Uma orquestra
Quantas equipas de futebol disputam a I Liga? Cerca de meia centena, a avaliar pelos jogadores que, todos os dias, são anunciados nas primeiras páginas como um remédio para a falta de futebol propriamente dito. E o futebol propriamente dito é isto: jogo, corridas de fogo pelas laterais, manigâncias de extremos que sabem iludir o fosso das defesas, lançamentos em profundidade até atingir um trânsfuga que desarma um guarda-redes e expõe – diante de um estádio – a beleza de um golo, a quase transcendência de um arco volteando sobre a baliza adversária. Quase o “Sonho de Uma Noite de Verão” de Mendelssohn, equilibrado sobre uma batuta invisível.
Uma orquestra, é isso uma equipa que procura a harmonia, o equilíbrio, o desafio permanente daquele confronto entre a perda e a vitória absoluta. E, depois, solistas em absoluto: vozes isoladas que participam do concerto, que devem ser protegidos como os elementos de brilho. É isso o futebol para mim. Por isso tem razão de ser a pergunta: quantas equipas de futebol disputam a I Liga? Meia centena, segundo os jornais, que anunciam uma promessa diária, uma euforia que há-de deslizar até à desilusão, como geralmente acontece. Pode haver equipas de onze jogadores formadas por quarenta atletas? Não. Peço ao leitor benevolente que faça as contas e me diga se isto é futebol ou se – na melhor das hipóteses – espera melhor futebol com a abundância de solistas e a desagregação das orquestras. Ah, nós sabemos a resposta, os amantes de futebol. Sabemos que há, neste período, um excesso de euforia que não é comandado pelo futebol propriamente dito mas pela abundância de promessas, que é aquilo que mata o jogo e desilude os adeptos que preferem iludir-se.
Hoje em dia, as equipas de futebol têm quarenta jogadores, um número que diminui à medida que o jogo exige concentração. Joguemos, por isso, futebol de praia, como vos disse há duas semanas. Poucos mas bons, entusiasmados e dançarinos. Falta pouco para subir ao palco esse espectáculo.
in A Bola - 16 Julho 2011
Uma orquestra, é isso uma equipa que procura a harmonia, o equilíbrio, o desafio permanente daquele confronto entre a perda e a vitória absoluta. E, depois, solistas em absoluto: vozes isoladas que participam do concerto, que devem ser protegidos como os elementos de brilho. É isso o futebol para mim. Por isso tem razão de ser a pergunta: quantas equipas de futebol disputam a I Liga? Meia centena, segundo os jornais, que anunciam uma promessa diária, uma euforia que há-de deslizar até à desilusão, como geralmente acontece. Pode haver equipas de onze jogadores formadas por quarenta atletas? Não. Peço ao leitor benevolente que faça as contas e me diga se isto é futebol ou se – na melhor das hipóteses – espera melhor futebol com a abundância de solistas e a desagregação das orquestras. Ah, nós sabemos a resposta, os amantes de futebol. Sabemos que há, neste período, um excesso de euforia que não é comandado pelo futebol propriamente dito mas pela abundância de promessas, que é aquilo que mata o jogo e desilude os adeptos que preferem iludir-se.
Hoje em dia, as equipas de futebol têm quarenta jogadores, um número que diminui à medida que o jogo exige concentração. Joguemos, por isso, futebol de praia, como vos disse há duas semanas. Poucos mas bons, entusiasmados e dançarinos. Falta pouco para subir ao palco esse espectáculo.
in A Bola - 16 Julho 2011
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