Bela decadência
Foram exageradíssimas as notícias sobre a “decadência esperada” do FC Porto, anunciada em surdina ou com megafone de feira; de repente, quem ouvisse alguns comentadores, parecer-lhe-ia que o FC Porto estava em segundo no campeonato e que André Villas-Boas gastava um dinheirão em pastilha elástica. Não era assim; não só o jogo com o Braga mostrou uma atitude tranquila, um grande domínio de bola, uma respiração equilibrada — como, além disso, a viagem de ontem foi muito proveitosa. Os derradeiros vinte minutos do jogo de Braga foram de controle absoluto, de preparação para Sevilha; mostraram que o espectáculo é bom, sim, mas é infinitamente melhor quando termina a nosso favor e se pode dançar a contento.
Veja-se o jogo de ontem: o que vale um golo? Às vezes, tudo. O futebol depende de insistência, de sorte e de inteligência (o talento é para os jogadores). Para quem assistiu à primeira parte do Sevilha-FC Porto, a sensação poderia ser a de ter entrado no portal da previsível nervoseira, se bem que os primeiros minutos fossem originais porque puseram o FC Porto a defender numa posição original, ao pé da baliza andaluza. Por isso, um golo vale quase tudo, marcado com manha aos 83 minutos – não por ser nosso, mas porque foi escrito daquela maneira. O golo de Guarín arrumou a questão com a precisão de um instrumentista. É assim a música do futebol: um golo destes, a bola sem parar e direitinha àquele lugar. Pelo meio, o público já batia palmas em compasso, a acompanhar Kanoué – que relembrem a lição do flamenco, quando se quer saber se ganha o “cantaor” ou o “bailaor”; é preciso esperar pela manha do que souber improvisar melhor.
Mas não foi apenas de futebol que viveu a semana futebolística: também de delírio. A campanha, reconheço, é bem montada, mastigando ressentimentos contra o FC Porto e inventando arbitragens que não aconteceram. Uma coisa é ter mau perder; outra é ter mau ganhar. Ganhar um jogo e viver cada vitória como uma vingança e uma ameaça dá uma ideia sobre o carácter dos ressentidos.
in A Bola - 19 Fevereiro 2011
Veja-se o jogo de ontem: o que vale um golo? Às vezes, tudo. O futebol depende de insistência, de sorte e de inteligência (o talento é para os jogadores). Para quem assistiu à primeira parte do Sevilha-FC Porto, a sensação poderia ser a de ter entrado no portal da previsível nervoseira, se bem que os primeiros minutos fossem originais porque puseram o FC Porto a defender numa posição original, ao pé da baliza andaluza. Por isso, um golo vale quase tudo, marcado com manha aos 83 minutos – não por ser nosso, mas porque foi escrito daquela maneira. O golo de Guarín arrumou a questão com a precisão de um instrumentista. É assim a música do futebol: um golo destes, a bola sem parar e direitinha àquele lugar. Pelo meio, o público já batia palmas em compasso, a acompanhar Kanoué – que relembrem a lição do flamenco, quando se quer saber se ganha o “cantaor” ou o “bailaor”; é preciso esperar pela manha do que souber improvisar melhor.
Mas não foi apenas de futebol que viveu a semana futebolística: também de delírio. A campanha, reconheço, é bem montada, mastigando ressentimentos contra o FC Porto e inventando arbitragens que não aconteceram. Uma coisa é ter mau perder; outra é ter mau ganhar. Ganhar um jogo e viver cada vitória como uma vingança e uma ameaça dá uma ideia sobre o carácter dos ressentidos.
in A Bola - 19 Fevereiro 2011
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