junho 23, 2007

Praia e arroz, coisas românticas


O Museu do Arroz é muito bonito, muito romântico e fica perto da praia. Tem dias de informalidade e outros de 'snob'.

Arroz de grão, feijão, espinafres e labaças; de cardos, carqueja e tomate, de pimentos, couve e grelos; de cenoura, ervilhas e abóbora; ou de vitela, pato, frango e peixes, mas também de mariscos, polvo, costelinhas de vinha d'alhos e cordeirinho; e até de lebre, chocos, lapas, bacalhau e sardinhas, manteiga, forno e açafrão – não vale a pena enumerar. Eu conto. O meu último recenseamento em matéria de arrozes nacionais vai pelas 362 variedades, receitas, dependências e subespécies. Trezentas e sessenta e duas variedades, repito ao leitor incrédulo – de Norte a Sul do país, distribuídas por colinas, ravinas, vales, planícies, praias, aldeias ribeirinhas, bairros típicos de cidades com mais de cem mil habitantes, povoados arredondados pelo frio no meio das serras e lugarejos remotos. E, para rematar, o golpe sobre a sua incredulidade: gosto de quase todas as receitas; tenho saudades repentinas de algumas delas, acordo – nas manhãs de final de semana – pensando num tachinho de arroz, no refogado que o suporta, na sacrossanta folha de louro, no caldinho de tomate da sua base, nas águas suculentas onde saltitam feijões previamente escaldados ou quase cozidos e, finalmente, nos grãos que fervem e vão adquirindo textura, gosto, sabor, aroma, personalidade, até huanidade. Sou um fanático do arroz, como a maioria dos portugueses de bem. Criei duas ou três receitas que são património da minha família, escrevo algumas para que não as perca ao longo da vida.

Além do arroz, gosto de praia. E sou um admirador confesso da praia da Comporta, às vezes não tanto pela praia mas pela paisagem, pela restinga dividida com o Sado, pela vaga sensação de memórias saudáveis e apetitosas.

O Museu do Arroz, à entrada da aldeia (para quem vem da praia e daquilo que hoje são as ruínas de Tróia – aguardamos desenvolvimentos), é um restaurante emblemático da zona (que detém uma dependência, o Ilha de Arroz, mesmo no areal da praia, um restaurante a que se pegou a designação "bar & lounge", que hoje serve para tudo). Depois de obras, reabriu há tempos e visitei-o recentemente. Fui, em tempos, um romântico: recomecei ali a vida em tempos, durante um Verão bonito e saudoso. Com um amigo, escrevi uma mini-novela que se passava nas redondezas, coisas de outro Verão, entre plantações do Arroz Ceifeira e dunas que desciam dos pinhais, coisas que vagamente se coadunam com o arroz de bacalhau (várias vezes provado – e acima do razoável), do arroz de pato (provado desta vez e também a merecer nota positiva), arroz de lebre ou de lagosta.

A mesa era a redonda, de canto, grande, com crianças rodopiando, e foram apreciadas alguns dos petiscos, todos com nota positiva: pastéis de bacalhau, bolinhos de arroz, pimentos Padrón, casca de batata frita, ovos mexidos com farinheira e choco frito (muito crocante e salgadinho). Ficaram por provar as chanquetas, as amêijoas, a morcela assada os cogumelos e o camarão frito, bem como a sopa de cação. As saladas prometiam rúcola com parmesão e tomate com mozarella, coisas que ficam bem com o terraço-varanda que dá sobre os arrozais durante o crepúsculo. Avançámos: os pastéis de bacalhau estavam bons mas o arroz de tomate, inexplicavelmente, chumbou no exame; compensou-se com os filetes de polvo panados acompanhados de migas (havia também um bacalhau lascado com batatinhas) e na mesa também se passearam os secretos de porco com migas, um bife com pimenta rosa e costeletas de borrego com alecrim. Fiquei fã dos filetes de polvo, mas a dose era escassa. Enquanto caía a noite, veio a mousse de chocolate, aplaudida, juntamente com uma encharcada (boa, sim senhor), um bolo de chocolate humedecido, e um leite-creme queimado (há uma grande lista de gelados Häagen Dazs).

Desta vez não bebi o licor de poejo, preferindo o 'whiskey' da ordem (bebi várias 'Grolsch' durante o jantar, que vieram com copo gelado e mergulhadas em balde de gelo, muito correctamente).

Familiar e festivo (embora ligeiramente carote, a precisar de reforçar as doses para esfomeados), o Museu do Arroz é muito bonito, muito romântico e tem uma excelente localização, perto das praias. Tem dias de informalidade e outros de 'snob', como tudo. Como diz um amigo, serve para debandadas de praia, casamentos, aniversários, casais e 'bar mitzvah's'. Acabo por voltar.

À Lupa
Vinhos: ***
Digestivos: ***
Decoração: ****
Serviço: ***
Acolhimento: **
Mesa: ***
Ruído da sala: **
Ar condicionado: ***

Garrafeira
Vinhos tintos: 52
Vinhos brancos: 18
Aguardentes & Conhaques: 12
Portos & Madeiras: 8
Uísques: 14

Outros dados
Charutos: sim
Estacionamento: relativamente fácil
Levar crianças: sim
Área de não fumadores: não
Reserva: aconselhável
Preço médio: 35 euros

Restaurante Museu do Arroz - Comporta
7580-612 Comporta
Tel: 265.497555
Encerra às segundas

In Revista Notícias Sábado – 23 Junho 2007

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