junho 29, 2011

Blog # 898 e pausa

O Grande Prémio de Romance e Novela APE foi atribuído a Gonçalo M. Tavares e ao livro ‘Uma Viagem à Índia’ (Caminho). Trata-se de uma dupla distinção – em primeiro lugar, a um livro original, a uma obra que de certa maneira reavalia a forma como a literatura se cruza com a história, a herança camoniana, o desvario português da viagem. É um livro ambicioso e monumental, um romance – apesar da sua forma versificada – que ninguém pode daqui em diante ignorar. Em segundo lugar é uma distinção a um autor que, nos últimos dez anos, atravessou todas as referências na nossa literatura. Depois de ‘Jerusalém’ seria impossível não perceber a sua grandeza e a forma como iria ser tão importante. O seu trabalho merece esta distinção e as que têm perseguido o seu talento em todo o mundo.

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FRASES

"Perguntar sobre os livros que se leu é perguntar sobre conquistas amorosas ou contas bancárias." Tiago Moreira Ramalho, no blogue A Douta Ignorância

"Para alguém que escreve, os prémios representam também a possibilidade de defender melhor o seu tempo de trabalho." Gonçalo M. Tavares, ontem, no CM

Nota: Por motivos que facilmente se compreendem, esta coluna deve interromper-se durante algum tempo. Exercer um cargo público não deve supor que se interrompam coisas como ler, pensar, escrever. Por isso, este Blog regressará em breve.

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junho 28, 2011

Blog # 897

Numa entrevista ao ‘Financial Times’, Philip Roth revela que, a determinada altura, deixou de ler ficção. “Não leio nenhuma ficção. Leio outras coisas: história, biografia. Não tenho pela ficção o mesmo interesse de antigamente.” A jornalista quis saber como é que isso aconteceu, e Roth deu uma resposta ainda mais enigmática: “Não sei. Fui ficando mais ajuizado...” Esta má relação dos ficcionistas com a ficção não é estranha nem é uma ameaça para a arte do romance. José Cardoso Pires, por exemplo, não lia ficção enquanto escrevia – o argumento era o “receio da contaminação” ou da “influência”, mas havia mais: evitar a tentação do “circuito fechado”, do ensimesmamento da arte de contar histórias. Isto é, a literatura deve procurar a sua matéria longe da literatura.

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No número de pessoas extraordinárias estará certamente Jorge Calado. O Instituto Superior Técnico acaba de sair ‘Haja Luz! Uma história da química através de tudo’, festejando o Ano da Química e fazendo o elogio da curiosidade.

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FRASES

"Nunca vivi nos EUA e os filmes americanos que fiz surgiram na Europa.
Maria de Medeiros, ontem, no CM.

“Há pessoas que parecem ter mais talento para serem pessoas do que outras.
Nuno Costa Santos, no blogue Melancómico

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junho 27, 2011

Blog # 896

No fim de semana vi três ou quatro episódios de ‘Columbo’, por causa de Peter Falk (1927-2011) e do próprio Columbo. Parte da minha primeira adolescência televisiva passou-se nos serões com Peter Falk; na época (foram 70 episódios), o seu modelo de detetive era original e desarmante, a sua voz nasalada era um convite ao riso, os seus modos eram os de um desastrado e desmazelado – nós usávamos gabardinas “à Columbo”. Também era verdade que, enquanto assistíamos aos episódios, na televisão, desconhecíamos a ‘teoria da ciência’ subjacente ao seu método de investigação, e que o aproximaria de um Sherlock Holmes californiano. Peter Falk nunca conseguiu deixar, daí em diante, de ser Peter Falk e de se confundir com o talento triste e solitário de Columbo. Morreram os dois.

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Um autor em belíssima hora redescoberto e reeditado entre nós: saiu há umas semanas ‘O Reino Deste Mundo, do cubano Alejo Carpentier (1904-1980) (Saída de Emergência); autores assim não podem desaparecer das nossas estantes.

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FRASES

"Talvez nunca se consiga chegar a um acordo para a paz na região." Eric Frattini, autor de ‘Mossad. Os Carrascos do Kidon’, ontem, no CM.

"Sou um homem musicalmente rico em instrumentos que sopram a partir dos pedais." Tiago Cavaco, no blogue Voz do Deserto.

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junho 25, 2011

Adeus, bem vindo

Nunca falei com ele. Mas ouvi-o bastante e considerei, desde o primeiro minuto, que era um treinador à altura das exigências do FC Porto para a renovação que — à vista de todos — era mais do que necessária depois de um ciclo de vitórias. Chamei-lhe “cavalheiro” e insisti no facto de que o FC Porto precisava de um “cavalheiro” naquele posto, não só para reforçar os laços dos adeptos com o clube mas, também, para reafirmar a raiz do próprio clube. Era um risco, foi um risco — mas André Villas-Boas foi, felizmente, tudo o que se esperava e ainda mais. Revelou-se um bom estratega, um bom treinador e um bom rosto para essa nova fase do FC Porto.

Por isso tomo a decisão do Chelsea como uma espécie de “afronta pessoal”; porque Villas-Boas estava na base de uma reconstrução em curso. O mundo do futebol e dos seus profissionais é feito de opções de risco, no fio da navalha, no coração da tempestade. Só assim se compreende que esta saída de André seja o resultado da natural ambição de um treinador jovem e de grande qualidade, aproveitando esta oportunidade fatal. Infelizmente, por ser o Chelsea, a decisão tem um pouco de “déjà vu”; e as comparações com Mourinho serão injustas.

Adeus, André — bem vindo Vítor Pereira. Não se trata de uma segunda escolha, mas da opção natural no interior de um clube forte e de sólida cultura dirigente. A opção por Vítor Pereira pretende, antes de mais, provar que existem no FC Porto massa crítica e soluções de mérito. Vítor Pereira pode bem ser essa prova de qualidade que qualquer clube precisa. Ele pode fazer esquecer esta traição que não merecíamos.


P.S. – Platini, o francês que preside à UEFA, usou o FC Porto numas declarações despropositadas sobre futebolistas estrangeiros. É perseguição e ressentimento. Platini foi estrangeiro como jogador e jogou ao lado de estrangeiros. Com estas declarações persegue, inesperadamente, o objectivo de confirmar as opiniões dos que o consideram um tonto.

in A Bola - 25 Junho 2011

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junho 24, 2011

Blog # 895

O desenhador de roupa John Galliano está a ser julgado em Paris mas diz que não se lembra de ter dito que “adorava Hitler” nem de ter proferido insultos racistas e antissemitas. Parece que o problema tem a ver com a sua “dependência” do álcool e das drogas, coisa que está a ser tratada numa clínica de reabilitação americana. Galliano não é uma figura simpática; o seu lado histriónico basta para esconder todos os eventuais traços de humanidade e de simpatia. As suas criações para a Dior ressentem-se disso mesmo: a encenação apaga a beleza. A valorização do distúrbio e da excentricidade servem para espantar a “normalidade burguesa”. Há, suponho, uma ligação entre tudo isto. Um dia, Galliano vai esquecer-se de muitas das suas criações como hoje se “esqueceu” de Hitler.

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Deixei passar e numa pausa retomei as páginas de ‘Os Folgazões’, de Robert Louis Stevenson, traduzido por Aníbal Fernandes (Assírio & Alvim). O mar escuro e violento da Escócia, um tesouro, um galeão espanhol – e tudo o resto.

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FRASES

"Não há nada que eu possa dizer que apague a sensação de [os adeptos] terem sido traídos." André Villas-Boas, ontem, no CM.

"A improdutividade, blá blá blá, e vivemos acima, e tal. E claro, os sacrifícios. Até segunda." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

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junho 23, 2011

Blog # 894

Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811) morreu há duzentos anos, cumpridos hoje. Há uns anos, salvo erro, qualquer aluno do ensino secundário sabia de quem se tratava – todas as coletâneas (“seletas”, como então se denominavam) incluíam um célebre soneto (“Chaves na mão, melena desgrenhada”) em que, de dentro de um toucado, surgia um colchão desaparecido (“Eis senão quando [caso nunca visto!]/ Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!”) Nós ríamos bastante e tínhamos razões para isso: Nicolau Tolentino era um boémio setecentista com gosto afinado para a sátira e para o exagero. Professor primeiro (de retórica), oficial de secretaria depois, a sua poesia nunca ultrapassou aquele nível de curiosidade risível e clássica. Mas era bom relê-lo para ter algumas surpresas.

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O prof. Hermínio Martins (1934), professor de Oxford e Lisboa, é um dos nomes que deveríamos reter na nossa memória distraída. A Relógio d’Água acaba de publicar ‘Experimentum Humanum. Civilização Tecnológica e Condição Humana’.

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FRASES

"A esquerda é fratricida, fraturante e ciosa da afirmação de intransponíveis linhas vermelhas." Eduardo Cabrita, ontem, no CM.

"Finalmente, uma neokantiana [Assunção Esteves] emerge no meio desta tristeza decadentista." J. Adelino Maltez, no blogue Albergue Espanhol.

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junho 22, 2011

Blog # 893

A morte de Pedro Hestnes devia afligir-nos – não só porque se trata da morte, em si mesma, mas porque a quase eterna juventude do rosto de Hestnes há-de ficar a marcar uma parte do cinema português dos anos noventa, com a sua placidez, a sua beleza sem tranquilidade, o seu olhar. Passou pelos filmes fundamentais dessa era de renovação – de ‘O Sangue’, de Pedro Costa, a ‘Agosto’, de Jorge Silva Melo, ou ‘A Idade Maior’, de Teresa Villaverde e ‘Três Menos Eu’, de João Canijo. Há outros, mas recordo estes de memória (ah, e ‘Xavier’, de Mozos), como uma espécie de elogio do seu rosto, como uma estrela distante do cinema que fomos capazes de reinventar. Tínhamos a mesma idade, 49, o que é mais doloroso. Quando alguém parte, assim, deixa a impressão de ter ficado muito por fazer.

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Uma família feliz, filhos, marido, casa, hipotecas, tudo como manda a América. E, de repente, Anna Quindlen escreve ‘Até ao Último Medo’ (Civilização) para desconstruir esse cenário e anunciar que o mundo não pode ser perfeito.

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FRASES

"Em três semanas de ação na Líbia, a Europa esgotou as munições." João Vaz, ontem, no CM.

"Quem me dera que o modernismo e o experimentalismo tivessem influenciado a narrativa em Portugal." Alexandre Andrade, no blogue Um Blog Sobre Kleist.

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junho 21, 2011

Blog # 892

Amy Winehouse é uma figura de tragédia — ela encarna a figura do talento prodigioso que raramente aproveita as oportunidades que tem para ser o que merece: uma estrela amada. Amada pela sua voz, amada pelo seu timbre verdadeiramente ‘soul’, até amada pelos seus desastres. Houve talentos desses consumidos pelas drogas e pelo álcool, destruídos pela fama e pela má-sorte. Mas Amy Winehouse é uma espécie de Sísifo que não consegue transportar até ao cume da montanha o peso extraordinário da sua vida. Cai demasiadas vezes devorada pelos seus fantasmas ou pelo álcool, o que começa a ser um excesso, até mesmo para os seus fãs mais adolescentes, como uma repetição da desgraça, uma espécie de drama aguardado com a irregularidade de uma coisa que já não seduz nem impressiona.

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Jacinto Lucas Pires parecia ter escolhido em definitivo o teatro e esquecido o romance. Aqui está o seu novo romance, que no título junta as duas dimensões: ‘O Verdadeiro Ator’ (Cotovia). É bom tê-lo de volta para a ficção pura.

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FRASES

"Podemos sair da religião, mas não há maneira da religião sair de nós." Bruno Vieira Amaral, no blogue A Douta Ignorância.

"Nuno Crato pertence ao grupo de professores que não vão nas cantigas das novas pedagogias." Manuel Catarino, ontem, no CM.

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junho 20, 2011

Blog # 891

Aos oitenta anos, John Lee Hooker (1917-2001) publicou um álbum inesquecível, ‘Don’t Look Back’. Os que o conheceram apenas com essa idade não reconheceram no seu som toda a eloquência melancólica dos “Chicago blues”, comandada por uma guitarra que se tornou um ícone de toda a sua obra. Uma obra-prima, ‘Don’t Look Back’ (a canção com esse título é reinterpretada em dueto com Van Morrison) também não resume uma carreira com cerca de cem discos publicados, de onde trauteamos “Boogie Chillen”, “Serves Me Right To Suffer”, “Boom-Boom” ou “One Bourbon, one Scotch, one Beer” – mas é um bom começo para quem não foi ainda tocado pela magia dos ‘blues’ e daquela arqueologia negra, profunda. A sua voz era única, um apelo das profundezas. Morreu há dez anos, a assinalar amanhã.

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Para quem gostou de ‘O Tigre Branco’, o romance vencedor do Booker Prize de 2008, a Editorial Presença acaba de fazer chegar às livrarias o novo romance de Aravind Adiga, ‘O Último Homem na Torre’. Um regresso a Mumbai (Bombaim).

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FRASES

"Não sei se haverá mais algum feriado que tenha sido escolhido em referendo." Historiador Hélder Pacheco, sobre o feriado de S. João no Porto. Ontem, no CM.

"A contrarrevolução prepara-se para a instalação de minas e armadilhas na 5 de Outubro." João Lisboa, no blogue Provas de Contato.

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junho 18, 2011

Ao Governo


Francisco José Viegas, secretário de Estado da Cultura do XIX Governo Constitucional, de 49 anos, é escritor, foi professor universitário, jornalista e diretor da Casa Fernando Pessoa e dirige atualmente a Quetzal Editores e a revista LER, e tem um blogue chamado "Origem das Espécies".

Nascido a 14 de março de 1962, nasceu no Pocinho, Vila Nova de Foz Côa, hoje a última paragem da linha ferroviária do Douro, e aí viveu até aos oito anos, altura em que se mudou para Chaves, porque os pais, professores do ensino primário, ali foram colocados.

Em 1983, licenciou-se em Estudos Portugueses, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, e foi, até 1987, assistente de Linguística na Escola de Ciências Sociais da Universidade de Évora.

Foi diretor da Grande Reportagem e da Gazeta dos Desportos

Abandonou o ensino para se dedicar ao jornalismo, e integrou as redações de vários jornais e revistas portugueses, como o Jornal de Letras, Expresso, Semanário, O Jornal, Se7e, Diário de Notícias, O Independente, Record e Visão.

Ocupou o cargo de diretor das revistas LER, Grande Reportagem e ainda da Gazeta dos Desportos e, entre 2006 e 2008, dirigiu a Casa Fernando Pessoa, que deixou para voltar à direção da LER, onde até agora se manteve.

Tem um programa na TVI24

É autor e foi apresentador de vários programas de televisão, como Escrita em Dia (SIC), Falatório (RTP2), Ler Para Crer (RTP2), Prazeres (RTP1), Um Café no Majestic (RTP2), Primeira Página (RTP1) e Livro Aberto (RTP-N), e do programa de rádio da Antena 1 Escrita em Dia. Atualmente, tem um programa na TVI24, chamado Nada de Cultura.

Escreveu diversos livros de poesia, livros de viagens e romances, entre os quais "As Duas Águas do Mar", "Um Céu Demasiado Azul", "Morte no Estádio", "Um Crime na Exposição", "Um Crime Capital","Lourenço Marques" e, o mais recente, "O Mar em Casablanca", publicado em 2009.

Em 2006, foi distinguido com o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído a "Longe de Manaus" (2005). Os seus livros estão publicados na Alemanha, em Itália, no Brasil e em França.

in Expresso on-line - 18 Junho 2011

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Nuno Gomes

Em Março passado, na sequência do Portimonense-Benfica, escrevi o seguinte neste jornal: “Nuno Gomes é um jogador desprezado. São vários os factores que levam ao seu afastamento. Pessoalmente, gosto desses jogadores desprezados, empurrados para o banco – não por serem maus, claramente maus, mas ‘por causa da idade’. Não há nada mais cretino do que invocar a idade de um futebolista para o relegar para o balneário. Ele transporta consigo a experiência, a memória, a disponibilidade, e a arte que o fez ser indispensável. O golo de Nuno Gomes contra o Portimonense reabilita esses jogadores injustamente afastados; fica como um símbolo de permanência do que é bom no futebol.”

Gostava de insistir no assunto – e longe de qualquer quezília contra o Benfica. Nuno Gomes é um símbolo do Benfica e, portanto, está longe de ser um dos ícones da minha vida. Acontece que o que sucedeu com Nuno Gomes (a sua dispensa ao fim de uma carreira dedicada ao seu clube, mesmo com uma interrupção para jogar no estrangeiro) também sucedeu com outros jogadores de outros clubes e, inclusive, do meu. Defendo que há um módico de gratidão a dispensar aos símbolos dos clubes – de contrário, nem os clubes merecem a alegria dos adeptos nem os favores dos seus emblemas. Há jogadores que vão e vêm, há jogadores que trepam e desaparecem, que estão apenas presos a um contrato vantajoso; e há jogadores que fazem parte, desde o início das suas carreiras, à galeria dos retratos do clube. Nuno Gomes veio do Boavista; mas o modo como se transformou em elemento principal do Benfica não fazia prever este afastamento tão envergonhado e silencioso. Se a questão é “meramente técnica” é preciso explicar por que razão Nuno entrava em campo e marcava; se a questão é da idade, então é melhor darmo-nos conta de que o futebol vai mal. Eu gosto de jogadores “de uma certa idade”, gosto de jogadores que transportam uma boa parte da memória do clube. O despedimento de Nuno Gomes é um atentado à memória do futebol.

in A Bola - 18 Junho 2011

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junho 17, 2011

Blog # 890

John Irving dizia que – pelo menos no seu caso, evidentemente – num romance tudo se decidia em dois momentos: no título e nas primeiras, digamos, cinco a dez páginas. Talvez por isso, o arranque de ‘O Estranho Mundo de Garp’ ou de ‘Hotel New Hampshire’ é muito bom e transporte o leitor à “necessidade de continuar a ler”. O processo de José Saramago seria diferente, mas, de qualquer modo, não esquecemos as primeiras linhas de ‘Memorial do Convento’ ou de ‘Ensaio Sobre a Cegueira’. Nos últimos tempos de vida, Saramago escreveu as vinte páginas iniciais de ‘Alabardas, Alabardas! Espingardas, Espingardas!’, um romance – e que serão publicadas no próximo ano, como foi ontem anunciado. Tudo num romance vem da forma como se começa a desenhar o seu futuro. Veremos no próximo ano.

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A Relógio d’Água tem vindo a reeditar alguns clássicos ingleses e russos que teriam toda a vantagem em serem lidos. Acaba de chegar às livrarias ‘Jane Eyre’, de Charlotte Brontë – um pioneiro do feminismo, queiram ou não.

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FRASES

"Se derem mais anos aos gregos para pagar a dívida, a Europa ainda pode ser salva em Atenas. Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Há vezes em que de nada adianta o azul do céu e o chilreio dos pássaros." J. Rentes de Carvalho, no blogue Tempo Contado.

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junho 16, 2011

Blog # 889

É, sem dúvida, um mau exemplo: uns alunos do Centro de Estudos Judiciários (CEJ) copiaram no exame. A ‘descoberta’ foi feita pela diretora do CEJ e devia ser motivo de certo e justificável escândalo. Copiar num exame é infantil e desonesto; e para todos os efeitos é um crime – que, em princípio, a lei não pune. Que seja cometido por futuros juízes e magistrados é ainda mais grave. Esperava-se uma medida disciplinar adequada à grave transgressão cometida pelos candidatos e ela veio: os testes foram anulados, como manda a decência. Mas, inexplicavelmente, atribuiu a mesma nota a todos os que frequentavam a ‘cadeira’ de Investigação Criminal e Gestão do Inquérito: 10. Trata-se de uma tremenda injustiça, incompreensível numa instituição como o CEJ. Protejam-se, cidadãos.

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“Nem épicas nem líricas,/ as palavras vão ficando pelos lugares da terra/ onde passei. E nada lamento.” Trata-se do regresso de Luís Filipe Castro Mendes – o novo livro de poemas leva o título de ‘Lendas da Índia’ (Dom Quixote).

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FRASES

"A justiça do Supremo não prevê outra possibilidade que não seja a da sua própria vontade." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"Passos Coelho foi indigitado à uma da tarde. Não me liguem. Preciso do telefone desocupado." Rodrigo Moita de Deus, no blogue 31 da Armada.

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junho 15, 2011

Blog # 888

Dos seus discos, os únicos originais que tenho são os duplos ‘Play it Again Erroll’ (de 1974) e ‘The Elf. The Savoy Sessions’ (de 1976). Só os comprei depois da morte de Erroll Garner, em 1977 – um pianista que sempre me deu a ideia de ser bastante tímido e mais melancólico do que merecia. Isso deve-se à interpretação do seu tema mais famoso, “Misty”, um monumento do jazz que passa de década para década (é de 1954) transportando a beleza quase cinematográfica que os ouvidos de hoje lhe atribuem. Há quem lembre o seu piano a acompanhar Charlie Parker em ‘Cool Blues’ (nunca ouvi), que devia ter sido brilhante e inesquecível; mas a verdade é que ‘Misty’ é incomparável, como o prova o filme de Clint Eastwood, ‘Play Misty For Me’. Erroll Garner completaria hoje noventa anos.

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Comecei ontem a releitura de ‘A Toupeira’, de John Le Carré (Dom Quixote) – o romance onde “nasce” George Smiley. Recomendo a experiência e, depois, a sequência de livros onde Smiley nos comove sempre. Perfeição à beira do abismo.

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FRASES

"Eu sei que é só uma mexeriquice, mas não consigo parar de rir: Sócrates vai estudar Filosofia." Ana Cristina Leonardo, no blogue Meditação na Pastelaria

"Dizem que é o Mourinho das Marchas, mas o Mourinho é que é o Mendonça do futebol." Micael Costa, do Ginásio do Alto do Pina, sobre Carlos Mendonça, o ensaiador vencedor das Marchas de Lisboa. Ontem, no CM.

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junho 14, 2011

Blog # 887

Na primeira semana, o novo disco de Lady Gaga atingiu um milhão de vendas. Na Amazon, o preço foi de apenas um euro durante dois dias. Na segunda semana, as vendas desceram para 174 mil discos, um desastre. O responsável pela tabela ‘Billboard’ acha que isso não tem importância porque daqui a uns anos, diz, o preço de um disco pode bem ser de um euro. A ‘ilusão da gratuitidade’ (na net ou nas lojas) é um dos crimes mais correntes; desvalorizando os ‘bens culturais’ e adicionando-lhes cargas substanciais de publicidade, a indústria do entretenimento suicida-se rapidamente. Os livros, os filmes, os discos – têm um preço. O resto é meio caminho andado para a erosão do mercado da cultura, para a falência das periclitante economia e para o triunfo da mediocridade. E rápido.

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Na Feira do Livro do Porto refiz a minha biblioteca de Carter Dickson/John Dickson Carr (são o mesmo autor): catorze livrinhos (na coleção Vampiro) que me devolvem os geniais detetives Henry Merrivale e Gideon Fell. É o verão.

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FRASES

"Faz sentido o Presidente defender um repovoamento do interior e um regresso à terra." José Rodrigues, ontem, no CM

"Não é nada óbvio que um país deva ter como objetivo equilibrar a sua balança alimentar." Priscila Rêgo, no blog A Douta Ignorância.

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junho 13, 2011

Blog # 886

Num país pouco liberal e que desconfia quando se lhe mencionam “direitos civis”, António Barreto pediu – no discurso do 10 de junho – que os portugueses sejam “tratados como cidadãos livres” e “não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados”. É uma exigência fundamental, mesmo em tempos difíceis e de exceção. Mas isso supõe que a política não seja pensada longe das “pessoas concretas” e das suas dificuldades; e que se abandone grande parte dos preconceitos que impedem as mudanças a fazer – na Constituição, na relação com o trabalho e com o Estado, na avaliação das prioridades. A nossa cultura mostra-nos séculos de hostilização dos cidadãos, chamados nas horas difíceis e depois usados como empecilhos que alimentam o Estado. É isso que tem de mudar.

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Ler Tucídides, Cícero, Demóstenes ou Aristófanes neste verão? Pode acontcer depois de folhear ‘Voltar a Ler os Clássicos’, de Roger-Pol Droit (Temas e Debates) – um passeio pelos autores da antiguidade, sugerindo que estão vivos.

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FRASES

"Uma sociedade livre e pluralista não permite que o poder meta a pata na comunicação social." João Pereira Coutinho, ontem, no CM.

"Não aprecio o meu nariz, mas gosto muito do meu blogue." No blogue Ouriquense.

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junho 10, 2011

Arrumações

Blog # 885

Carlos Reis, coordenador dos programas do ensino básico, acha que “talvez devesse ser dado a Camões um outro realce, não apenas quantitativa mas também qualitativamente”. Tem razão. O problema é que Portugal tem um problema com Camões – e não é literário, como devia ser (porque é um génio de dimensão universal. É, em vez disso, de natureza política. Desde o século XIX que Camões é sinónimo de patriotismo. Primeiro, pela mão dos republicanos; depois, pela do Estado Novo; depois, alternadamente, ora pela “esquerda cívica”, ora pela “direita das escolas”. De fora fica Camões como um génio a ler, reler e comentar. Hoje, Dia de Camões de das Comunidades, apetecia sugerir a leitura do autor de ‘Os Lusíadas’ – um soneto que fosse, uma redondilha. Hão-de ver que é deslumbrante.

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É uma cronista de eleição. O primeiro livro foi ‘Há Raposas no Parque’ (Quid Novi, de 2009); agora, sai ‘O Inverno das Raposas’ (Orfeu) – Clara Macedo Cabral é, por excelência e talento, a cronista portuguesa de Londres. Muito bom.

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FRASES

"Quão multiformes podem ser as variantes do lamento ‘o povo não sabe o que é melhor para ele’." Alexandre Andrade, no blogue Um Blog Sobre Kleist

"Esperamos que esta prova não sirva de modelo para o próximo ano." Miguel Abreu, da Soc. Port. de Matemática, sobre o teste do Ensino Básico. Ontem, no CM.

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junho 09, 2011

Blog # 884

Poucos homens poderiam manter, ao longo da vida, uma tal elegância e uma tal profundidade. Jorge Semprún (1923-2011) teria de ser um deles; o seu ‘A Escrita ou a Vida’ (1994) é um testemunho raro; os seus ‘A Segunda Morte de Ramón Mercader’ (1969) e ‘Autobiografia de Federico Sánchez’ (1977) entram em qualquer panorâmica da literatura e da política espanholas; no cinema, não deve ser esquecida a sua colaboração com Costa-Gravas e Alain Resnais. A polémica perseguiu-o, de Buchenwald ao Partido Comunista espanhol, mas a sua aura sobreviveu. Conheci-o em Madrid quando era ministro da Cultura: um rosto tranquilo, uma voz pausada; era independente numa Espanha que queria alinhados à força, o que lhe custou o lugar. A sua morte deixa o mesmo rasto de turbulência. É o costume.

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Livro que me deixou fascinado: ‘De Ourique a Aljubarrota. A Guerra na Idade Média’, de Miguel Gomes Martins (Esfera dos Livros). Como morríamos, matávamos, estudávamos os inimigos e organizávamos a vida durante a batalha? Excelente.

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FRASES

"Só mais uma coisa: o voto é sempre ‘útil’. As pessoas votam sempre em quem querem votar." Lourenço Cordeiro, no blogue Complexidade e Contradição.

"Em 2007 o número de crianças nascidas foi inferior ao número de falecidos." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

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junho 08, 2011

Blog # 883

Seria simples explicar nas escolas – agora que elas estão prestes a fechar para férias – a alegria da música, a sua simplicidade e também a sua leveza. Bastava ouvir-se um pouco de Albinoni, de quem se assinalam, hoje, os 340 anos do seu nascimento em Veneza (1671-1751). Muitas vezes, os seus concertos e sonatas parecem divertimentos permanentes, buscando uma intensidade que nunca atinge. Essa é a sua arte e deve ser vista como uma vantagem. Parte da desvalorização de Tomaso Albinoni deve-se ao célebre Adagio que, afinal, ele não compôs mas lhe foi colado como um adesivo – mas é injusto. Como outros compositores do barroco italiano (como Vivaldi, Tartini ou Corelli), a sua simplicidade é uma iniciação perfeita aos mistérios da música e à sua geometria. Só isso bastaria.

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Capa dura, em fundo vermelho-vivo: é assim a imagem de ‘A Metamorfose’, de Franz Kafka, agora publicado pela Ulisseia. Gregor Samsa, o personagem, nunca mais foi o mesmo. O leitor também não o será depois da primeira página.

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FRASES

"Subalternizado no consulado de Sócrates, o PS começa agora um verdadeiro caminho das pedras." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"Nos últimos seis anos apurou-se o sentido crítico na sociedade portuguesa." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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junho 07, 2011

Blog # 882

O ‘Filme do Desassossego’, de João Botelho, é hoje distribuído com o CM. A adaptação de Fernando Pessoa/Bernardo Soares ao cinema vem na sequência de um interesse antigo do realizador por Pessoa e, naturalmente, pela literatura. O ‘Livro do Desassossego’ é uma das obras mais singulares e “intensas” (ou “densas”) da literatura universal – nas suas páginas cruzam-se os caminhos da ficção com os da poesia, os da solidão com os da alegria raríssima que se traduz por uma arte rara e difícil, a da contemplação. Botelho adapta-o, lê-o, transforma-o em cenário, paisagem e voz; não o segue, o que seria impossível. Fernando Pessoa é um dos nossos génios que só a indiferença pode fazer ignorar ou esconder. Por isso, o filme é um atrevimento impossível de ignorar para a nossa cultura.

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Robert Service é o autor de uma excelente biografia de Vladimir Lenine (na Europa-América); a Aletheia publicou há tempos a sua biografia de Trotsky, que só agora li: um prodígio de informação para compreender um personagem dúplice.

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FRASES

"Eu não sou atriz, retrato a verdade." Carminho, fadista, atriz no filme ‘O Livro do Desassossego’. Ontem, no CM.

"Quando não há nada para fazer, a burocracia é um hábito que se aprende." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mau-Mau.

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junho 06, 2011

Blog # 881

Periodicamente regressa a epidemia. Está escrito em toda a literatura da humanidade desde a Bíblia ao romance ‘A Peste’, de Albert Camus, passando pelas crónicas medievais, pelas narrativas de aventura e viagem do século XVI, pelo manancial de historiografia das catástrofes do século XVIII ou pela literatura da viragem do século – o trágico encontra-nos em todos os períodos de crises. Mais do que o trágico, a necessidade de trágico, cuja explicação impossibilita a intervenção da razão. A ameaça do ‘E.coli’ atinge as sociedades ‘civilizadas’ lembrando a luta contra o invisível. Os cientistas trabalham noite e dia, dizem as notícias, para encontrar um antibiótico capaz. Os legumes frescos, a cura de todos os males, em nome da ‘vida saudável’, ameaçam-nos na contramão.

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Em Junho ainda, mesmo no fim, a Civilização vai lançar o livro de um dos melhores contadores de histórias do nosso tempo, ‘O Fantástico Sr. Raposo’, de Roald Dahl, o autor das ‘histórias do imprevisto’. Bom para esta temporada.

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FRASES

"As senhoras de província pertencem a outras ‘geografias’ que não a província do séc. XIX." Joana Carvalho Dias, no blogue O Tempo e as Vontades

"Vivo com o Fernando Pessoa desde sempre." Pedro Lamares, ator do filme ‘O Livro do Desassossego’, ontem, no CM.

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junho 04, 2011

Mais defeso

Um dos momentos mais apetecíveis da época desportiva anual é o chamado “defeso”. Enquanto que noutros países esta temporada é aproveitada para retemperar as energias, jogar à bola na praia e preparar o próximo ano futebolístico, em Portugal usa-se esse tempo para eleger o campeão do próximo ano e para o sobrecarregar de jogadores inacessíveis em cuja contratação ninguém acredita salvo os instigadores de tamanhos negócios. Tem sido assim desde que o futebol se transformou numa jogatina de bastidores e, em simultâneo, de primeiras páginas.

Enquanto isso, o FC Porto sagra-se, também, campeão de basquetebol, juntando mais um troféu ao sétimo jogo dos play-offs da modalidade. É a isto que se chama “constância na liderança”.

Ao mesmo tempo, o presidente do Benfica, arrastado para os ecrãs da televisão por motivos extra-futebolísticos, transforma-se no protagonista de uma comédia de birras em que assume o papel pouco simpático de denuncista. Havendo rumores de que teriam existido algumas irregularidades em transferências de jogadores para o seu clube, o presidente encarnado decide atirar a toalha ao chão e exigir uma espécie de auditoria às transferências dos últimos dez anos no Benfica e... no FC Porto. Esta declaração é de supina importância. Nós sabemos o que ela significa: estão a tentar atingir-nos? Pois antes que isso aconteça, atinjamos “os outros”. Estão a tentar implicar-nos? Pois tentemos, antes, implicar “os outros”. É isto uma atitude aprovável e aceitável? Não. Mas prossegue objectivos naturais – continuar a espalhar rumores atrás de rumores e, de passagem, desvalorizar o papel absolutamente intocável do FC Porto no plano desportivo. De caminho, ainda, anunciar que não vai inaugurar tantas “casas do Benfica”, provavelmente porque é artificial espalhar a fé em tempos de descrença, ou seja, a euforia em tempos de derrota em toda a linha. Toda.

Mas que isso não faça esmorecer os seus planos. Há toda uma temporada de “defeso” para anunciar várias vezes a vitória na Taça Guadiana (ah, já não há?).

in A Bola - 3 Junho 2011

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junho 03, 2011

Blog # 880

Um dos problemas portugueses é a falta de números credíveis. Alguém avança com as estatísticas da economia, da cultura, da educação – e logo uma voz começa por desmentir a possibilidade de esses números estarem, vá lá, certos. A verdade é que nenhum país consegue estudar-se, definir-se, imaginar-se, sem números que possam desenhar as várias realidades do território, das cidades – da ‘sociedade’. A ONU acaba de distinguir, por isso mesmo, o Pordata, o sítio de estatísticas mantido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, dirigida por António Barreto. É por isso notável que, apesar da existência do Pordata, os portugueses continuem a alimentar ilusões sobre a sua história recente. Os números podem não explicar tudo mas, certamente, ajudam a estabelecer a base de tudo.

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Passados meses sobre os acontecimentos da Praça Tahir, no Cairo, a Tinta da China publica a crónica desses dias tumultuosos e voluntariosos, vividos por Alexandra Lucas Coelho – a revolução é uma fogueira incerta e flutuante.

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FRASES

"Isto vai durar mais três dias; depois volta ao princípio. É o destino." L. N. Gomes, no blogue Marear.

"Porque não meter o filme debaixo do braço e levá-lo pelo País?" João Botelho, sobre ‘O Livro do Desassossego’, ontem, no CM.

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junho 02, 2011

Blog # 879

O Prémio Príncipe das Astúrias atribuído a Leonard Cohen é uma belíssima surpresa. Não apenas pelas suas canções que reconstituem a história da nossa vida dos últimos quarenta anos; também pela sua poesia que o prémio elogia e distingue. Cohen é um “desviado”, um poeta que escreve sobre o afastamento da morte e o amor subtil ou infernal. Há um ano, em Montreal (sua terra natal), no Canadá, visitei a sua casa – fica no coração do bairro português, onde alguns o conheciam como “Sr. Leonardo”, mesmo diante da velha sinagoga hoje convertida em centro português. A sua poesia nasce ali: num largo cheio de árvores, de imigrantes e de estranhos. A sua voz acrescenta-lhe densidade e humanidade, como uma sombra que não nos larga nem deixa de nos preencher. Grande Leonard Cohen.

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Suspensos pela curiosidade: é assim que entramos em ‘As Luzes de Leonor’, o novo e monumental livro de Maria Teresa Horta, dedicado à marquesa de Alorna (Leonor de Almeida Portugal, neta dos Marqueses de Távora), sua antepassada.

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FRASES

"A principal inquietação é conseguirmos dar a volta. O País está destruído." António Manuel Ribeiro, ontem, no CM.

"Do meu posto de espetador da província apoiarei tudo que me parecer bem feito." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mau-Mau.

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junho 01, 2011

Blog # 878

A poucos dias das eleições, a ministra da cultura propõe que o IVA dos livros eletrónicos seja idêntico ao dos livros em papel (taxa reduzida). A ideia é antiga e os editores têm discutido o assunto, porque ele não é pacífico. Em Espanha, por exemplo, os e-books são taxados a 15,2% enquanto aos livros em papel são aplicados 3,4%. Mas a questão não é essa nem se resolve com uma “proposta agradável” à boca das urnas. O problema está em como manter os atuais níveis de literacia sem prejudicar a economia do livro, que nunca teve apoios do Estado e lutou, solitária, para conquistar autonomia e dignidade. Pensar o mercado do livro, hoje, inclui uma discussão sobre a leitura na escola e a ameaça da pirataria. De contrário, é apenas um assunto para os novos-ricos se entreterem.

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O primeiro romance de Pedro Guilherme-Moreira, ‘A Manhã do Mundo’ (Dom Quixote) reenvia-nos a um exercício de ficção sobre o 11 de Setembro – é raro isso acontecer na nossa literatura: uma viagem para lá das nossas fronteiras.

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FRASES

"O próximo Governo tem uma agenda que já foi preenchida pela troika." Pedro S. Guerreiro, ontem, no CM.

"A monogamia não é uma manifestação de amor, mas da consciência." No blogue Ouriquense.

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