Visitação ao Belize popular
Arroz e Feijão, comida dos trópicos, mesmo diante da Jamaica. No Belize.
Cheguei ao Belize num domingo de Março, duas ou três semanas depois de um furacão ter passado pela velha capital, Belize City (a nova, e oficial, é Belmopan, a cerca de hora e meia de viagem pelo meu ritmo de pára-aqui-pára-acolá).
Poucas vezes cheguei a uma cidade e vi que era ali que não me importava de ficar uns tempos, a escrever, a vadiar ou até, para variar, a não fazer nada: casas de madeira. hábitos de sesta pela tarde fora, taxistas atenciosos, um mercado acolhedor, restaurantes baratos, musica apetitosa - e, confesso, comida interessante.
Eu sei que “interessante” não quer dizer grande coisa, mas serve para o que comi durante esses dias: frango frito com mango & papaya chutney, breadfruit muffins, escabeches vários e deliciosos, o classico rice-and-beans, peixe frito ou vários green banana puffs. Elementos muito simples, preparação sem rigor; o ideal para chefs anarquistas e para cozinheiros inventivos. Imagino Anthony Bourdain (o autor de Cozinha Confidencial, publicado pela Dom Quixote e leitura obrigatória, juntamente com A Cook's Tour - In Search of the Perfect Meal, ainda não traduzido em Portugal) perdido nestas cozinhas, sobretudo na do Lily Rose Cafe and Patio, o restaurante preferido de River Phoenix (para não mencionar o do hotel de Francis Ford Coppola. rnais para o interior)..
Gostaria de apresentar a receita do belizean stew chicken (um frango estufado em alho, pimentas, cebolas e frutos à escolha - em que ossos e peles acabam por ser retirados para ficar apenas a carninha de ave), mas o que me apetece realmente é cozinha descomprometida, solta e própria para acompanhar cerveja (a cerveja local, a Belikin é excelente): assim, vamos ao arroz & feijão à moda do Belize.
Primeiro, coze-se o feijão (pode ser o nosso vermelho) em água e apenas alho (bastante) durante uma hora somente. Numa panela de fundo grosso faz-se um refogado com óleo e alho, juntando-se o feijão semicozido e, logo depois, alguma água; ao fim de meia hora de ebulição, juntam-se carnes salgadas cortadas em pedacinhos miúdos, uma chávena de chá de leite de coco, uma cebola roxa em rodelas muito finas e um raminho pequeno de salsa. Mexe-se bem e deixa-se cozinhar de modo que os ingredientes se abracem naquele conluio espiritual que os bons cozinheiros detectam à distância. Digamos que cinco ou seis minutos bastam. Nesta altura eu junto uma de duas coisas: ou umas pimentinhas indígenas, bem picantes, ou um picadinho tabasco. Escolha. Na verdade, eu prefiro o segundo processo. O arroz (por favor: arroz carolino português, ou então arroz local, que pode ser encontrado nos nossos supermercados, vindo da Costa Rica ou do México) deve ser acrescentado neste momento: depois de uma lavagem apressada, os grãos descem sobre o caldo, a que fui acrescentando apenas a água quente necessária para se cozer o arroz. Deixo cozinhar durante 15 minutos, vigiando para que não pegue ao fundo; ao desligar o fogo agito a panela e deixo cair umas gotas de limão.
Tradicionalmente, o rice & beans serve-se nos restaurantes do Belize para acompanhar frango frito, frango estufado ou peixe frito. Num pequeno café do porto de Belize City, ao final da manhã, comi o arrozinho num prato de alumínio, acompanhado de uma omelete simples, cortada em tiras, servida mesmo em cima dos grãos, e regada com mais limão e molho picante. Foi aí que começou a minha desgraça, bebendo Belikin atrás de Belikin. Nunca mais fui o mesmo.
Ingredientes
+ 1 lata de feijão encarnado(250 gl)
+ 1 chávena de leite de coco
+ 3 dentes de alho
+ Sal e pimenta
+ Salsa
+ 1 cebola roxa
+ 1 chávena de chá de arroz Caroline
+ 150 g de carne salgada à escolha (bacon, entremeada,
ou costela de vaca salgada)
+ Azeite (para o nosso gosto) ou óleo de coco
(para a receita tradicional)
in Atlas de Cozinha – Revista Volta ao Mundo – Janeiro 2006
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