘Massacres em África’, de Felícia Cabrita (edição Esfera dos Livros), é uma viagem pela violência antes e depois das independências. Um retrato cruel.

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