Sem talento não há golos
1. Para que não me acusem de ingrato foi uma posição muito razoável neste mundial. Portugal está entre as quatro primeiras selecções. O investimento realizado, o entusiasmo, a pequena ditadura - tudo isso resultou. Não sou ingrato. Nada a dizer. A derrota de ontem não foi nenhuma catástrofe.
2. Schweinsteiger fez de Portugal um arremedo melhorado do Liechtenstein (quando Portugal empatou com o Liechtenstein, como se recordam) três tiros, três golos. Várias múmias lá à frente, foi um futebolzinho pouco prático diante da Alemanha; nesta matéria limito-me a dizer que esperava mais da equipa: mais eficácia (a palavra de ordem, se se recordam), mais futebol ofensivo, mais carácter e, claro, menos golos sofridos. Mas é a vida. Está feito.
3. Eu acredito que Ronaldo queria entrar na baliza dos alemães; se não fosse a dar toques, pelo menos de tiraço do bico da área ou até de maca, se fosse preciso. Aqueles assobios entusiasmaram-me. Se eles tivessem assobiado a Scolari, ter-me-iam visto no sofá da sala (cabeceando, cheio de sono, é certo) a chamar-lhe nosso. Para assobiar os nossos, só nós temos verdadeira competência e autoridade moral. O rapaz que se atire ao chão quantas vezes quiser e que continue a dançar sobre a bola.
4. E Figo entrou no final a fazer o passe para Nuno Gomes (por momentos ainda temi que o casmurro metesse Postiga) barba por fazer, arrancado à sesta, despenteado, quase estremunhado, lá foram buscá-lo para tentar fazer alguma coisa. E ele fez. Figo, como Ronaldo, é a prova de que não vão conseguir impor aquele futebol sem arte, sem imaginação e sem originalidade (o da Inglaterra, por exemplo). Pode haver "espírito de grupo" (como os peregrinos à Santa), "união no grupo de trabalho" (como se fosse uma comissão excursionista) e até burrice promovida a estratégia ganhadora - mas sem talento não há golos. Por isso foram arrancar Figo ao divã: porque, a dez minutos do fim, precisavam de futebol. Apesar de haver gente satisfeita por ver equipas bípedes transformadas em quadrúpedes.
5. Hoje, na final, vou pedir a derrota dos dois.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 9 Julho 2006
2. Schweinsteiger fez de Portugal um arremedo melhorado do Liechtenstein (quando Portugal empatou com o Liechtenstein, como se recordam) três tiros, três golos. Várias múmias lá à frente, foi um futebolzinho pouco prático diante da Alemanha; nesta matéria limito-me a dizer que esperava mais da equipa: mais eficácia (a palavra de ordem, se se recordam), mais futebol ofensivo, mais carácter e, claro, menos golos sofridos. Mas é a vida. Está feito.
3. Eu acredito que Ronaldo queria entrar na baliza dos alemães; se não fosse a dar toques, pelo menos de tiraço do bico da área ou até de maca, se fosse preciso. Aqueles assobios entusiasmaram-me. Se eles tivessem assobiado a Scolari, ter-me-iam visto no sofá da sala (cabeceando, cheio de sono, é certo) a chamar-lhe nosso. Para assobiar os nossos, só nós temos verdadeira competência e autoridade moral. O rapaz que se atire ao chão quantas vezes quiser e que continue a dançar sobre a bola.
4. E Figo entrou no final a fazer o passe para Nuno Gomes (por momentos ainda temi que o casmurro metesse Postiga) barba por fazer, arrancado à sesta, despenteado, quase estremunhado, lá foram buscá-lo para tentar fazer alguma coisa. E ele fez. Figo, como Ronaldo, é a prova de que não vão conseguir impor aquele futebol sem arte, sem imaginação e sem originalidade (o da Inglaterra, por exemplo). Pode haver "espírito de grupo" (como os peregrinos à Santa), "união no grupo de trabalho" (como se fosse uma comissão excursionista) e até burrice promovida a estratégia ganhadora - mas sem talento não há golos. Por isso foram arrancar Figo ao divã: porque, a dez minutos do fim, precisavam de futebol. Apesar de haver gente satisfeita por ver equipas bípedes transformadas em quadrúpedes.
5. Hoje, na final, vou pedir a derrota dos dois.
in "Topo Norte", Jornal de Notícias - 9 Julho 2006
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