outubro 08, 2009

O Mar em Casablanca: é hoje

Aqui o sítio do livro.

O mais recente livro de Francisco José Viegas, «Mar em Casablanca», foi apresentado na Lx Factory, em Lisboa. Editado pela Porto Editora, a nova aventura do detective Jaime Ramos coloca o escritor no patamar dos grandes autores da língua portuguesa de sempre, defende o cineasta António Pedro Vasconcelos.

A Cantina LX foi pequena para acolher os amigos e admiradores da escrita de Francisco José Viegas, visivelmente emocionado com a presença de inúmeras caras conhecidas. Um dos rostos mais antigos no restaurante era o de Manuel Alberto Valente, editor da Porto Editora, o mesmo editor que publicou o primeiro livro de Viegas na ASA, em 1992, «As Duas Águas do Mar». Após 18 anos de relação, Alberto Valente temeu que o seu pupilo não o acompanhasse na Porto Editora aquando deixou a Leya, «e não a ASA», ressaltou, já que o criador de Jaime Ramos tinha assumido entretanto o papel de editor da Quetzal. No entanto, fiel aos seus princípios, o escritor manteve-se com o seu eterno editor, um gesto que não o deixou indiferente. «Além da amizade que tenho por Viegas, pois me considero uma espécie de irmão mais velho dele, um dos motivos pelo qual eu queria continuar a publicá-lo é porque o considero o mais importante escritor da sua geração. Mas, devido a rótulos, por escrever supostos policiais, esse valor não é reconhecido como deveria ser. Grande parte da melhor literatura contemporânea encontra-se nos romances policiais».

António Pedro Vasconcelos, convidado a apresentar «O Mar em Casablanca», relembrou que, quando acabou de ler o anterior livro de Viegas, «Longe de Manaus», enviou um SMS ao escritor a agradecer o tempo que tinha passado com a obra, mesmo sem o conhecer profundamente. O cineasta assumiu que começou a ler tarde os livros de Viegas e colocou o autor no mesmo patamar dos grandes nomes da literatura nacional, como Fernando Pessoa e José Cardoso Pires, por exemplo. O cineasta ressaltou ainda que o detective Jaime Ramos diz adeus ao seu passado em «O Mar em Casablanca» e que o livro deve ser cantado, «já que os romances de Francisco José Viegas são músicas que devíamos cantar para nós próprios». Depois de exaltar os diálogos e a estrutura de «O Mar em Casablanca», de ler excertos da obra, de referenciar o resgate de parte da cultura portuguesa que encontramos nos livros de Viegas e felicitar a grande capacidade de descrever a atmosfera e os ambientes nos seus romances, Vasconcelos despediu-se com uma pergunta ao autor: «Jaime Ramos e o seu subordinado, sendo do Norte, falavam com pronúncia? É importante sabermos esse pormenor porque devemos ler «O Mar em Casablanca» como a ouvir música.»

Francisco Viegas respondeu que o subordinado tinha pronúncia, ao contrário do detective. Como um jovem apaixonado, o homenageado da noite não escondeu a paixão pela sua criação, principalmente porque Jaime Ramos conseguiu sobreviver ao autor, é independente, «e não há nada que orgulhe mais o escritor do que um personagem ganhar vida própria». O autor revelou que já tentou escrever uma história sem Jaime Ramos, mas demorou sete anos a escrevê-la, entre 1995 e 2002. «Durante esse tempo ele ficava à minha frente na secretária (…) Jaime Ramos não é um detective tradicional, não tem problemas com o álcool ou com drogas. Ele continua provinciano, conservador, não gosta de novidades».

José Viegas admitiu orgulhoso que o seu detective escapa muitas vezes das suas mãos, como aconteceu um dia em Leiria, também durante uma apresentação. «Uma pessoa perguntou onde ele morava e eu disse que no Porto, em tal rua, no primeiro andar. Uma senhora na assistência interrompeu e disse que era no segundo; depois perguntaram qual o carro que ele tinha, a mesma senhora disse que era um Volkswagen. Ele tem realmente uma vida própria.»

E é essa «vida» que mais uma vez Francisco José Viegas revela em «O Mar em Casablanca», da Porto Editora.

in Diário Digital - 8 Outubro 2009

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