março 31, 2011

Blog # 834

Pode um autor recusar-se a figurar numa lista de candidatos a determinado prémio literário? Há dúvidas. Mas John Le Carré acha que sim e pediu ao júri do Man Booker, um dos mais prestigiados, apetecíveis e falados, para o retirar das suas lista de finalistas. Se há coisa que John Le Carré não precisa para ser conhecido ou para desmaiar de vaidade é de prémios literários – mas a vaidade tem duas faces: tanto pode consistir na “vaidade de aparecer” como na de “não aparecer” ou, para sermos mais precisos, na de “não comparecer” na lista do Man Booker juntamente com outros escritores, que poderiam atrapalhar a sua glória ou, mais prosaicamente, ganhar-lhe a corrida. A verdade é que cada um é proprietário do seu nome e só corre se quiser correr. Acontece que Le Carré não quer correr. *** Retomar os clássicos, os livros difíceis, os volumes que fazem parte da memória: a Dom Quixote relança, durante o mês de abril, um dos emblemas da velha Ficção Universal: ‘Os Buddenbrook’, de Thomas Mann. Quem não leu, que leia. *** FRASES "Dei uns murros à minha mãe e umas facadas ao meu irmão." António Magina, 40 anos, ontem, no CM. "Os políticos não são anjos e convém anular as fontes de tentação." Miguel Noronha, no blogue Cachimbo de Magritte.

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março 30, 2011

Blog # 833

O livro leva o título ‘Great Soul’ (‘Grande Alma’) e com ele Joseph Lelyveld, jornalista do ‘The New York Times’, adianta novos elementos para a biografia do Mahatma Gandhi, pouco condizentes com o tradicional retrato, quase beatífico, do líder nacionalista indiano. A sua bissexualidade (a paixão pelo namorado alemão e a queda pelas adolescentes de que se rodeava) é um pormenor marginal. Já o racismo, o fanatismo político, a vaidade histriónica ou a misantropia estão nos degraus inferiores. A verdade é que não há heróis políticos destinados à santidade – coisa que devíamos saber –, nem vidas privadas que não revelem o seu avesso. Tudo isto seria discutível numa figura política que não pregasse moral; já no caso de Ghandi, é mais difícil de aceitar a queda de um mito. *** O Clube do Autor acaba de publicar um romance encantador, ‘A Casa dos Amores Impossíveis’, uma saga feminina escrita por Cristina López Barrio. De certa maneira, é uma espécie de “fantástico andaluz”, transfigurado pela beleza. *** FRASES "Este ciclo infernal de dívida parou subitamente: os credores já não emprestam." Pedro S. Guerreiro, ontem, no CM. "A admiração que temos por quem fala alto é a confissão embaraçosa da nossa menoridade." Alexandre Borges, no blogue Delito de Opinião.

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março 29, 2011

Blog # 832

O prémio Pritzker, a maior distinção mundial no campo da arquitetura, é este ano atribuído a um português, Eduardo Souto Moura (foi em 1992 ganho por Siza Vieira). Este “Nobel da Arquitetura” traz alguma eternidade à obra de um dos mais importantes criadores portugueses – a lista das suas obras inclui o estádio do Braga, a Casa das Histórias Paula Rego em Cascais ou a estação do metro da Trindade no Porto, entre muitas outras. A arquitetura, dizia George Steiner, devia ser uma das três disciplinas básicas a estudar por todos (as outras eram a matemática e a música): tem a ver com o nosso espaço, a forma como o ocupamos e como nos imaginamos a habitar sobre a terra. Talvez por isso, Ruy Belo escreveu a poesia de ‘O Problema da Habitação’ – é essa a grande “questão humana”. *** Ironia do título, ironia do autor: ‘Três Vidas de Santos’, de Eduardo Mendoza (publicado pela Sextante), prova que tudo – o bem e o mal, o simples e o complexo – está, afinal, na literatura. Só um grande escritor o pode dizer. *** FRASES "É fundamental que se diga com verdade quanto é que Portugal deve." D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas. Ontem, no CM. "Morreu a Liz Taylor e caiu o governo. Um de cada vez, como convém." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

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março 28, 2011

Blog # 831

O mundo não mudou por causa dos seus livros, evidentemente; mas a nossa visão do mundo alterou-se bastante, sobretudo com ‘Orlando’, ‘Rumo ao Farol’, ‘Mrs. Dalloway’ ou ‘As Ondas’. O feminismo elegeu-a como uma das suas figuras fundamentais, mas o retrato não corresponde; a sua frase famosa (“uma mulher deve ter dinheiro e um quarto que seja seu”) referia-se à disponibilidade para escrever. E Virginia Woolf escreveu muito e marcou a modernidade de antes da guerra, quer pela sua escrita (uma torrente incessante que contrasta com a sua fragilidade), quer pelo papel que desempenhou como influente inteletual nesses anos difíceis e turbulentos. Virgínia Woolf (1882-1941) morreu há exatamente 70 anos. Atirou-se às águas do rio Ouse; o corpo só foi encontrado a 18 de abril. *** O novo livro de Lídia Jorge leva um título enigmático: ‘A Noite das Mulheres Cantoras’ (Dom Quixote). Mas o arranque comovente e a história que atravessa o romance são suficientes, só por si, para se falar de um excelente livro. *** FRASES "O povo ainda não foi às urnas e já andam por aí os fanáticos do arranjinho." João Pereira Coutinho, ontem, no CM. "O que conta é o ato eleitoral e não as pressões das pessoas que se julgam donas disto tudo." Henrique Raposo, no blogue Clube das Repúblicas Mortas.

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março 26, 2011

O que é o futebol?

O que é o futebol? Um jogo. Uma metáfora da vida. Tudo isso que é normal dizer-se — mais aquilo que ele significa para cada um, em circunstâncias muito diferentes. Não vale a pena fazer moral a propósito do futebol, nem do jogo, nem das circunstâncias. Mas é necessário dizer que é exigível um mínimo de decência na vida e nas coisas que nos prendem a ela. Por exemplo: devia ser impossível apedrejar o autocarro de uma equipa adversária. Benfica e FC Porto já viram os seus autocarros apedrejados; o facto não tem a ver com o futebol mas com os índices de criminalidade – e com a polícia. Seria extremamente perigoso (ia a escrever “absurdo”, mas não basta) que qualquer um dos clubes envolvidos desculpabilizasse as hordas de energúmenos que, de um lado e do outro, apedrejam, insultam, impedem que uma família normal e tranquila possa ir ao futebol.

É preciso, por isso, explicar-lhes (devagar, se possível) que o futebol é um jogo de guerreiros – mas que a guerra se vive exclusivamente dentro das quatro linhas do relvado. E que, fora do estádio, só a ironia devia ser permitida como arma de arremesso. Isso devia ser castigo suficiente.

Assistir a conferências de imprensa graves e taciturnas, ou graves e agressivas, onde se alimenta a guerra fora dos estádios, é uma das coisas mais penosas que rodeia o jogo. Essa gente não pode levar-se a sério e nós não podemos levá-los a sério. O clima irrespirável que se vive nas relações entre Benfica e FC Porto tem de terminar, e os seus atiçadores relegados para a bancada do ridículo. E é isto.

Mas, para completar o ridículo, gostava de chamar a atenção para a absolvição de Carlos Queiroz pelo Tribunal Arbitral de Desporto, que suponho que torna inválida as decisões arbitrárias e patetas de comissões, organismos e juristas de segunda categoria. Como escrevi aqui, se a questão era afastar Queiroz, que o fizessem; mas que armassem um processo de perseguição ao técnico, foi uma infâmia. E têm de pagar por isso.

in A Bola - 26 Março 2011

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março 25, 2011

Blog # 830

A literatura não é um território de pacificação ou de anemia. ‘Contra a Literatice e Afins’ (Guerra e Paz), de João Gonçalves, foi ontem lançado em Lisboa, e é um inventário de argumentos sobre a matéria. Gonçalves é um excelente leitor que não depende no universo de deferências literárias e editoriais – tem, a seu favor, o mau génio, a tentação polémica, a necessidade de beleza. Disso tudo fala a literatura; e renascimento, de vingança, de uma eternidade que não demora a passar. As boas consciências que procuram ver na leitura “um ato de cidadania” escusam de passar por estas páginas, verdadeiros textos de guerrilha onde sobrevoa a inspiração de Sena e o deslumbramento diante dos mestres (Gaspar Simões ou Prado Coelho, por exemplo). Pela literatura, contra a literatice.

***

A 30 de Março estará no mercado ‘O Cemitério de Praga’, de Umberto Eco (Gradiva) – um romance sobre o quê? O vazio, a falsificação, os labirintos da literatura e da crença. Tudo o que fez de Eco um autor a ler. Isso já é bom.

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FRASES

"Portugal vive um Alcácer-Quibir financeiro, mas esse desastre não aconteceu ontem." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Sócrates saiu no melhor momento — para Sócrates, evidentemente." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

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março 24, 2011

Blog # 829

Elizabeth Taylor era mais do que um ícone: era toda uma época do cinema e da história da beleza. Os seus olhos e o seu olhar (quer eram coisas diferentes) não brilharam na nossa memória apenas pela sua vida amorosa de oito casamentos e sete maridos – mas pela sua presença em ‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’, do genial Edward Albee, uma obra-prima do cinema, do teatro e da literatura, em ‘Bruscamente no Verão Passado’, um hino à melancolia, ou em ‘A Fera Amansada’, uma reinterpretação genial de um Shakespeare quase burlesco. Era uma excelente atriz que não pode ficar para o futuro reduzida a uma celebridade de Hollywood – há a sua voz, as suas modulações, a sua crueldade (a de ‘Cleópatra’), as suas promessas de perversidade e de amargura. Quase tudo se lhe desculpa.

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Joyce Carol Oates é uma das minhas autoras americanas preferidas. A Casa das Letras publicará, em Abril, ‘Raposas de Fogo’, uma história de violência e de desespero interpretada por um gangue de adolescentes. A ler e a comentar.

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FRASES

"O FMI não virá por causa da demissão de Sócrates; virá pelo que Sócrates andou a fazer." Vasco Lobo Xavier, no blogue Mar Salgado.

"Podem levar secador, telemóvel, computador, mas não garantimos que isso vá funcionar na selva." Bruno Santos, diretor de conteúdos da TVI, sobre o programa ‘Perdidos na Tribo’. Ontem, no CM.

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março 23, 2011

Blog # 828

Eu ia escrever: “Conheci mal Artur Agostinho.” Mas é mentira. Todos conhecemos bem Artur Agostinho. O seu rosto e a sua voz fazem parte das nossas memórias da televisão e da rádio, para não falar do jornalismo, do cinema (no ‘Leão da Estrela’, é claro) e do teatro popular. Era impossível não gostar dele, não apreciar o seu cavalheirismo, a sua amabilidade, o seu talento – e a sua memória. Há hoje uma curiosa e feliz unanimidade em redor do seu nome e do seu trabalho, e creio que Artur Agostinho a agradeceria com um sorriso sem rancor nem mágoa. Preso indevidamente em 1974, conheceu os caminhos do exílio; regressou a sua casa seis anos depois e continuou como se tivesse sido um passeio. Espero que tivessem pedido desculpa. De qualquer modo, Artur Agostinho sorri à ideia.

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A 7 de abril a Porto Editora lançará ‘Vento Suão’, o derradeiro – e incompleto – romance de Rosa Lobato de Faria (1932-2010). Tal qual ela o deixou escrito. A edição conta com um belo e importante posfácio de Eugénio Lisboa.

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FRASES

"A transgressão é o Sagrado Pós-Moderno – já nos falta instrução para uma nova iconoclastia." Tiago Cavaco, no blogue Voz do Deserto.

"Fazia um som estrondoso e parece que andava com o diabo."Automobilista de Coimbra sobre um Ferrari abandonado na cidade depois de um acidente. Ontem, no CM.

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março 22, 2011

Blog # 827

A memória de J. R. R. Tolkien não seria a mesma sem os filmes de Peter Jackson a partir de ‘O Senhor dos Anéis’, até porque o universo de Tolkien precisava de um leitor destemido e corajoso, capaz de traduzir em imagens um argumento sem fim. Cenários, diálogos, intromissões contemporâneas, cor, movimentos – tudo na trilogia ultrapassa, porém, a pura adaptação de uma obra complexa e com toda a probabilidade apenas destinada a um círculo de iniciados. Jackson ultrapassou essa mediania com larga vantagem. A boa notícia é ter começado ontem a rodagem de ‘O Hobbit’, uma espécie de preparação de Tolkien para ‘O Senhor dos Anéis’ – e que no cinema estreará em 2012. Apesar de ser difícil conseguir igualar aquele grau de proximidade à beleza épica dos ‘Anéis’, o risco é comovente.

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Depois da publicação de uma série de livros de crónicas, o regresso à poesia, finalmente: o novo livro de Pedro Mexia leva o enigmático título de ‘Menos por Menos’, e será publicado em Abril próximo pela Dom Quixote. Bom regresso.

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FRASES

"O verdadeiro treino do eremita faz-se rodeado de pessoas." No blogue Ouriquense.

"Só se dá pela nossa tropa quando se exibe com irrepreensível pompa e circunstância." Manuel Catarino, ontem, no CM.

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março 21, 2011

Blog # 826

O outrora sociólogo e agora ministro Santos Silva declarou que quem não acompanha o governo, ou o que ele pretende, está a “desertar”. A frase é letal, mas não houve grande reação. Infelizmente, há sempre quem faça melhor e, juntamente com a acusação de “desertar”, veio depois a do anti-patriotismo – quem está com o governo é patriota; quem está contra é, praticamente, um traidor. Ao longo da nossa história estas acusações têm sido repetidas por tiranetes desesperados, coronéis de segunda, pataratas – e, no século passado, por imbecis e salazaristas. Que isto se repita hoje é grave. Mas que, ao longo desta semana, nenhum político tenha reagido com veemência a acusação tão apalermada, dá uma ideia de como toda a gente anda a fazer contas de cabeça, cheia de medinho.

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É entre 1 e 3 de abril, no Funchal, o Festival Literário da Madeira, organizado pela Booktailors e pela Nova Delphi. Vão estar, entre outros, Afonso Cruz, Eduardo Pitta, Inês Pedrosa, Mário Zambujal, Rui Zink ou Valter Hugo Mãe.

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FRASES

"Estamos a assistir à tentativa de consagrar uma mentalidade delinquente na gestão do poder." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"Uma das grandes novidades do discurso de Paulo Portas foi a ausência do blazer." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

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março 19, 2011

Três notas

Alex Fergusson foi suspenso cinco jogos por ter feito reparos à actuação de um árbitro de futebol. Em Portugal, o assunto mereceria primeira página – não a aplicação do castigo, evidentemente, mas o reparo. Seria amplificado, multiplicado, objecto de conferências de imprensa, pretexto para convocar manifestações de desagravo e de agravo, justificação para mau futebol.

Será que os árbitros não falham? Falham. Mas o futebol deve protegê-lo. E, antes de proteger a arbitragem, deve honrá-la e sujeitá-la a um rigoroso “controle de qualidade”. Mais do que a aplicação de “novas tecnologias no futebol” (um debate que não deve ser inquinado, à partida, pela suspeita), a protecção da arbitragem seria um serviço ao futebol. E haver critérios de qualidade exigentes seria um passo essencial – no sentido de que não se pode ter bom futebol com árbitros que erram grosseiramente e se defendem a si mesmos, à porta fechada.

2. Nuno Gomes é um jogador desprezado. São vários os factores que levam ao seu afastamento. Pessoalmente, gosto desses jogadores desprezados, empurrados para o banco – não por serem maus, claramente maus, mas “por causa da idade”. Não há nada mais cretino do que invocar a idade de um futebolista para o relegar para o balneário. Ele transporta consigo a experiência, a memória, a disponibilidade, e a arte que o fez ser indispensável. O golo de Nuno Gomes contra o Portimonense reabilita esses jogadores injustamente afastados; fica como um símbolo de permanência do que é bom no futebol.

3. No final do Benfica-Portimonense, um repórter não se conteve e, embevecido, declarou para as câmaras: “Com este resultado, o Benfica reduz para dez pontos a distância para o FC Porto.” Uma coisa destas merece ser notícia. Aliás, logo depois da eliminação do Benfica na Champions, o telejornal da RTP começou com esta declaração festiva: “O Benfica qualificou-se para a Liga Europa.” Isto sim, é melhor do que a realidade.

in A Bola - 19 Março 2011

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março 18, 2011

Blog # 825

Sobre a minha crónica de há três dias, Paulo Teixeira Pinto esclarece-me, e eu agradeço: o que será diferente (de Portugal) nas edições do grupo Babel no Brasil não é o texto de ‘autores portugueses’, mas o de ‘livros estrangeiros’ que a Babel traduza e publique no Brasil. Faz todo o sentido. A Babel Brasil será, para todos os efeitos, uma editora brasileira – e deve aplicar às suas edições os princípios usados por qualquer uma das suas concorrentes locais. Uma língua é um objeto vivo mas não tem proprietários; pessoalmente, há traduções brasileiras que até funcionam melhor do que traduções portuguesas, pomposas e sem a noção do diálogo e da troca de palavras – talvez com isto se ganhe o suficiente para que a nossa pobre Língua fique mais interessante. Fazia-nos jeito.

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Está a chegar o novo romance de Teolinda Gersão, ‘A Cidade de Ulisses’ (Sextante Editora) – o universo de Teolinda numa extrema delicadeza e num cenário esperado: Lisboa, território fatal para amores excessivos e paixões sem remédio.

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FRASES

"No campo da estratégia política, Sócrates é um político hábil, forte no debate televisivo." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Ser contribuinte é como jogar no casino. É certo que, no fim do dia, a casa ganha sempre." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

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março 17, 2011

Blog # 824

O leitor recorda-se, certamente, da “revolução popular” no Egito e na Tunísia – e na extensão do perfume de jasmim até à Líbia. Há quanto tempo foi? Da “libertação” de Bengasi até aos bombardeamentos ordenados por Muammar Khadafi sobre Bengasi não passou muito tempo. Da libertação da praça Tahrir até à perseguição das mulheres e dos liberais no Egito também não demorou muito. Claro que isto é cinismo mas o cinismo poupa-nos a ilusões fatais. A “comunidade internacional”, medrosa e cheia de pruridos e de resoluções na ONU, alimentou as esperanças dos rebeldes líbios e deixa-os agora morrer em cidades onde jorra o petróleo e nasceram muitos acordos com Khadafi. As coisas são como são. Daqui a nada Khadafi estará a passear, de véu e grinaldas, sobre os destroços de Bengasi.

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A edição francesa saiu em 1982; a Civilização publica-o agora. ‘Ervamoira’, de Suzanne Chantal reconstrói a saga da família Castro-Avilez e, no fundo, a da aventura dos criadores do vinho do Porto e do Douro, o grande território.

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FRASES

"Era o que faltava incomodar e arreliar o chefe do Governo com impertinências..." Nota da Direcção sobre a entrevista de José Sócrates à SIC. Ontem, no CM.

"Os comentadores do costume debitam a monótona oração de que não é oportuno agitar o barco." Luís Naves, no blogue Albergue Espanhol.

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março 16, 2011

Blog # 823

Por que razão nos incomodam tanto as imagens que vêm do Japão? Por causa do sofrimento dos outros, da destruição, da catástrofe; mas, sobretudo, da violência imprevista que arrasa parte de um país consagrado à ordem, à disciplina, à contenção. Navios arrastados pelo mar, levando à sua frente carros, casas e estradas. O rasto de imprevisibilidade mata mais do que se espera, apesar de as sociedades avançadas “estarem preparadas” para os acidentes. Mas nunca para o imprevisto: as falhas das placas, os tsunamis, os desastres naturais. Por um lado, uma certa contenção; por outro, a inquietação que não deixa pedra sobre pedra. E, no meio da tragédia, a estranha tranquilidade de um povo educado para esperar, obedecer e honrar. Só o imprevisto podia magoar tão profundamente.

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Para quem leu ‘Brooklyn’, do irlandês Colm Tóibin, a Bertrand prepara a edição de ‘Mães e Filhos’, histórias marcadas pela mesma melancolia, pelo mesmo olhar agudo e insistente de um escritor de primeiríssima ordem. Tóibin é grande.

***

FRASES

"Não nasci com o dom de estar a par." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

"Este país já não é um Estado independente que pode decidir o futuro. É um protetorado." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

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março 15, 2011

Blog # 822

Paulo Teixeira Pinto lançou ontem a Babel Brasil, agora com o grupo Ongoing. Festeje-se. A novidade, porém, não é essa (a Leya já está no Brasil), mas a ‘descoberta’ de que há diferenças entre o português de Portugal e o do Brasil, o que levará a Babel a ‘traduzir’ os seus livros: "O léxico é diferente, a sintaxe é diferente, a semântica é diferente, por isso, a tradução será diferente no Brasil." A menção à ‘tradução’ é uma novidade. Muitos autores portugueses lutaram, durante anos, para que os editores brasileiros não alterassem os seus textos; e os editores portugueses optaram também por não alterar os textos dos brasileiros. A ideia de que há uma língua a separar Portugal e Brasil, e a precisar de tradução, também é uma novidade no contexto das relações culturais. Má.

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março 14, 2011

Blog # 821

A ministra da Cultura tem alguma razão quando diz que é bom os “jovens criadores” saírem do país e ficarem lá fora “muitos anos”. Politicamente, a frase é suicida (“Vão e demorem muitos anos!”), mas um mínimo de bom-senso há-de mostrar-nos a sua razoabilidade. Sair do país tem vantagens. Em primeiro lugar, “os jovens criadores” hão-de descobrir que não podem viver com decência se estiverem dependentes do apoio flutuante e condicional do Estado, geralmente a troco da sua liberdade; depois, aprenderão que tanto a sobrevivência como o reconhecimento dependem de um trabalho exigente e muito duro; finalmente, hão-de perceber que um pouco de ar puro só lhes faz bem e lhes dará outra perspetiva sobre o país e sobre eles mesmos. Ao longo da história foi isso que nos salvou.

***

Amanhã, no Instituto Camões, ao fim da tarde, é o lançamento de ‘O Trompete de Miles Davis’, de Francisco Duarte Azevedo (Planeta). O autor, diplomata, já foi cônsul em Newark, onde decorre a ação do livro – um policial bem balançado.

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FRASES

"Os portugueses continuavam a ser espremidos, mas os portugueses gostam de ser espremidos." João Pereira Coutinho, ontem, no CM

"As lideranças políticas da direita têm muito trabalho de pedagogia política por fazer." Miguel Morgado, no blogue O Cachimbo de Magritte.

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março 12, 2011

Escrito nas estrelas

Não estava escrito nas estrelas que o FC Porto ia ganhar ao CSKA; foi uma vitória construída em campo, com uma primeira parte deficiente, no fio da navalha, e um segundo tempo disciplinado, bem alinhavado – e um remate, daqueles, de Guarín. Com o 1-0 confirmado, houve tempo para olés, passes e “jogo do meio”, como se requer nestas circunstâncias. Não basta ganhar ao adversário; é preciso brincar com ele e dar-lhe esperança para que a vitória tenha mais sabor e intensidade.

2. O meu amigo Juan Gabriel, director de comunicação do Benfica, veio ontem em defesa do seu clube e do casamento para toda a vida (é sempre bom haver quem defenda os valores tradicionais). Foram declarações sobre declarações do presidente do FC Porto, que já eram declarações sobre declarações do presidente do Benfica, que por sua vez eram declarações sobre o facto ter sabido, há uns meses, que o Benfica não ia ganhar o campeonato – porque estava escrito nas estrelas. Essa mistura entre futebol e astrologia parece-me, vá lá, uma coisa insólita. Que se preveja, ao longo do campeonato, que as coisas possam correr bem ou mal, vá que não vá – mas que em Agosto ou Setembro, imaginemos, o presidente do Benfica tivesse sabido que o clube da Luz não ia ganhar o campeonato e não nos tivesse alertado em conformidade, isso é uma injustiça de que não recuperaremos tão cedo.

Em Agosto do próximo ano, quando os jornais anunciarem que o Benfica está quase a envergar faixas, é favor dar-nos conta dos segredos das estrelas, tão acessíveis ao seu presidente. Escusávamos de nos angustiar.

Aliás, se o presidente do Benfica souber, por uma das suas fontes (deste ou de outro mundo), que os árbitros se preparam para roubar o seu clube logo no início do campeonato, é favor avisar-nos. A imprensa, livre e democrática, não deixará de denunciar essa grave ameaça. Estaremos na primeira linha, de binóculos, a olhar para as estrelas.

in A Bola - 12 Março 2011

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março 11, 2011

Blog # 820

De vez em quando acontece. A polémica em torno de ‘A Serbian Film’, que conquistou o prémio do júri do Fantasporto, tem toda a razão de ser. Em primeiro lugar, porque o filme tem a intenção de ser polémico e, portanto, deve saber suportar as críticas; em segundo lugar porque a violência sexual, a violação de crianças e a sua representação não podem ser vistos apenas como parte do “tabu ocidental”, ou elementos decorativos num filme sobre os Balcãs. A arte (o cinema, a literatura, o teatro, seja o que for) defende o seu direito a não ter limites; mas deve estar preparada para a discussão e a censura moral. Numa sociedade democrática ninguém está a salvo da crítica, do confronto e do julgamento. Nem mesmo num festival de cinema como o Fantas, por maioria de razões.

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Ideia boa & picante: a Tinta da China lança uma nova coleção: Livros Licenciosos, como ‘O Pauzinho do Matrimónio’, de Bordalo Pinheiro, ‘Entre Lençóis’, de Cândido de Figueiredo, e ‘O Vício em Lisboa’, de Eduardo Schwalbach.

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FRASES

"A ideia é mostrar aos pacientes que nada tenho a esconder e encorajá-los a serem honestos." Sarah White, psicóloga americana que se despe durante as consultas. Ontem, no CM.

"O Portugal político está a passar um momento particularmente estranho." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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março 10, 2011

Blog # 819

Ontem, no seu discurso de tomada de posse, o Presidente da República, utilizou várias vezes a palavra “cultura” sem se referir, exatamente, à “cultura”. Fez bem, até porque o seu discurso foi incisivo, claro e com palavras precisas, longe do tom “redondo” com que os presidentes normalmente falam. Também tem razão quando diz que “esta cultura” (do acomodamento, do favorecimento, da promiscuidade entre Estado e grandes companhias) tem de acabar. Alguns dos seus recados têm endereço certo; outros, dirigem-se a todos. Mas há uma coisa definitiva, no fim de tudo: alguma coisa tem de mudar, e rapidamente, para que seja possível respirar sem ambiguidades. Até nos “meios culturais”, se quiserem. Mais criatividade e menos servicinho. Mais arrojo e menos dependência. Não era mau.

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Um dos autores com uma obra mais multifacetada, distribuindo-se pela crítica, ensaio, teatro e ficção, Miguel Real publica, na Esfera dos Livros, uma ‘Introdução à Cultura Portuguesa’, prefácio de Guilherme de Oliveira Martins.

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FRASES

"Francamente, não julguei viver para ver gente nova (enfim) a exigir vínculo ao Estado." Eduardo Pitta, no blogue Da Literatura.

"Não posso viver mais assim. Tenho muito medo. Sei que um dia ele pode matar-me." “Susana”, sobre o ex-marido, que o tribunal libertou depois de a ter agredido a ela e a 2 militares da GNR. Ontem, no CM.

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março 09, 2011

Blog # 818

A notícia não pode ser ignorada: um “grupo de trabalho” encarregado pelo Ministério da Cultura de estudar o “património imaterial” (cito: “as tradições e expressões orais”, “as expressões artísticas e manifestações de caráter performativo” e “as práticas sociais, rituais e eventos festivos”, por exemplo) custou 209 mil euros durante um ano – mas apenas se reuniu uma vez e não produziu senão umas páginas soltas. Tudo neste assunto é ridículo. O objeto de estudo é tão vasto que não cabe nas atribuições de um “grupo de missão”; há suficientes livros, teses e arquivos com essa recolha; a finalidade desse trabalho é imprecisa e para completá-la seriam precisos anos e anos; nem tudo o que é património imaterial diz respeito à cultura. Uma preciosidade risível, esta história.

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A Caminho acaba de publicar uma bela fotobiografia: trata-se de ‘Sophia de Mello Breyner Andresen. Uma vida de poeta’, de Teresa Amado e Paula Morão. Sophia em imagens fatais, que recordam uma das grandes vozes da nossa poesia.

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FRASES

"Não consta que as crises sejam más para os ricos. Aliás, vejam-se as soluções deste governo." Luís Naves, no blogue Albergue Espanhol

"Parece que há cada vez menos confessionários nas igrejas. Os fiéis evitam confessar-se." Manuel Catarino, ontem, no CM.

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março 08, 2011

Blog # 817

São uns corpos de branquelas enregeladas, à espera das dietas de Abril e Maio. E uns trejeitos pelintras de quem imagina o sambódromo como uma dependência de um baile de bombeiros. E um frio tremendo a bafejar os “foliões” que vão para a rua ver passar desfiles de maltrapilhos. E uns machões de tule & serpentina mascarados de meretrizes. E umas senhoras a gritar “mamãe eu quero”. E uns carros alegóricos com o nariz de José Sócrates, disfarçados em cima de tratores enlameados. E uma imitação de alegria que a chuva arreda para o meio da tarde. E umas atrizes de novela à espera que tudo acabe para poderem arrecadar o modesto cheque. E neve no alto das serras, transformada em lama nas ruas cá em baixo. O “carnaval lusitano” é um dos nossos pequenos horrores periódicos.

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Já não o lia há muito. A 11/17 acaba de publicá-lo em formato de bolso, maneirinho: ‘Húmus’, de Raul Brandão, um diário sem tempo, circunstância, ou vaidade. Brandão influenciou muitos escritores mas, infelizmente, é pouco lido.

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FRASES

"Há sítios onde só deve haver o wireless do silêncio e da imaginação." Nuno Costa Santos, no blogue Melancómico.

"Os direitos dos trabalhadores são o primeiro sacrifício que Sócrates vai oferecer em Bruxelas." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

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março 07, 2011

Blog # 816

Jel e Falâncio na Alemanha: foi a grande notícia da madrugada de domingo. O Festival da Canção não vale grande coisa nem tem, hoje, relevância musical ou televisiva — mas continua a existir e a agonizar. Os organizadores decidiram entregar a escolha “ao voto popular”. Só que o “voto popular” já conhece as manhas e manigâncias da ordem, e estava decidido a rir do Festival e daquela pompa chinfrim e patarata. Limitou-se a aproveitar a oportunidade e a votar em quem mais ridiculariza não só o Festival mas tudo o que mexe. Jel e Falâncio, “Os Homens da Luta”, são um duo propositadamente irritante e pateta. Desta vez, se chegarem à final (o que é improvável), não vão só atemorizar o bom-senso ou o Portugalinho que se indignou na plateia. Vão atirar beijinhos a Angela Merkel.

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Já tinha chamado a atenção para João Paulo Cuenca, o brasileiro autor de ‘O Único Final Feliz para uma História de Amor é um Acidente’ (Caminho). Lido todo, é uma agradável surpresa. E Cuenca é um delirante escritor a não perder.

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FRASES

"Vivemos num país de entretenimento e, nessa medida, a família real é um bem valioso." Tom Hooper, Óscar de Melhor Realizador com ‘O Discurso do Rei’. Ontem, no CM.

"É entediante ficar à espera que chegue ao Governo o próximo comerciante de automóveis." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

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março 05, 2011

Isto sim

Imaginemos que André Villas-Boas entrava em campo, no final de um jogo, para agredir um jogador do Nacional à vista das câmaras de televisão; imaginemos que, uma semana depois, repetia a graça e entrava em campo para empurrar jogadores e equipa técnica do Marítimo, acompanhado do director do futebol do FC Porto. Desenho o cenário: primeiras páginas denunciando o escândalo, sangue na estrada, indignação do departamento de comunicação do Benfica, o dr. Ricardo Costa ressuscitava, multiplicação de imagens do YouTube, umas boas almas pedindo ao treinador para ter juízo — além de declarações de Jorge Jesus (neste caso com sujeito, predicado e complemento directo) mostrando o seu desagrado com a situação, ou do dr. Gomes da Silva pedindo justiça, e da célere, da Bayer.

Lamento informar-vos, mas ao contrário do que murmuram os maledicentes do costume, não foi isto que aconteceu. Eu conto; é esta a versão correcta: com a sua proverbial elegância, Jorge Jesus entrou em campo no final de um jogo com o Nacional para felicitar os jogadores e em especial um deles, que abraçou de forma comovida mas com macheza e consideração. No final do jogo com o Marítimo, o treinador Jorge Jesus (na companhia do director do futebol do Benfica) entrou de novo em campo, distribuindo carolos amigáveis, abraços e apertos de mão aos jogadores e à equipa técnica adversária, saudando-os pela luta proporcionada durante o prélio e cumprimentando este e aquele, oferecendo pastilhas elásticas à sua volta. No decorrer desta operação de charme (transmitida em directo pela televisão) verificou-se também que a entrada no túnel de acesso aos balneários foi o palco de novas manifestações de apreço pela equipa adversária e, pelo movimento dos lábios, pudemos apreciar alguns elogios e simpáticas palavras de conforto aos maritimistas.

Há quem diga que Jorge Jesus, bom anfitrião, exagerou nas suas demonstrações de donaire e cavalheirismo para com equipas madeirenses. Parece, no entanto, que vai estender a prática a outros jogos, com a amigável compreensão da Liga.

in A Bola - 5 Março 2011

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março 04, 2011

Blog # 815

Um grupo de fãs da presidente argentina, Cristina Kirchner , lançou um abaixo-assinado para que Vargas Llosa não vá à feira do livro de Buenos Aires. Parece que o Nobel, entre outras coisas, criticou o governo argentino; trata-se de um “reacionário, inimigo das indústrias culturais e útil a um sistema de dependência cultural na América Latina”. Por isso, o convite para participar na feira é “uma ofensa à cultura argentina”. A nenhum dos génios que quer barrar o caminho de Llosa passa pela modesta cabeça a evidência de que o escritor pode dizer o que pensa, independentemente do convite para falar na abertura do evento. Kirchner, manhosa, já exigiu o fim do abaixo-assinado, para que não se diga que há censura no seu país. Mas mandou dizer que Llosa é um inimigo, sim.

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A Sextante publica em Março ‘Ponto Ómega’, do americano Don DeLillo (tradução de Paulo Faria): uma incursão pelo absurdo da guerra e da política americanas, com o olhar culto e penetrante de De Lillo. Só isso já é bom.

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FRASES

"O objetivo é fazer com que um filme possa ser local para, a partir daí, poder ser global." Ian Haydn Smith, editor do ‘International Film Guide’. Ontem, no CM.

"Por isso, quando lhe disserem “vai trabalhar”, diga “vai tu” e mostre o dedo." Tiago Moreira Ramalho, no blogue A Douta Ignorância.

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março 03, 2011

Blog # 814

O que se passou entre 1921 e 2011? Jane Russell. Muitos preferem chamar a atenção para a morena de ‘Os Homens Preferem as Louras’, mas não há como ‘The Outlaw’ (‘A Terra dos Homens Perdidos’), o seu rosto duro e sem promessas, ou ‘Macau’, a face de uma doçura perversa e dramática. Era uma grande, extraordinária atriz? Não. Era Jane Russell, meio cómica e meio trágica, subvalorizada, a fotografia do ‘western’ mais do que clássico, atrevido, a meio tom. Sim, e os seios. Exatamente eles, sem ‘photoshop’ nem armadilhas, inesquecíveis, um tormento amável para os adolescentes quando eu era adolescente, uma lembrança fatal para os adultos quando eu entrei na idade adulta – e as mamas de Jane Russell passaram a esse estatuto. Se o cinema é sonho, não sei bem o que dizer mais.

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Acaba de sair o segundo volume da ‘História de Portugal e do Império Português’, de A.R. Disney (Guerra e Paz) – e que acompanha o período entre a tomada de Ceuta e o século XVIII. Um risco editorial a seguir com disponibilidade.

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FRASES

"Os actores, cuja existência aparece sempre rodeada de glamour, vivem com a corda na garganta." Luísa Costa Gomes, ontem, no CM.

"Ainda há intelectuais que não sabem que é proibido proibir." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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março 02, 2011

Blog # 813

Lembram-se de Serge Gainsbourg? Morreu há exatamente vinte anos, depois de uma vida cheia de canções, escândalos, álcool, duetos inesquecíveis. A nossa memória está cheia desses encontros. Cantou com Brigitte Bardot, com Deneuve (“Dieu est un fumeur d’Havanes”) e, naturalmente, com Jane Birkin (ah, “Je t’aime, moi non plus”) – e escreveu para gente tão diferente como France Gall, Gréco, Françoise Hardy ou Petula Clark. Discípulo de Boris Vian para o bem e para o mal, a imagem de Gainsbourg, o notívago decadente, talvez não sobrevivesse aos dias de hoje, mais puritanos e vigiados. Vinte anos depois, o seu rosto vincado e mal barbeado é ainda a lembrança de uma beleza triste, apaixonada, provocadora e adolescente. Esquecê-lo seria um pecado e uma cedência desgraçada.

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Vale a pena ver como a leitura nem sempre é um bem inquestionável. Leia-se ‘A Biblioteca Privada de Hitler’, de Timothy W. Ryback (Civilização). Quando se falar de “leitura & cidadania” (uma patetice) lembrem o caso de Hitler.

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FRASES

"É grave, porque há crianças cuja única refeição que fazem é na escola." José Martins, Associação de Pais de Sobral de Monte Agraço, sobre o fim das refeições nas escolas do concelho. Ontem, no CM.

"Fujam: Teixeira dos Santos está desesperado." Rui Passos Rocha, no blogue Delito de Opinião.

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março 01, 2011

Blog # 812

De Moacyr (1933-2011), os primeiros livros que li foram ‘O Exército de um Homem Só’ e ‘O Centauro no Jardim’, momentos centrais de uma obra de interrogações e perplexidades. ‘A Mulher Que Escreveu a Bíblia’ é um desses livros, tal como ‘A Majestade do Xingu’, uma história da emigração de judeus russos para o Brasil. O seu mundo era esse: o de Porto Alegre, a sua cidade transformada em catalisadora da sua memória judaica, da gente humilde que fugira da velha Rússia ou do comunismo. Lembro a sua casa, cheia de livros; escrevia em todo o lado, a toda a hora, sempre com um livro «para terminar». Ficámos amigos por causa de ‘A Condição Judaica’, um pequeno livro que mostrava o Moacyr simples, com o seu gosto pela beleza ética do judaísmo. Um adeus para Moacyr não basta.

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‘A Separação do Estado e da Igreja’, de Luís Salgado de Matos (Dom Quixote), é um livro tão extenso como fundamental para entender “a questão religiosa” durante a I República. 720 páginas de grande trabalho de investigação.

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FRASES

"Os jovens são como o Bloco. Querem um mundo novo, mas é daqui a três fins de semana." Luís Januário, no blogue A Natureza do Mal.

"Indícios exagerados de incomodidade relativos ao barulho." Fonte da CM Portimão sobre desacatos à porta do Café Obama. Ontem, no CM.

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