abril 03, 2010

Um cavalheiro

A entrevista do presidente do FC Porto à RTP trouxe uma novidade: Jesualdo Ferreira tem contrato com o clube, mas Mourinho também tinha. Leiam bem, que pode ser um aviso. A relação dos adeptos com o treinador nunca foi pacífica, como aconteceu com Bobby Robson ou, até ver, com José Mourinho pré-special one. O consulado de Robson foi marcante para o clube e para a relação dos adeptos com o clube. Recordo-me com saudades desse tempo; um dia, depois de um jantar na Ribeira, seguíamos pela rua e as pessoas cumprimentavam-no com deferência. Se se usasse chapéu, as pessoas tirariam o chapéu, como cavalheiros que se cruzam na rua, enquanto dão um passeio. Com um cavalheiro, portamo-nos como cavalheiros. Mas não só: havia um respeito carinhoso por ele. Jesualdo podia ser um segundo Robson, e tinha todas as condições para sê-lo: é um cavalheiro. Infelizmente, o Jesualdo foi apanhado a meio de um processo de perseguição pública e judicial ao FC Porto, cujos contornos não se podem explicar inteiramente se não pela natureza do ódio ao FC Porto – e que gerou insegurança e ressentimento na multidão. Os sociólogos explicam o facto, mas o futebol é muito rápido, não concede tempo para aprendizagem (o tempo que tiveram Robson e Mourinho).

Mesmo assim, Jesualdo Ferreira arrebatou três campeonatos, reconstruiu a equipa por duas vezes, e tentou reerguê-la este ano. Não se lhe pode exigir mais – nem a ele nem ao FC Porto; sobretudo com a campanha de judicialização do futebol (que em vez de ser entregue aos jogadores é comandado por juízes & burocratas), e com uma série de contratações defeituosas. Pinto da Costa defende-se, mas não tem razão, e o desastre está à vista – há contratações boas, há más, e há catastróficas. Mesmo que o pódio do campeonato ainda admita reviravoltas, é bom pensar sobretudo nos próximos tempos.

Para regressar à linha da frente, o FC Porto precisa de reflexão e de um cavalheiro ao leme. Que lembre Robson.

in A Bola - 3 Abril 2010

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