maio 31, 2011

Blog # 877

Qual a importância do Polo Norte? Toda. Antigamente, achava-se que havia esferas no interior da Terra e que elas moviam o planeta; a imagem fica bem em sonetos, mas não é verdadeira. A descoberta do Polo Norte magnético é outro dos momentos decisivos para a nossa existência e não tem a ver com um ponto fixo à superfície do planeta – o primeiro a aproximar-se dessa lugar e dessa medição exata foi James Clark Ross, há 180 anos, que deviam ser assinalados amanhã. Era para esse ponto invisível e flutuante que as bússolas apontavam (embora não sejam a mesma coisa); só no século XX a sua localização variou cerca de 1000 quilómetros. Os poetas, os geógrafos, os astrónomos e os viajantes deviam reter esta data e o nome de Ross. O nosso mundo ganhou muito com essa descoberta.

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Sai hoje para as livrarias, com edição da Colibri, ‘Ficava em Angola e Chama-se Nova Lisboa’, de Inácio Rebelo de Andrade – num momento de rejuvenescimento da literatura pós-colonial, as memórias de África são fundamentais.

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FRASES

"Enquanto a campanha eleitoral aquece, chega ao País o primeiro cheque do resgate." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Dizer o quê sobre Lady Gaga, se o nome da pessoa é Stefani Germanotta?" Segismundo, no blogue Albergue dos Danados.

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maio 30, 2011

Blog # 876

Outro dia, o ‘Telegraph’ fez uma investigação sobre o modo como os ingleses usam o seu crédito bancário. Vale a pena estender o inquérito a outros países para perceber como o velho continente fenece dentro de casa; um pouco por todo o lado, viagens compradas a crédito e a prestações, eletrodomésticos dispensáveis e luxuosos e carros abandonados aos credores ao fim de um ano – é esta a trilogia da catástrofe. O consumo imediato aniquilou a velha ‘acumulação de capital doméstico’ que fez a honra das famílias e a sua estabilidade ao longo das gerações. Hoje, as famílias não se perpetuam; a sua história termina a meio, tal como o crédito. Provavelmente, daqui a uns anos as velhas sagas da literatura serão apenas de curto prazo, consumidas pelos credores e pela solidão.

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Andou um mês perdido entre os papéis, mas nunca é tarde demais para chamar a atenção para ele: a Alfabeto reeditou entre nós as ‘Confissões de um Opiómano Inglês’, de Thomas de Quincey – uma pequena pérola entre ruínas. Leia!

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FRASES

"A campanha deveria ser enriquecedora politicamente, mas não há volta a dar à realidade." João Vaz, ontem, no CM.

"Coisas que se podem fazer a um domingo: espreguiçar-se em frente a um espelho." Joana Carvalho Dias, no blogue Os Tempos e as Vontades.

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maio 28, 2011

Cá estaremos

A final da Taça de Portugal, e aquele jogo espantoso que encheu a tarde de domingo como uma vertigem de excelente futebol, assinalaram o encerramento de uma época de grande qualidade do FC Porto. Mais do que “grande qualidade”, foi uma época absolutamente notável que mostrou um plantel de grande nível, uma organização profissional invejável e invejada – e um trajecto desportivo que não tem igual no futebol português.

Fazer a história do ressentimento anti-portista seria de grande utilidade, até porque explica largamente a forma como o FC Porto, em termos gerais, não tem apenas de lutar dentro do campo, mas também de resistir à pressão exterior e a uma perseguição permanente. Basta ver como, imediatamente após o início do “defeso”, a carreira do FC Porto é ignorada e devolvida às páginas interiores – porque, como se sabe, o “defeso” tem um “campeão” à partida. Não faz mal. Cá estaremos.

2. Por isso, não peço desculpa de nada. Futebol é futebol. Guerra é guerra. Aceito os golpes com a mesma dignidade com que ofendo, registo as ofensas com a mesma atenção com que as escolho e escrevo. Às vezes exagero, mas é só futebol. Respeito os leitores – não finjo uma imparcialidade que não tenho, não imito a opinião dos equidistantes. Não sou equidistante: gostei de festejar. Com as cores do FC Porto.

3. Contra o que dizem as primeiras páginas, os clubes portugueses devem ser prudentes em matéria de contratações. Prudentes, sensatos e sérios. No festival de chega­das e partidas, é necessário conser­var algum bom senso. Se o plantei dis­ponível é também o plantel possível, não vejo razão para fazer “compras de época” ou “revoluções de plantel” apenas para alimentar as primeiras páginas – a menos que seja esse o objectivo.

Tal como o país, também os clubes precisam desse bom-senso e dessa morigeração. A palavra pode não ser bonita mas diz tudo – pensar bem antes de endividar o que resta do futebol português.

in A Bola - 28 Maio 2011

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maio 27, 2011

Blog # 875

Gosto muito de ouvir alguns sociólogos e psicopedagogos comentar “casos reais”; a principal razão tem a ver com o fato de não parecerem ser deste mundo, se bem que se esforcem. De repente pintam o cenário como se fosse a catástrofe, uma espécie de fim do mundo organizado em ondas de violência juvenil. A ideia de que os atos de violência são praticados por jovens que imitam a “violência dos adultos” ou por raparigas que imitam a “violência dos rapazes” é uma ideia interessante, mas, como se sabe, despropositada. Nesse mundo, os jovens eram pacíficos como cordeiros, as crianças um modelo de inocência, e as adolescentes um retrato de anjos que vestem de saias. Infelizmente, a realidade também tem partes de cenas filmadas no YouTube com agressões entre jovens. São muitas.

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Em Junho, chamo a atenção para ‘Tiago Veiga, uma Biografia’, de Mário Cláudio (Dom Quixote) – uma investigação literária sobre Tiago Veiga, bisneto de Camilo Castelo Branco, solitário que nasceu e morreu numa aldeia minhota. Aguardemos.

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FRASES

"Só 16 anos para um assassino daqueles que nunca se arrependeu?" Irmã de José Carlos Silva, assassinado à facada em Junho do ano passado, em Guimarães. Ontem, no CM.

"Enquanto a vaca deu, diziam com orgulho que desprezavam a política. Agora acampam." Filipe Nunes Vicente, sobre os acampados do Rossio, no blogue Mau-Mau.

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maio 26, 2011

Blog # 874

O país anda chocado com cenas de violência com honras televisivas mas convém lembrar que as agressões entre “jovens” são comuns e estão na base de filmes fatais e de “histórias de iniciação”. Guerras de gangues não são de hoje – James Dean e Marlon Brando deram corpo a essas histórias. Mesmo violência entre raparigas não é uma novidade. Estes episódios só são novos para quem tem se obstina em desenhar Portugal com as aguarelas da pacificação e tem horror às notícias da “vida real”. O problema é que, agora, os idiotas de todas as idades se juntam na internet com toda a liberdade – antigamente gabavam-se dos seus pequenos crimes apenas em silêncio; agora têm o palco digital. O ‘país real’ fica à distância de um clic e, na verdade, não é bom de se ver a todas as horas do dia.

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Vá preparando a bolsa para sábado, dia 4 de junho, das 13h às 20h: vai haver muitos livros usados, ‘esgotados’, antigos, raros e indefesos – é a feira de livros manuseados organizada pela Cotovia e pelo Clube Ferroviário. É aqui.

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FRASES

"Em princípio irá recorrer da sentença." Daniel Proença de Carvalho, advogado de José Sócrates, depois de o tribunal ter absolvido jornalistas processados pelo primeiro-ministro. Ontem, no CM.


"As pessoas estão fartas de preconceitos bimbos, de pessoas de plástico e de tagarelas." João Gonçalves, no blogue Portugal dos Pequeninos.

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maio 25, 2011

Blog # 873

Acabou o futebol, começam os livros — pelo menos assim acontece no Porto, onde a Avenida dos Aliados foi o palco de alguns dos festejos mais eufóricos dos adeptos do FC Porto. Como se sabe, este ano foram muitos e alguns deles colocaram em perigo os pavilhões de editores entretanto instalados na zona. Medida previdente teria sido a de proteger devidamente a área livreira; futebol e livros não são matérias próximas e um mínimo de sensatez aconselharia a proteção. Amanhã, de qualquer modo a festa dos livros começa no Porto e promete continuidade da renovação iniciada no ano passado, quando os livros reconquistaram o coração da cidade. Em ano de contenção e de cautelas, um livro é sempre uma salvação; mesmo para quem não seja leitor. Basta que passe pelo centro do Porto.

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Os títulos dos livros de Günther Grass não são bonitos. Nem ‘poéticos’. Desta vez é ‘O Pregado’ (o pregado, o peixe) – o novo livro do Nobel da Literatura alemão que mais conhece Portugal sai em Junho na Casa das Letras.

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FRASES

"Os jacarandás floriram uma vez mais, a lembrarem-nos de que ainda estamos vivos." Ana Vidal, no blogue Delito de Opinião.

"Depois de ver as botas da GNR dentro de casa, a mulher chorava a realidade." Fernanda Cachão, sobre uma mulher de 70 anos que plantou 67 pés de canábis. Ontem, no CM.

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maio 24, 2011

Blog # 872

Acompanhei esta história – a dos dois namorados de Barcelos que se recusavam a dividir o Euromilhões – com curiosidade mórbida. Havia dois motivos: até onde ia a insensatez da jovem e dos seus pais, que pretendiam arrecadar o prémio na totalidade; e quanto tempo ia o tribunal levar até à decisão final. Resposta: a insensatez foi até ao fim; a decisão demorou quase quatro anos. Em Novembro de 2010, três anos depois do sorteio, o tribunal decidiu dividir o prémio ao meio; Cristina recorreu; cinco meses depois, a Relação dá a sua decisão final. Pergunta o leitor: e de quanto é o prémio? De 7,5 milhões para cada um. O teatro do absurdo chega de onde menos se espera e Barcelos é um palco tão interessante como qualquer outro. Está lá tudo, na peça, é uma comédia de costumes.

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O psiquiatra, psicoterapeuta e psicanalista Eurico de Figueiredo regressa à edição esta semana com ‘A Agave Só Floresce Uma Vez’ (publicação na Gradiva) – intimismo, como de costume, e manchas do Alto-Douro em cada página.

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FRASES

"Os espanhóis acreditam que um mau Governo deve ser castigado nas urnas. É uma ideia exótica." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve

"A utilização do cigarro electrónico pode gerar problemas de comportamento ético." Francisco George, Direcção-Geral de Saúde. Ontem, no CM.

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maio 23, 2011

Blog # 871

A culpa é minha. Pensava que ele não envelheceria – mas a verdade é que Bob Dylan faz amanhã 70 anos. Muitos recordarão as canções fatais do começo, como “Blowin’ in the Wind” ou “The Times they Are a-Changing” e outros elogiarão os sucessivos períodos de genialidade de Dylan até aos mais recentes ‘Modern Times’ ou ‘Together Through Life’, mas nada me comove tanto como ouvir “Like a Rolling Stone” e o seu refrão inesquecível (“How does it feel/ To be on your own/ With no direction home/ Like a complete unknown”). Dylan é um ícone e uma presença real da nossa vida; poucos competirão ao seu lado para entrar no panteão que ultrapassa a transitoriedade da cultura pop e o coloca ao lado dos grandes criadores do nosso tempo, em reconhecimento pelo poder da música e da poesia.

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Vale a pena aguardar por junho para ler ‘Salazar e a Conspiração do Opus Dei’, de António José Vilela e Pedro Ramos Brandão (Casa das Letras), o relato de uma conspiração perdida e hipotética para aprisionar o país e o governo.

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FRASES

"Os nossos cientistas, os nossos pintores, os nossos escritores, isso é que justifica Portugal." Mário de Carvalho, ontem, no CM.

"Não há volta a dar-lhe, se não quer ser ‘humilhado’, Portugal precisa de se reformar." Helena Ferro Gouveia, no blogue Domadora de Camaleões.

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maio 21, 2011

Reaprender

A história de uma época desportiva não se faz apenas de vitórias – mas é necessário celebrá-las e relembrar que elas são o produto de um trabalho continuado e consistente, de uma gestão que demora anos a estabelecer-se com solidez, e de um espírito de grupo que tanto deve recusar a arrogância como a timidez. De alguma maneira, foi isso que aconteceu com o FC Porto ao longo desta época que ainda não terminou; no próximo domingo, no Jamor, realiza-se a final da Taça entre o Vitória de Guimarães e o FC Porto – também esta partida é o resultado de um esforço notável de concentração e de técnica que tornou possível ultrapassar as circunstâncias adversas em que se realizava a segunda mão das meias-finais da competição.

Mas isso será domingo – um jogo importante para consagrar uma prova igualmente importante. Ontem e anteontem foram dias de justa celebração e, também, de prévio balanço: vão já alguns meses desde a promessa de um FC Porto destinado a ultrapassar barreiras e recordes anteriores. A equipa comportou-se, necessariamente, com altos e baixos, transportando para esse balanço momentos fantásticos e momentos menos bons. Uns e outros fazem parte de uma carreira histórica que, além de ficar marcada pelos títulos até agora arrecadados (e as suas circunstâncias), revelou a enorme capacidade de o FC Porto encontrar os caminhos da idade madura e moderna. Não se trata, aqui, de insistir nas vitórias – caminho que pode deitar a perder a sensatez que faz os campeões.

Vencer não é tudo, embora seja a parte mais saborosa. Outro dia, o colunista Simon Heffer, no “The Daily Telegraph”, dava conta da alegria que sente todos os anos ao receber o seu almanaque do críquete. Este ano notou que o almanaque não dava tanto destaque a determinado jogador; e explicava: “Porque vencer não é tudo. Há uma dimensão ética que faz da vitória uma ocasião feliz, um cavalheirismo que não pode esquecer-se.” Este ano, para vencer, o FC Porto soube reaprendê-lo.

in A Bola - 21 Maio 2011

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maio 20, 2011

Blog # 870

Albrecht Dürer nasceu há 470 anos; a data (comemora-se amanhã) não é assinalada em Portugal — mas devia. É um dos artistas que mais me comove (pela sua arte, que traduzia sabedoria na matemática e na geometria – mas também uma melancolia que alastrava em todas as suas obras). É ele o autor da gravura que representa o rinoceronte indiano que o rei D. Manuel I teria enviado em 1515 ao papa Leão X, na célebre e sumptuosa embaixada que contribuiu para deixar a nossa economia de rastos. Vaidade sobre vaidade; é a nossa história. Dürer, meticuloso, gravou o rinoceronte sem o ter visto, apenas com base em descrições; era perfeito – mas o animal nunca chegou a Roma, morrendo no mediterrâneo. Portugal também nunca cumpriu essa missão de fausto e grandeza; ficou o exótico rinoceronte de Dürer.

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Duas reedições de luxo no catálogo da Dom Quixote durante o mês de Junho: ‘A Toupeira’, de John Le Carré (o leitor sabe que já estou em posição de partida...), e ‘Catch 22’, de Joseph Heller, um título a não perder. Isto sim, promete.

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FRASES

"O que se quer é ‘animais políticos’ que tentam rasteiras e fazem truques." Lourenço Cordeiro, no blogue Complexidade e Contradição.

"Como se fosse possível que tão poucos enganassem tantos durante tanto tempo..." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

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maio 19, 2011

Blog # 869

Tal como aconteceu com muitos outros autores (Borges, Mailer, Claus, entre os já falecidos), a Academia Nobel ainda não teve a coragem de homenagear Philip Roth com o seu prémio. Por isso, veio agora o Man Booker International, inglês, lembrar a obra de um dos grandes autores da literatura de hoje – da ficção, do romance. A verdade é que obras como ‘Pastoral Americana’, ‘O Complexo de Portnoy’, ou ‘O Teatro de Shabbat’ são muito mais do que amostras acerca da sua arte ou da importância que Roth mantém para os seus leitores; são também marcos muito precisos da inquietação contemporânea e da necessidade de conforto – que procuramos na literatura. Roth é um talento raro e estranho, um produto da dúvida e da meditação sobre a morte, coisas que marcam qualquer civilização.

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Acordemos a memória. Lembra-se de ‘Os Filhos da Droga’, de Christiane F.? A Bizâncio vai reeditá-lo. A história da alemã Christiane Vera Felscherinow está cheia de desgraças, mas o livro continua nas montras.

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FRASES

"Das sondagens retiram-se conclusões sólidas. A primeira é que não haverá maioria absoluta." Vítor Ramalho, ontem, no CM.

"O ser humano tem destas fraquezas, prefere um pássaro na mão que dois a voar." Vasco Lobo Xavier, no blogue Mar Salgado.

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maio 18, 2011

Blog # 868

Independentemente do que acontecer durante a investigação do “caso Dominique Strauss-Kahn”, acerca da sua natureza e da história ocorrida, há um fenómeno curioso: além da tese da ‘conspiração contra DSK’ muitos comentários na internet sugerem que a alegada vítima trabalhou para o prejudicar ou, pior, que Dominique Strauss-Kahn foi apanhado por uma ‘queixinhas’. Este tom é alarmante porque coloca em primeiro lugar a proteção aos poderosos em vez da preocupação pelo esclarecimento. Evidentemente que esses comentários são mais ou menos anónimos, populares e banalizados nas páginas ‘online’ dos jornais. Por isso mesmo deviam deixar-nos preocupados. São sinal da indiferença que mascara a normalização do mal na vida política. É uma queda no nosso sentido da honorabilidade.

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São 400 páginas de histórias a que Onésimo Teotónio de Almeida chama ‘estórias’: o título é ‘Português sem Filtro’ (Clube do Autor) e tem toda a razão de ser. Onésimo é um observador perspicaz, inteligente, culto, atento – e útil.

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FRASES

"Na Europa não evoluímos verdadeiramente da selvajaria cerda do ‘direito de pernada’." No blogue O Jansenista.

"Os meus filhos quando crescerem, irão recordar como fui enquanto pai." Brad Pitt, ontem, no CM.

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maio 17, 2011

Blog # 867

Completam-se, amanhã, 100 anos sobre a morte de Gustav Mahler (1860-1911) e muitos recordam a música de ‘Morte em Veneza’ (de Luchino Visconti, com Dirk Bogarde) como uma espécie de hino à melancolia e ao fim das coisas transfigurando-se em imagens de uma beleza rara, profunda, alargando o infinito, relembrando as suas canções e as sinfonias que escreveu para se completar a si mesmo. A morte (em Viena, onde teve os primeiros êxitos) pôs termo a uma peregrinação por cidades onde dirigiu e executou a música de outros compositores (Wagner, Beethoven, Brahms) e onde, intermitentemente, escreveu a obra que redimiu a própria vida. Todos os dramas passam por essa música revolucionária: o judaísmo, a obscura conversão ao catolicismo, a paixão pela sua mulher (Alma), a literatura.

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Lembra-se de ‘O Mundo de Sofia’ (1991), de Jostein Gaarder? Muita gente despertou para a ‘necessidade da filosofia’ com este livro. A Presença propõe para esta temporada ‘O Mistério do Jogo das Paciências’, um regresso aguardado.

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FRASES

"Estávamos a divertir-nos, como é natural nestas festas." Martinho Iglesias, estudante, depois da carga policial durante a Semana Académica de Lisboa. Ontem, no CM.

"A polícia de NY cumpre o seu dever. E então se for, cruzes!, francês, socialista e judeu..." GAF, no blogue O Vermelho e o Negro.

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maio 16, 2011

Blog # 866

A Feira do Livro de Lisboa “correu bem”. A afirmação é de ontem, mas podia ter sido – e foi – repetida ao longo dos últimos trinta anos. Tirando a chuva, episódica, os livros foram ao Parque, receberam visitas, tiveram autores e, felizmente compradores. Este ano, os rumores de que o negócio estará a baixar aqui e ali contaram com a Feira, uma espécie de barreira contra a crise e contra o ceticismo. Valha a verdade, a área da edição é a que mais contribui para o valor acrescentado das chamadas indústrias culturais, cerca de 70%. O mundo muda, a economia da cultura flutua, mas o livro mantém uma espécie rara de estabilidade essencial. Talvez por isso não receba apoios do Estado, que prefere espetáculo e palco. A Feira é uma garantia de sanidade para o mundo da cultura.

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A Contraponto acaba de publicar mais uma edição de ‘A Dama do Lago’, de Raymond Chandler. É um dos ‘livros dos livros’, uma espécie de monumento do ‘romance policial’. O detetive Philip Marlowe reinventa a grande arte, neste livro.

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FRASES

"O que temos a mais em vaidade falta-nos em trabalho e noção das responsabilidades." João Pereira Coutinho, ontem, no CM.

"Aqui não havia estrada mas havia gente e agora há estrada mas não há gente. Desolação de luxo." Luís M. Jorge, no blogue Vida Breve.

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maio 14, 2011

Raspanete

Foi uma semana interessante. De um lado, um “hat-trick” de Pizzi a pôr o FC Porto em sentido, merecidamente. Dois dos golos do Paços de Ferreira são praticamente inexplicáveis numa equipa que, depois de conquistar o título de campeão, não pode justificar tamanhas distracções ou flutuações de “temperamento defensivo”. Sendo certo que a taça do título estava ali para festejar e ser festejada, também um mínimo de brio e de respeito pelos adeptos devia exigir uma atitude mais sólida aos jogadores do FC Porto. Perdeu-se alguma coisa? Não. Ficou o título diminuído? Não. Mas sobra uma ligeira e dispensável agonia daquele jogo que devia constituir uma antecâmara da festa que se lhe seguiu. Foi esta festa prejudicada? Não, porque os adeptos foram pacientes e sabem mostrar, em todos os momentos, a paixão pela equipa. Mas, mesmo assim, não é admissível detectar, naquela segunda parte do jogo, um tamanho número de distracções. Quantas? Duas – fatais, definitivas. E dispensáveis.

É evidente que – argumentarão os mais frios e temperados –, neste momento, quase todos os esforços do clube estão voltados para as duas competições que falta ganhar esta época – a Liga Europa e a Taça, e que o resto do campeonato perdeu importância. Pode ser, mas há representações simbólicas que não devem ser esquecidas.

Por outro lado, passado o raspanete, há o segundo momento da semana: o desfile, no relvado do Dragão, dos guerreiros que conquistaram o título. Moutinho coxeando e feliz, Falcao, Hulk, Freddy, Helton, Alvaro Pereira, James, Belluschi, Rolando e Fernando, Micael e Sapunaru, Sereno e Fucile, Maicón e Sousa – entre todos os que devolveram ao FC Porto a alegria de celebrar o título, com esta vantagem superior e memorável. Eles que celebrem – e que se preparem para os dois embates finais e decisivos. Estaremos à espera.

P.S. - Nesta altura do campeonato estava a fazer falta mais um vídeo de Jacinto Paixão. Esta gente não tem emenda – nem sabe manejar câmaras de vídeo.

in A Bola - 14 Maio 2011

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maio 13, 2011

Blog # 865

Manuel António Pina é um poeta raríssimo – uma sorte tê-lo na nossa língua. A sua obra é uma referência de beleza e de perplexidade, uma investigação sobre a natureza da própria poesia e da profunda religiosidade que a cerca, limita e abre para o resto do mundo. Tem um poema (“A poesia vai acabar”, do seu primeiro livro ‘Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo, Calma é Apenas um Pouco Tarde’, de 1974), entre muitos, que me maravilha e comove – e onde pergunta: “Que fez algum poeta por este senhor?” Essa interrogação estende-se a quase todos os seus livros (traduzindo: o que faz a poesia pelas pessoas?) como uma procura do humano e do poético. O Prémio Camões não festeja apenas uma das vozes maiores da nossa língua – é a homenagem a um grande poeta em qualquer geografia.

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Mesmo para quem não “aprecia” contos: as histórias de ‘O Homem do Turbante Verde’, de Mário de Carvalho (Caminho), são desafios da ironia, um verdadeiro contratempo contra a literaturazinha – eu corria, já, a reservar o livro.

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FRASES

"Pegámos nas nossas coisas e fomos fazer a festa, como temos feito desde que aqui estamos." Jel, dos Homens na Luta, ontem, no CM.

"É tudo tão estúpido que chega a ser perfeito." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mau-Mau.

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maio 12, 2011

Blog # 864

Este ano, o Festival da Eurovisão teve um ingrediente extra: os Homens da Luta. Depois da polémica sobre a “votação nacional”, a pré-campanha mediática na Alemanha correu bem para os irmãos Nuno e Vasco Duarte, aliás Jel e Falâncio: as câmaras de televisão europeias corriam atrás deste grupo exuberante, burlesco, colorido e português. O espetáculo verdadeiro terminou nessa altura, como se sabe. Se bem que o Festival da Eurovisão não seja um palco de extraordinários talentos musicais (ninguém recorda uma única das canções a concurso anteontem), os votos não foram suficientes para levar adiante a caravana eufórica dos portugueses. Não são precisas teorias da conspiração; os Homens da Luta atingiram os objetivos: chocar algumas almas e ganhar espaço junto das luzes.

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O novo romance de Patrícia Reis, ‘Por este Mundo Acima’ (Dom Quixote) sai para as livrarias na próxima terça-feira. Cenário: uma Lisboa destruída por um acidente. Personagem principal: um editor rodeado de livros e de memórias.

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FRASES

"Depois das eleições vai tudo andar a toque de caixa. Isto é, não há pão para doidos." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

"É nessa indústria que temos de investir. Propaganda, mais propaganda. Em bicos de pés." Miguel Castelo Branco, no blogue Combustões.

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maio 11, 2011

Blog # 863

O documentário ‘Pare, Escute, Olhe’, de Jorge Pelicano, recebeu – em Itália – o oitavo prémio da sua carreira em festivais e salas de cinema. De que trata o filme? Da Linha do Tua. Se o leitor nunca viajou na Linha do Tua vê o assunto como uma excentricidade do Portugal das montanhas e do deserto nordestino, onde um rio e uma linha de comboio se transformam em cenário para a construção de uma hidroelétrica. Pode ser. Tal como a Linha do Tua, outras ferrovias foram abandonadas para que o território pudesse ser ocupado por asfalto e camionagem. Se é verdade que “alta velocidade” nunca passará pelas montanhas, não é menos verdade que ficamos mais pobres se esquecermos a paisagem, os seus povos e a sua memória. Jorge Pelicano e o seu filme são um emblema dessa memória.

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A Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, Lisboa, abre as suas portas, a partir de amanhã, para uma exposição da fotógrafa inglesa Maureen Bisilliat: ‘A João Guimarães Rosa.’ Tudo para conhecer o grande sertão brasileiro.

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FRASES

"Chegaremos ao pântano deitados ao sol." Fernanda Cachão, ontem, no CM.

"Quando se perde o sentido da simplicidade dá para tudo. Até para não ver o que é evidente." Nicky Florentino, no blogue Albergue dos Danados.

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maio 10, 2011

Blog # 862

Um pouco de memória dos vivos: devem hoje festejar-se os oitenta anos de Ettore Scola. A nossa memória adolescente retém de Scola sobretudo o trágico e burlesco ‘Feios, Porcos e Maus’, o que é uma pena. ‘Tão Amigos que Nós Éramos’ (com Manfredi, Grassman ou Stefania Sandrelli) é um encontro com o pós-guerra e a ilusão da infelicidade, ‘A Noite de Varennes’ (um elenco de luxo: Jean-Louis Barrault, Mastroianni, Hanna Schygulla, Piccoli, Harvey Keitel, Trintignant) mostra o palco do combate entre a revolução e a liberdade, ‘Um Dia Inesquecível’ (Mastroianni e Sophia Loren) transporta-nos ao universo do fascismo, e há ainda a grandeza plástica de ‘Le Bal’. Antes de colocarmos Scola na bolsa de efemérides, seria bom assinalarmos a sua vida e a nossa memória do seu cinema.

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Desde ontem, e até ao próximo dia 21, a Biblioteca da Faculdade de Letras de Lisboa apresenta uma exposição sobre ‘Os Livros de M.S. Lourenço’ – poeta, filósofo e matemático (1936-2009). Um nome discreto, uma presença importante.

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FRASES

"São as lendárias guerras entre os tipos que “dividiram o mundo” e os tipos a quem pedimos sopa." Luís M. Jorge, sobre os vídeos luso-finlandeses. No blogue Vida Breve

"Com os Homens da Luta aqui a fazer a nossa diplomacia, Portugal ‘tá’ safo." Jel, dos Homens da Luta, na Alemanha. Ontem, no CM.

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maio 09, 2011

Blog # 861

Está em votação uma lista de iguarias para designar, daqui a uns tempos, as “Sete Maravilhas” da nossa gastronomia. Dos pasteis de bacalhau à alheira de Mirandela, do polvo assado no forno ao pudim Abade Priscos, a lista é confortável e, no mínimo saborosa. A cozinha portuguesa, ou “a nossa história alimentar”, para retomar uma expressão de Alfredo Saramago, é uma espécie de “fusão”, coisa que está ainda um pouco na moda. Quem olhar para estes pratos (amêijoas à Bulhão Pato, tripas à moda do Porto, etc.) percebe que somos um país pequeno demais para tanta diversidade, tanto sotaque de temperos e tanta arqueologia gastronómica. É isso que faz da paisagem portuguesa uma variação permanente que precisa de ser divulgada. O património imaterial é isso mesmo: um sabor furtivo.

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O australiano Peter Carey é o autor do extraordinário ‘Oscar e Lucinda’ – regressa às nossas livrarias com um novo romance, ‘O Seu Lado Clandestino’ (Dom Quixote), uma história sobre o radicalismo político americano dos anos 60.

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FRASES

"A vida é para ser vivida, não morrida." Francisco Nicholson, ontem, no CM.

"Está um dia propício para a prática da leitura e sinto-me muito ansioso." No blogue Ouriquense.

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maio 07, 2011

Eleitos e escolhidos

Estava escrito que seria uma final entre duas grandes equipas portuguesas – a viagem a Dublin será o culminar de uma boa época internacional para o FC Porto e para o SC Braga. Evidentemente que a festa minhota foi, ontem, mais notória e justificada do que a passagem do FC Porto à final; não apenas pelos golos de Custódio e de Vandinho que garantiram uma soma positiva no resultado da eliminatória, mas porque a final europeia de Dublin é uma experiência fantástica para a equipa de Domingos. Além do mais, o seu adversário considerava (nas palavras de Fábio Coentrão) a obrigação “de ganhar a Liga Europa para esquecer esta época” em que ficara pelo caminho no campeonato e na Taça. Muitos são os eleitos, poucos os escolhidos, como se sabe.

Por outro lado, com 21 pontos de vantagem sobre o segundo classificado, além de finalista da Taça de Portugal e da Liga Europa, o FC Porto bem pode considerar que esta época (que começou da melhor forma, com a conquista da Supertaça) ficará bem no retrato de conjunto do clube. Mas as épocas desportivas têm uma história, têm um passado e um presente – e é necessário relembrar que, para chegar até aqui, o FC Porto lutou dentro do campo, sobre as quatro linhas, e teve de suportar a arrogância desmedida dos que gostam de atribuir títulos por televoto. Basta recordar o cepticismo e a deselegância como André Villas-Boas foi recebido no início da época, e como parte substancial da imprensa considerava, de antemão, que o título estava entregue. Nem Villas-Boas nem um plantel que soube resistir às pressões e à desconfiança cederam um milímetro. Villas-Boas provou que o seu talento de estratega e de organizador podem fazer dele um “special one” sem tiques de soberba e mantendo sempre aquilo que, nesta coluna, defendi que deveria ser uma das qualidades essenciais do treinador do FC Porto: cavalheirismo. Falta ultrapassar duas competições importantes, além da principal, o campeonato – mas Villas-Boas já mostrou esse talento e essa qualidade.

in A Bola - 7 Maio 2011

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maio 06, 2011

Blog # 860

O que aconteceu antes do começo? Mistério. É para responder a essa questão que Ed Falco vai concluir uma ideia original de Mario Puzo, o autor de ‘O Padrinho’, a fim de contar a história da ascensão de Vito Corleone na máfia novaiorquina. No final dos anos oitenta, Puzo tinha publicado ‘O Último dos Padrinhos’ (‘The last Don’), que era uma espécie de voo controlado sobre todas as suas histórias da máfia – fascinantes, perversas, sem perdão (ao contrário do terceiro episódio da saga realizada por Coppola, em que Al Pacino se “santifica”). Habituados a sequelas dos filmes e dos romances, vamos agora ser confrontados com a reinvenção do passado de Vito (aliás, Marlon Brando no cinema). Além de exercício fascinante é a homenagem a uma histórias mais marcantes do século XX.

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A Guerra e Paz em combate pelo urbanismo: ainda em maio, a editora publicará ‘Manual de Crimes Urbanísticos’, de Luís F. Rodrigues, prefácio de Gonçalo Ribeiro Telles – um retrato do caos, da corrupção e, sobretudo, da indiferença.

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FRASES

"Até a Troika considera que é importante dotar de verbas a conservação do património português." Elísio Summavielle, Sec. Estado da Cultura. Ontem, no CM.

"O que vieram estes senhores cá fazer? Simples: o que estão a fazer em todo o lado." Daniel Oliveira, no blogue Arrastão.

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maio 05, 2011

Blog # 859

É curioso o drama de Jim Caviezel, que interpretou o papel de Jesus Cristo na tela. Tratava-se de um filme intragável com o título ‘A Paixão de Cristo’, realizado por Mel Gibson. Gibson é um cristão paranoico, exaltado e antissemita que levou para o cinema não só a velha tese (abandonada pelo Vaticano) de que foram os judeus a condenar Cristo, mas também a mistura abundante de sangue, martírio e delírio histórico. Acontece que Caviezel vê no seu trabalho o sinal da conspiração orquestrada por uma “internacional anticristã”: ele, que atuou em ‘A Barreira Invisível’ e ‘O Conde de Monte de Cristo’, está agora sem emprego “por ter sido Cristo”. Ou seja, em vez de pensar bem no assunto e tomar juízo como ator, decide-se pela ideia do ‘castigo divino’. É uma questão de fé.

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A Guimarães publica a série “Pessoa Editor” destinada a imprimir os livros que Pessoa gostaria de ter editado na casa Olisipo. Começa com ‘Principais Poemas de Edgar Allan Poe’, em versões do próprio e de Margarida Vale de Gato.

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FRASES

"Portugal terá de pedir perdão de parte da dívida ou deixar de pagar. É o que irá acontecer." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Ou então está tudo doido, é a única maneira de compreender isto." Vasco Lobo Xavier, no blogue Mar Salgado.

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maio 04, 2011

Blog # 858

Foi tardiamente, como um rapaz da província que chega a Lisboa e gosta de cinema: tinha acabado de descobrir o Quarteto, quatro salas de cinema com cadeiras pouco confortáveis e queixas de que havia pulgas aqui e ali. Víamos, naquelas salas, o cinema (escolhido por Bandeira Freire) que faltava noutras telas que daí a uns tempos se adaptaram às pipocas e aos refrescos. Recordo isso porque a Medeia vai encerrar as suas salas no Saldanha Residence, em Lisboa. No fim de contas, acho que há coisas incompatíveis: cinema independente, ou “mais independente”, e um certo luxo. Não significa que tenha de haver pulgas, mas, enfim, um certo recato que nos lembre o que estamos a fazer. O comércio da cultura não pode competir com o puro entretenimento e o negócio de refrigerantes.

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A Objectiva vai publicar as crónicas de Joana Amaral Dias, com o título ‘Portugal a Arder’. No prefácio, J. Medeiros Ferreira diz o essencial: Joana pertence a uma “corrente de pensamento de esquerda crítica que respira liberdade”.

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FRASES

"É de pasmar a forma como o Estado distribui o seu dinheiro em subsídios." Pedro S. Guerreiro, ontem, no CM.

"Acho que os americanos mataram o morto porque um símbolo tão monstruoso tem de ser liquidado." GAF, no blogue O Vermelho e o Negro.

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maio 03, 2011

Blog # 857

Num artigo publicado no jornal inglês ‘The Guardian’, sugeria-se que Osama Bin Laden se teria inspirado em Isaac Asimov (1920-1992), o escritor de ficção científica, para designar a sua organização. A obra principal de Asimov, ‘Fundação’, foi traduzida nos anos 70 para o árabe com esse título, ‘Al Qaeda’. Ora, há uma grande semelhança entre o argumento do livro de Asimov e os objetivos de Bin Laden, bem como entre os métodos de Hari Seldon, o protagonista de ‘Fundação’, e os do terrorista saudita: mensagens em vídeo, seguidores que vivem em cavernas para lutar contra o Império, treino militar e psicológico, rede informática global, etc. Para lá do fundamentalismo islâmico, a visão das ruínas e das chamas veio da literatura. Da ficção científica que um dia se torna real.

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Afinal, a política não terminou, como Francis Fukuyama previa em ‘O Fim da História; o novo livro leva o título ‘As Origens da Ordem Política’, e acaba de sair nos EUA. As suas 600 páginas serão publicadas em 2012 pela Dom Quixote.

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FRASES

"Ao contrário do que muitos pretendem, hoje não há ‘mas’. Como há uma década, em Nova Iorque." João M. Fernandes, no blogue French Kissin

"As eleições serão um plebiscito ao FMI. Aos portugueses resta apenas uma escolha de caráter." José Rodrigues, ontem, no CM.

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maio 02, 2011

Blog # 856

Passam hoje 400 anos sobre a data da impressão do primeiro exemplar da Bíblia do rei Jaime I (James) de Inglaterra. Na tradição latina o assunto pode não ter muita importância; mas, na verdade, é um marco quer para a teologia, para a política ou para a literatura posteriores (os grandes autores do cânone, em língua inglesa, seguem esta versão). Trata-se da primeira tradução integral, rigorosa e comentada da Bíblia para a língua popular, ou vernácula. A partir daí, a Bíblia passou a estar disponível para discussão, deixando de ser um texto reservado à liturgia e ao clero. Mais: pela primeira vez no Ocidente, houve uma preocupação literária e estilística na sua tradução. No mundo católico da época, pelo contrário, ler a Bíblia podia ser uma ato de heresia fulminante.

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Jazz? Tudo o que José Duarte imaginou sobre o mundo do jazz está em ‘Jazzé e Outras Músicas’, a sua série de livros sobre a ‘grande música’. Na próxima sexta-feira chega-nos o terceiro volume da sua coleção. Eu vou de sax tenor.

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FRASES

"Para a semana, com sol, veremos se a crise irá influenciar as vendas." Joaquim Maçã, da editora Tinta da China, sobre a Feira do Livro. Anteontem, no CM.

"O homem produz num mês espermatozóides suficientes para fecundar as mulheres do distrito." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

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