Um líder
André Villas-Boas apresentou-se esta semana como treinador do Chelsea. Na sessão oficial, ou logo depois dela, dirigiu algumas palavras ao FC Porto – dizendo que o clube “continuaria a ganhar”. É o desejo natural de um portista, evidentemente; no caso de Villas-Boas é também o desejo natural de quem tem alguns problemas de consciência e deseja que nenhuma tormenta afecte, ou agrave, o seu sentimento de culpa depois de ter abandonado o emblema a que há pouco tempo jurara amor por mais uma época, pelo menos, e em cuja cadeira se sentia bem e feliz. Os adeptos do clube sentiram o acto como uma traição – e Villas-Boas sabe que têm razão. Ao contrário do que acontece no universo das grandes transacções do futebol, o mundo dos clubes vive de dedicações extraordinárias e de sentimentos de euforia. Por pouco, às vezes: por uma frase, por um gesto, um sorriso. Independentemente do que aqui escrevi na semana passada, os adeptos tinham direito a prolongar esse sentimento. Mas, como disse, no universo das grandes transacções do futebol, as coisas não se passam assim. A oportunidade de André Villas-Boas treinar o Chelsea veio no pior momento para o FC Porto e a solução para este dilema só será encontrada quando Chelsea e FC Porto se defrontarem e o azul e branco portista derrotar os “blues” londrinos. Esse seria um gesto de reparação romântico, é verdade; mas só assim os que se sentiram traídos pelo abandono de Villas-Boas (ainda por cima se é verdade que a questão não era monetária, como o próprio garantiu, ao dizer que o FC Porto cobria a oferta do Chelsea) sentiriam que havia alguma justiça no futebol (e não no universo das grandes transacções do futebol…).
A herança de Vítor Pereira é, portanto, pesada e, até ver, limitada pelas dúvidas naturais dos adeptos – como eu. Tem uma tarefa enorme, vastíssima, pela frente. E, urgentemente, nesta pré-época, precisa de dar um sinal. O sinal de que entendeu a mensagem, que pode até não ser simpática para Villas-Boas. Um líder é assim.
in A Bola - 2 Julho 2011
A herança de Vítor Pereira é, portanto, pesada e, até ver, limitada pelas dúvidas naturais dos adeptos – como eu. Tem uma tarefa enorme, vastíssima, pela frente. E, urgentemente, nesta pré-época, precisa de dar um sinal. O sinal de que entendeu a mensagem, que pode até não ser simpática para Villas-Boas. Um líder é assim.
in A Bola - 2 Julho 2011
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