Brisa primaveril
O Cafeína, na Foz portuense, é um dos restaurantes mais agradáveis da cidade. Informal e chique. Óptimo para as primeiras brisas da Primavera, sem desmentir a sua cozinha.
Gosto da Foz, o que não é novidade. E gosto da Foz a todas as horas, mesmo quando o leitor, ou a leitora, já está a dormir. Altas horas. Aquelas em que o mar se ouve e em que aquela simpática poeira de humidade poisa sobre as arvores da Praça de Liège, sobre os caminhos do Passeio Alegre, sobre os frequentadores do mais tradicional dos bares da região (o Bonaparte), sobre os telhados do Hotel BoaVista, nas ruas e becos que reenviam as mais antigas fotografias da Velha Foz, no fantástico molhe crepuscular. E seria capaz de prolongar o assunto durante mais parágrafos, nem que fosse por falta de assunto, coisa que não acontece nestas crónicas de restaurantes - o apetite ainda é o que é.
Uma das ruas que gosto de subir, a partir do mar, é a simpática Rua do Padrão, que muitas vezes me leva ao Cafeína. Ora, o Cafeína faz parte da minha história pessoal da Foz; os historiadores discordam, mas a vida não pára. Durante anos, creio mesmo que era um lugar que visitei abundantemente, ora para jantar tarde, ora para tomar uma bebida entre o digestivo e o para lá de noctívago. A frequência é, como se diz agora na moderna sociologia de algibeira, "transversal", mas o tom é mesmo esse - o da Foz. Não Ihe fica mal.
A decoração sempre me satisfez, de luz suave e música que vai bem com um espírito em estado flutuante (sobretudo na sala apresentada como cafetaria), daqueles que tanto aceitam uma sopa de mexilhões com açafrão e 'croutons' de alho, como os saborosos ovos com salmão fumado e caviar ou o sempre bem conseguido 'carpaccio' da casa. Estas são as minhas entradas preferidas para o jantar tardio, embora o cardápio ofereça ainda espargos verdes salteados com cogumelos selvagens, salmão fumado com molho de aneto, 'foie gras' com geleia de vinho ou um crepe de 'soufflé' de agrião e queijo 'roquefort'. De certa maneira, a carta de saladas é uma extensão da das entradas, com uma bem conseguida salada de queijo de cabra e uma de pato fumado com ovos de codorniz (a acrescentar a tradicional Caesar, com salmão fumado, ou a simples de tomate, 'mozzarella' e rúcula). Por aqui não nos podemos queixar; a proposta é atraente e faz bem à vista, em pratos muito bem decorados, de cores atraentes. É meio caminho andado, acredite o leitor.
Se passarmos pelas propostas de bifes (grelhado, mostarda, cogumelos, pimenta, tártaro...), muito dispensáveis, encontraremos já materiais de substância vindos do mar - o salmão escalfado ao vapor com caviar e creme de espinafres é um emblema que já gabei bastante, muito 'light' e elegante. Quanto as outras propostas (pescada com camarões, tamboril com 'tagliatelli' verde, robalo com algas e molho holandês), o meu bacalhau com broa distinguiu-se pelo azeite de boa qualidade e pelo facto de, ao contrário do que vai sendo estranhamente usual, o bacalhau ser verdadeiro em matéria de salga - nada daquele bacalhau congelado fresco e demolhado desde tenra idade. Muito aceitável.
Não tenho dúvidas de que a melhor parte do cardápio salgado é a das carnes, muito simples - como o 'chateaubriand' com 'bearnaise' ou o 'filet mignon' com molho tártaro. Há um certo encanto no 'chateaubriand', de crosta ligeiramente tostada, muito suculento, nas costeletinhas de borrego folhadas com legumes e no 'magret' de pato, que aprovei com um "muito bom" de caras, salpicando-o de vinagrete morno de hortelã. Como geralmente não me atrevo às sobremesas, queria distinguir três sugestões do Cafeína: o bolo de chocolate amanteigado é bom, o 'parfait glace' com framboesas está à altura - e a 'tarte tatin' servida quente com natas batidas é um dos meus motivos de felicidade à mesa.
Depois de um jantar tranquilo, que compensou um dia de grilhetas, fumou-se um charuto, aceso para dar as boas-vindas à regularização da cafeína e a um álcool sem transcendências. Agradável, bonito, tardio - como convém à Foz.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * * *
Decoração: * * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * *
Mesa: * * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 84
Vinhos Brancos: 33
Vinhos Verdes: 10
Espumantes e Champagnes: 5
Vinhos de sobremesa: 16
Uísques: 15
Conhaques: 5
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: relativamente fácil à noite
Levar crianças: Não
Área Não Fumadores: Não
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio: 35 Euros
Restaurante Cafeína
Rua do Padrao, 100 - 4150-557 Porto
Tel: 226108059 / 226189953
Aberto todos os dias
Jantares até à 1h30
Gosto da Foz, o que não é novidade. E gosto da Foz a todas as horas, mesmo quando o leitor, ou a leitora, já está a dormir. Altas horas. Aquelas em que o mar se ouve e em que aquela simpática poeira de humidade poisa sobre as arvores da Praça de Liège, sobre os caminhos do Passeio Alegre, sobre os frequentadores do mais tradicional dos bares da região (o Bonaparte), sobre os telhados do Hotel BoaVista, nas ruas e becos que reenviam as mais antigas fotografias da Velha Foz, no fantástico molhe crepuscular. E seria capaz de prolongar o assunto durante mais parágrafos, nem que fosse por falta de assunto, coisa que não acontece nestas crónicas de restaurantes - o apetite ainda é o que é.
Uma das ruas que gosto de subir, a partir do mar, é a simpática Rua do Padrão, que muitas vezes me leva ao Cafeína. Ora, o Cafeína faz parte da minha história pessoal da Foz; os historiadores discordam, mas a vida não pára. Durante anos, creio mesmo que era um lugar que visitei abundantemente, ora para jantar tarde, ora para tomar uma bebida entre o digestivo e o para lá de noctívago. A frequência é, como se diz agora na moderna sociologia de algibeira, "transversal", mas o tom é mesmo esse - o da Foz. Não Ihe fica mal.
A decoração sempre me satisfez, de luz suave e música que vai bem com um espírito em estado flutuante (sobretudo na sala apresentada como cafetaria), daqueles que tanto aceitam uma sopa de mexilhões com açafrão e 'croutons' de alho, como os saborosos ovos com salmão fumado e caviar ou o sempre bem conseguido 'carpaccio' da casa. Estas são as minhas entradas preferidas para o jantar tardio, embora o cardápio ofereça ainda espargos verdes salteados com cogumelos selvagens, salmão fumado com molho de aneto, 'foie gras' com geleia de vinho ou um crepe de 'soufflé' de agrião e queijo 'roquefort'. De certa maneira, a carta de saladas é uma extensão da das entradas, com uma bem conseguida salada de queijo de cabra e uma de pato fumado com ovos de codorniz (a acrescentar a tradicional Caesar, com salmão fumado, ou a simples de tomate, 'mozzarella' e rúcula). Por aqui não nos podemos queixar; a proposta é atraente e faz bem à vista, em pratos muito bem decorados, de cores atraentes. É meio caminho andado, acredite o leitor.
Se passarmos pelas propostas de bifes (grelhado, mostarda, cogumelos, pimenta, tártaro...), muito dispensáveis, encontraremos já materiais de substância vindos do mar - o salmão escalfado ao vapor com caviar e creme de espinafres é um emblema que já gabei bastante, muito 'light' e elegante. Quanto as outras propostas (pescada com camarões, tamboril com 'tagliatelli' verde, robalo com algas e molho holandês), o meu bacalhau com broa distinguiu-se pelo azeite de boa qualidade e pelo facto de, ao contrário do que vai sendo estranhamente usual, o bacalhau ser verdadeiro em matéria de salga - nada daquele bacalhau congelado fresco e demolhado desde tenra idade. Muito aceitável.
Não tenho dúvidas de que a melhor parte do cardápio salgado é a das carnes, muito simples - como o 'chateaubriand' com 'bearnaise' ou o 'filet mignon' com molho tártaro. Há um certo encanto no 'chateaubriand', de crosta ligeiramente tostada, muito suculento, nas costeletinhas de borrego folhadas com legumes e no 'magret' de pato, que aprovei com um "muito bom" de caras, salpicando-o de vinagrete morno de hortelã. Como geralmente não me atrevo às sobremesas, queria distinguir três sugestões do Cafeína: o bolo de chocolate amanteigado é bom, o 'parfait glace' com framboesas está à altura - e a 'tarte tatin' servida quente com natas batidas é um dos meus motivos de felicidade à mesa.
Depois de um jantar tranquilo, que compensou um dia de grilhetas, fumou-se um charuto, aceso para dar as boas-vindas à regularização da cafeína e a um álcool sem transcendências. Agradável, bonito, tardio - como convém à Foz.
À lupa
Vinhos: * * *
Digestivos: * * *
Acesso: * * * *
Decoração: * * * *
Serviço: * * *
Acolhimento: * *
Mesa: * * * *
Ruído da sala: * * *
Ar condicionado: * * *
Garrafeira
Vinhos tintos: 84
Vinhos Brancos: 33
Vinhos Verdes: 10
Espumantes e Champagnes: 5
Vinhos de sobremesa: 16
Uísques: 15
Conhaques: 5
Outros dados
Charutos: Sim
Estacionamento: relativamente fácil à noite
Levar crianças: Não
Área Não Fumadores: Não
Reserva: Muito aconselhável
Preço médio: 35 Euros
Restaurante Cafeína
Rua do Padrao, 100 - 4150-557 Porto
Tel: 226108059 / 226189953
Aberto todos os dias
Jantares até à 1h30
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