abril 30, 2010

Blog # 598

O bastonário da Ordem dos Médicos defende que os cidadãos têm o direito de saber que parte dos seus impostos vão para a área da saúde. Tem toda a razão. Em Portugal, é pecado falar do “dinheiro dos contribuintes”, como se os impostos fossem matéria em segredo de Estado. Também convinha saber o que vai para as Obras Públicas, para a Justiça, para a Educação – e, naturalmente, para a Cultura. E devíamos perguntar se os contribuintes estão na disposição de pagar o que pagam. Haveria mais transparência, com certeza. E mais surpresas. Por exemplo, ontem, a ministra da Cultura disse que a Feira do Livro de Lisboa “evidencia o peso económico do setor editorial na criação de riqueza”. Fez bem. De facto, apesar da iliteracia galopante, o livro ainda resiste sem apoios e subsídios.

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Um livro divertido e útil: ‘Histórias Rocambolescas da História de Portugal’, de João Ferreira (Esfera dos Livros), com prefácio de Ferreira Fernandes e muitos episódios para destruir os mitos da nossa História. Um mimo.

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FRASES

"[Sócrates] transpôs para a política o discurso inebriante que celebrizou Vale e Azevedo." Octávio Ribeiro, ontem, no CM.

"O futebol parece-me uma metáfora da política. Só os resultados contam." Pedro Correia, no blogue Delito de Opinião.

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abril 29, 2010

Blog # 597

Quase nada a dizer sobre a Feira do Livro de Lisboa, que é hoje inaugurada (depois será a do Porto) e que pode ser considerada uma montra da maior livraria portuguesa. Este ano, além de outras boas novidades, haverá uma campanha contra a pirataria de livros – é um tema decisivo e um atentado económico e moral contra os criadores e a indústria do livro. Durante anos, o Estado e as ‘associações do setor’ ocuparam-se da pirataria de música e de cinema, mas esqueceram o livro. Hoje, sabemos que a edição é responsável por mais de metade da faturação da chamada indústria cultural, e que não depende dos subsídios estatais (no próximo mês, 6,6 milhões vão para o cinema). O Estado devia cumprir a sua parte e, em vez de produzir frases, devia produzir leis sérias sobre o assunto.

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Acabo de ler o quarto volume dos diários de Marcello Duarte Mathias, ‘Os Dias e os Anos’ (de 1970 a 1993 – edição D. Quixote): um notável retrato da pátria, um desenho comovido do tempo que passa. Recomendo com entusiasmo.

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FRASES

"A dívida grega baixou para o nível de lixo. Portugal está à beira do caixote." Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"Se julgam que vou dar os parabéns ao Benfica estão muito enganados." Bernardo Pires de Lima, no blogue União de Facto.

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abril 28, 2010

Blog # 596

Aldous Huxley dizia que “os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”; a frase aplica-se ao sempre inesperado ministro das Finanças que, diante das más notícias de ontem, lá bradou que o país tem de responder aos ataques dos mercados – esquecendo que foi ele que, ao longo de quatro anos, mais se equivocou nos números da desgraça, enganando as estatísticas como um otimista a caminho do abismo. Entretanto, o tempo mudou de repente e a Direção-Geral de Saúde, achando que a meteorologia não deu tempo para uma adaptação lenta ao calor, receia complicações no sistema cardiovascular dos portugueses – e, dramática como de costume, não vá o diabo tecê-las, lançou um alerta. A solução podia ser aplicada à medida do governo: que a DGS e as Finanças troquem de estratégia.

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Figura deslumbrante e misteriosa do al-Andaluz, nascido em Beja, enamorado de Silves, exilado no deserto marroquino, ele é a personagem biografada de ‘Crónica do Rei-Poeta Al-Mu'tamid’, romance de Ana Cristina Silva (Presença).

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FRASES

"O Estado não é dos outros. É nosso e, lastimavelmente, está a ser mal governado." João Vaz, ontem, no CM.

"A democracia continuará enredada pelas teias da conspiração dos gerontes." J. Adelino Maltez, no blogue Albergue Espanhol.

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abril 27, 2010

Blog # 595

O acordo entre o Estado e Joe Berardo para a criação do seu museu no CCB esteve sempre rodeado de polémica. O investidor acha que presta um serviço ao país ao mostrar em público o acervo de arte contemporânea que reuniu ao longo dos anos; o Estado não quis ser acusado de deixar seguir as obras para o estrangeiro e negociou um acordo para que o museu se instalasse no CCB, o que permitiu que Berardo aparecesse como um mecenas, defendendo a gratuitidade dos museus e da cultura em geral. A cada dúvida ou inquietação, Berardo ameaça largar a Pátria, acrescentando agora a novidade de que, por este caminho, o país também está difícil. Moral da história: Berardo sabe o que faz e o que tem em casa – e sabe que quem assinou o acordo vai ter de aturá-lo. Ou de fazer de mau da fita.

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Em ‘Heidegger e um Hipopótamo Chegam às Portas do Paraíso’, Thomas Cathcart e Daniel Klein (Dom Quixote) retomam o desafio de ‘Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar’: falar de filosofia com linguagem risível e objetos reais.

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FRASES

"Deparamo-nos quase todos os dias com casos de riqueza imerecida que nos chocam." Cavaco Silva, ontem, no CM.

"A cultura e a liberdade de espírito são indispensáveis para ajudar o País." José Medeiros Ferreira, no blogue Córtex Frontal.

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abril 26, 2010

Blog # 594

Trinta e seis anos depois, “defender Abril” é um anacronismo. Algumas boas almas consideram que o “espírito de Abril” não foi cumprido. Foi: vivemos em liberdade, há eleições, terminou a guerra e somos parte da Europa. O resto depende dos portugueses e não do “espírito de Abril”. Claro que a descolonização podia ter sido bem feita (não foi) e podíamos ter sido poupados ao PREC, ao “socialismo militar”; julgar isso é tarefa dos historiadores. Mas o essencial é que tudo depende dos portugueses. A constituição americana, de forma inteligente e avisada, não garante o direito à felicidade, mas sim o direito à busca da felicidade. Se o “espírito de Abril” garantia o paraíso na Terra, era uma impostura. Basta sermos pessoas normais, com direitos, liberdades, deveres e garantias.

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Quem leu ‘Alta Fidelidade’, de Nick Hornby, pode afiar as garras: está aí, na próxima semana, ‘Harriet. Nua’ (Teorema): vida pop, música, drogas & rock’n roll, há quem diga que se trata de um dos melhores livros de Hornby.

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FRASES

"Não sei se não vou ter de emigrar outra vez deste país [do modo] como isto vai." Jo Berardo, ontem, no CM.

"Aqui, entre nós, humanos, ninguém foi concebido sem pecado." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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abril 24, 2010

Uma vez sem exemplo

Não sei se o Benfica se sagra campeão esta semana ou na próxima – mas certamente que o título não lhe escapa. Honra aos vencedores. Apenas espero que os adeptos do Benfica não estejam um ano à espera de receber o troféu, como aconteceu com o FC Porto, no que foi mais uma tentativa de humilhar o tetracampeão e de mostrar quem manda. Uma deselegância.

Seja como for, e uma vez sem exemplo, felicite-se o Benfica; o pior que há a fazer nestas (e noutras) circunstâncias é reunir desculpas que apenas mascaram o ressentimento. Neste caso, também, não há desculpas – o Benfica merece o título. Jogou melhor, tem alguns excelentes jogadores, tem um bom treinador e, não convém menosprezar, teve a sorte do seu lado. A sorte é também construída e não depende apenas do arbítrio dos deuses (se bem que outros «arbítrios» fossem convenientes); dá trabalho, exige escolhas difíceis, intuição e vontade. Conta-se que, quando recomendavam um general a Napoleão, este não se limitava a querer conhecer os seus dotes, conhecimentos e exemplos de coragem e valentia. Queria, também, saber se era um homem com sorte. Jorge Jesus é, obviamente, um treinador inteligente, mordaz, esperto e guerreiro – e soube merecer a sorte. Para cúmulo, gosta de bons jogadores, o que é um dom que encanta adeptos e proporciona bons resultados.

Com adversários fragilizados (o Sporting entregue a disputas internas, e o FC Porto alvo de uma perseguição histriónica na imprensa e na assim chamada, vá lá, «justiça desportiva»), o Benfica de Jorge Jesus (não de Vieira nem de Costa, como muito justamente dizia Moser) aproveitou todas as oportunidades. Aproveitar as oportunidades é também uma virtude que se deve realçar (já o FC Porto, por exemplo, desperdiçou várias).

Aos meus amigos que não me perdoarão esta crónica, o seguinte: apesar do vergonhoso comportamento da assim chamada «justiça desportiva», o FC Porto perdeu este campeonato por sua culpa. Faltou-lhe plantel, energia e vontade. Façam as contas e preparem-se.

in A Bola - 24 Abril 2010

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abril 23, 2010

Blog # 593

Há quem se alegre com a hipótese da “falência” do Estado. A ideia foi festejada no passado por Eça, que não conhecia Portugal; e é secretamente comemorada por gente que não sabe o que é uma falência, porque nunca viveu à míngua. Seria mais fácil, sem dúvida, que alguém pusesse o país na ordem e disciplinasse um Estado que não sabe fazer contas nem cumpre as suas tarefas. Alexandre Herculano, cujo bicentenário comemoramos, acreditava que a culpa não era das instituições mas do país. Ora, o país, vive acima das suas possibilidades (o Estado dá o exemplo), sucumbe sob dívidas insuportáveis e vive mergulhado numa rede de suspeitas e de ressentimentos. Eça pedia uma guerra que nos entregasse à Espanha. Era preciso, isso sim, uma batalha que nos entregasse a nós próprios.

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Sai agora e trata do “universo masculino” – o novo romance de Inês Pedrosa, ‘Os Íntimos’ (Dom Quixote): homens românticos e predadores, cafajestes e deslumbrantes, cruéis e apenas homens, indefesos. Um dos livros da temporada.

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FRASES

"E o pior de Portugal são as más companhias."Armando Esteves Pereira, ontem, no CM.

"A ideia de um Deus misericordioso faz mais sentido quando temos as férias estragadas." Bruno Vieira Amaral, no blogue A Douta Ignorância.

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abril 22, 2010

Blog # 592

A biografia de Lenine, da autoria de Robert Service (publicada pela Europa-América) é um documento impressionante: ela ensina como se constrói um ditador. Mais do que isso: um homem obsessivo, servido por uma corte de legionários fiéis e temerosos, um homem de estômago delicado e frugal, disciplinado e inflexível, sempre preocupado com a sua saúde e com a existência de traidores nas suas fileiras – de qualquer modo, o criador dos ‘gulags’ e do estado policial que moldou à medida dos seus medos e obsessões. Vladimir Ilyitch Ulianov nasceu há 140 anos, cumpridos hoje; também graças a ele, o mundo foi como foi – e o debate sobre o comunismo, a esquerda clássica, o império soviético, não poderá fazer-se sem uma análise da sua fundação, ou seja, da existência de Lenine.

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Poesia e eternidade, um lamento – assim poderia escrever-se acerca de ‘Necrophilia’, de Jaime Rocha (Relógio d’Água), um dos seus mais belos livros; tão perto do lugar onde a poesia ferve, que comove. Um dos livros do ano, para já.

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FRASES

"A grande notícia é que a Covilhã está pronta para receber os jogadores da seleção." Carlos Queiroz, ontem, no CM.

"Manuel Alegre não é o candidato dos socialistas, mesmo que obtenha o apoio da direção do PS." Tomás Vasques, no blogue Hoje Há Conquilhas.

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abril 21, 2010

Blog # 591

Como vivíamos há alguns anos, sem internet, Facebook, Twiter, Hi5, telemóvel? Curiosamente, marcávamos encontros e encontrávamo-nos a horas. Falávamos com as pessoas. De que viviam os noticiários? De notícias de ontem e de anteontem. De repente, a informação tomou conta de nós tal como a nuvem de cinza vulcânica, que alastrou mais rapidamente na internet do que nos jornais. A Europa excedeu-se em dramatismo, e todos ‘viram’ a face negra da catástrofe a encobrir o continente. Figuras vetustas e ignorantes falaram do aquecimento global. De repente a nuvem afasta-se de Portugal, onde mal tocou (ingrata!), como as andorinhas e os insetos. Retomamos a normalidade. Sobra o vulcão, na Islândia. E uns ‘fait-divers’ sobre como foi cómico não haver aviões. E é isto, afinal.

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O livro está aí: imagens que não se esquecem, as de Leonel de Castro, em ‘Pare, Escute, Olhe’ (texto de Jorge Laiginhas), sobre a Linha do Tua. Um livro-álbum de homenagem e de testemunho que vale a pena reter (Civilização).

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FRASES

"O problema é que este Papa, em particular, importuna." Constança Cunha e Sá, ontem, no CM.

"Finalmente, Portugal já não é um pária da fuligem. A nuvem já cá canta." Bernardo Pires de Lima, no blogue União de Facto.

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abril 20, 2010

Blog # 590

Cumprem-se amanhã 50 anos sobre a inauguração oficial de Brasília. Geralmente, as cidades nascem ao longo do tempo; é um processo lento e trabalhoso. Brasília nasceu por conveniência, necessidade, sonho e orgulho nacional. Dez anos antes, Juscelino Kubitscheck prometera inaugurá-la: é hoje um pássaro ferido no coração do Brasil, ainda hoje dominada pelas linhas do esquisso de Óscar Niemeyer – grande, porque o Brasil não sofre de falta de espaço; mas também aberta ao céu, crepuscular, e vigiada (porque tem demasiados políticos corruptos a habitá-la). Monumento de arquitetura, de urbanismo e de solidão, Brasília é um dos grandes mistérios do poder e da vontade: é uma cidade puramente simbólica, representativa, emblemática. A sua história nunca passou de uma página isolada.

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Timor regressa à ficção portuguesa com o novo romance de Pedro Rosa Mendes, ‘Peregrinação de Enmanuel Jhesus’ (Dom Quixote) a sair em Maio. Muita gente não gostará de algumas das passagens – timorenses e portugueses, naturalmente.

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FRASES

"Não há razão nenhuma para a RTP ser pública." Manuel Pinho, ex-ministro da economia. Ontem, no CM.

"Se ficássemos com Merkel e emprestássemos Cavaco, passaríamos a ser nós a exportar submarinos?" Filipa Martins, no blogue Albergue Espanhol.

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abril 19, 2010

Blog # 589

Até amanhã decorre em Matosinhos a quinta edição dos encontros Literatura em Viagem (LeV). Autores e leitores encontram-se na biblioteca Florbela Espanca em redor da mais antiga associação entre duas belas artes: escrever e viajar. Os primeiros grandes livros da história da humanidade tratam disso, de viagens, aventuras que percorriam os planisférios e reconstituíam paisagens. Hoje em dia, a viagem, seja a de Paul Theroux (que atravessa continentes) ou a de Xavier de Maistre (em redor do seu quarto), é ainda um dos mistérios criadores da literatura. Os portugueses escreveram sobre o mundo todo, foram durante séculos autores de livros de viagem. Repórteres. O que lhes faltou em imaginação sobrou-lhes em sacrifício e em conhecimento do risco. Hoje, são autores de fronteira.

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Sai em finais de Maio mas convém marcar lugar: ‘Todos os Homens São Mentirosos’ é um “romance policial” do argentino-canadiano Alberto Manguel (Teorema). A vítima é um escritor sul-americano e a investigação será muito saborosa.

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FRASES

"A velhice não é só sabedoria. É também desejo, vontade de viajar e de conhecer o outro." João Brites, encenador, ontem no CM.

"Quem quer, ou precisa, de dizer a verdade? E quem sofre, chora ou lhe dói ao dizer a verdade?" Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

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abril 17, 2010

Regimes

O plantel não precisa de emagrecer muito. Precisa é de engordar...» A frase não é minha, lamento – mas do presidente do FC Porto, que ontem «apresentou» mais um livro de Fernando Póvoas. O problema dos regimes alimentares é que se trata, quase sempre, de substituir uns alimentos por outros, consoante os objectivos em causa – emagrecer ou engordar. A «pirâmide alimentar» continua a mesma, mas é no seu uso correcto que está o segredo.

Tratemos, pois, de substituir com determinação – e com método. Mais proteína e menos hidrato de carbono, pode ser uma solução para o problema do FC Porto. E mais fibra. E mais imaginação (um dietista deve fazer-se acompanhar por um chef exigente e imaginativo). E, se me permitem, mais entusiasmo. Mais qualidade – um chef pode «executar» um determinado regime alimentar mas é fundamental que os produtos usados sejam de boa qualidade. De resto, como o próprio Póvoas escreveu, «a dieta ideal não existe». Ainda que se esperem resultados satisfatórios e se usem estas metáforas alimentares.

Tal como uma cozinha não é um laboratório farmacêutico, também um balneário não é uma linha de montagem; o FC Porto precisa de jogadores de qualidade que se possam mover no tabuleiro de jogo, interpretando um papel, sim, mas acrescentando-lhe vibração, brilho, talento. Quaresma tinha vibração a mais e disciplina a menos, mas era insubstituível na disciplina táctica de Jeusaldo (para lhe acrescentar um desequilíbrio criativo, tão útil ao FC Porto como desprezado pelos que o invejavam), servido de um organizador e distribuidor de grande talento, como Lucho, e de um marcador como Licha. Nenhum deles está no FC Porto e só Radamel Falcao pode lembrar um dos vértices desse triângulo, já que Ruben ainda aprende as primeiras variações dessa partitura e Belluschi depende da meteorologia.

É inegável que a SAD do FC Porto fez grandes e úteis negócios. Mas para alimentar essa dimensão empresarial é necessário mais. Uma boa imagem, de resto, não se faz apenas com dieta alimentar: cavalheirismo, equilíbrio emocional e alegria também contam, e muito.

in A Bola - 17 Abril 2010

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abril 16, 2010

Blog # 588

O meu primeiro trabalho no estrangeiro, como jornalista, foi na Alemanha, em 1983 – para acompanhar o julgamento de Konrad Kujau, acusado de forjar uns falsos diários de Hitler. Esforço notável: mesmo condenado em tribunal, é preciso dizer que os 61 cadernos volumosos e totalmente escritos por Kujau reconstituíam a história do nazismo e a biografia do facínora, um monumento historiográfico. A National Gallery de Londres vai agora organizar uma exposição dedicada às grandes falsificações na pintura europeia; há verdadeiras obras-primas no catálogo, e algumas sem dúvida mereciam melhor sorte. O estudo da falsificação é útil para percebermos a política. Por exemplo: o futebol de Figo era verdadeiro e genial. Já o seu apoio a Sócrates deve ser avaliado por um especialista.

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Sai na próxima semana e promete: ‘Se Não Estudas, Estás Tramado’, o novo livro do ex-ministro da Educação, Eduardo Marçal Grilo (publicado pela Tinta da China). Será que Isabel Alçada vai estar atenta às propostas do autor?

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FRASES

"Vejo demasiados engravatados nos camarotes e bancadas. É tempo de arranjar porteiro à altura." Bernardo Pires de Lima, sobre o Sporting, no blogue União de Facto.

"Não creio que a ETA faça algum atentado. Os curas bascos eram doutrinários da ETA." José Manuel Anes, do Observatório de Segurança, sobre a visita do Papa. Ontem, no CMonline.

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abril 15, 2010

Blog # 587

Em Portugal é fácil fazer leis e enumerar projectos. Parte das leis são tão boas que não se destinam a ser cumpridas. Quanto aos projectos, basta anunciá-los, como tem acontecido a vários museus – o da Língua Portuguesa (o Brasil tem um, magnífico, que devia encher-nos de orgulho), o do Mar e, agora, o da Viagem ou dos Descobrimentos Portugueses. Planear um museu, justificá-lo, programá-lo, construí-lo e reunir os fundos necessários são etapas de um longo caminho. Seria lamentável que o currículo da Ministra da Cultura, que tem corrigido vários passos em falso cometidos antes do seu consulado, anunciasse mais um projecto tão volátil como os anteriores. Esperemos que a polémica sobre a nova localização do Museu de Arqueologia não seja apenas um pretexto ainda mais volátil.

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Estou a ler, deliciado, “A Arte de Morrer Longe”, de Mário de Carvalho (Caminho). Humor, ironia, uma língua superior. E, ainda por cima, tudo começa quando “a moda das tartarugas exóticas começou um dia a fatigar”. Sai ainda este mês.

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FRASES

"Seria mais interessante se Richard Dawkins processasse Deus e defendesse a inexistência do Papa." Bruno Vieira Amaral, no blogue Douta Ignorância.

"As autoridades eclesiásticas não são competentes sobre temas de carácter médico e psicológico." Federico Lombardi, porta-voz do Papa. Ontem, no CMonline.

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abril 14, 2010

Blog # 586

O blogue chama-se Dias com Árvores e constitui sempre uma visita apaixonante. Num país que despreza árvores (basta ver como as cidades se desfazem dos seus parques, das suas pracetas e alamedas, ou como são poucos os visitantes dos jardins públicos e os caminhantes dos parques nacionais), o blogue fala diariamente de uma espécie botânica, de uma árvore ou de um jardim. O Livro da Natureza é pouco lido pelos portugueses que, pelas estatísticas, passam 30% do seu “tempo livre” participando “nas redes sociais”. Uma árvore é um testemunho de grandeza e de eternidade e o blogue Dias com Árvores contraria o espírito dos tempos, inventariando árvores, a nossa geografia sentimental ou a forma como a paisagem se constrói. Por mim, condecorava esta gente.

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O próximo livro de Pedro Almeida Vieira, o autor de ‘Nove Mil Passos’ será publicado em breve pela Sextante; é um romance histórico, como os anteriores, e nele o Diabo e os jesuítas conversam abundantemente. Aguardemos.

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FRASES

"Dói-me pagar a alguém que não trabalha." Comendador Jo Berardo, ontem, no CM.

"O país já tem demasiados elefantes brancos e quem paga acabam por ser os contribuintes." Sérgio Almeida Correia, no blogue Delito de Opinião.

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abril 13, 2010

Blog # 585

O segundo filme da série Millenium, adaptação da série de livros homónimos assinados por Stieg Larsson, deixa-nos suspensos sobre a sorte de Lisbeth Salander (interpretada por Noomi Rapace), a mais inesperada das heroínas da literatura popular no início do século. Lisbeth não é uma beleza escultural (nem sequer nórdica) e não pertence à cosmologia de Hollywood. Pelo contrário. Mas desperta sentimentos de solidariedade, de interesse e até de paixão. Magra, tatuada, com vários piercings no corpo, solitária, bissexual, ela é mais do que uma ‘hacker’ ou uma ‘punk’. Além de desafiar os modelos habituais de beleza, ela contraria as formas tradicionais de rebeldia. Os sociólogos têm uma vasta matéria para se entreter, se dermos o desconto. Se não viu o filme, leia os livros.

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Promete ser uma autêntica bomba nos estudos sobre a extrema-esquerda portuguesa: o livro de Miguel Cardina, ‘A Esquerda Radical’ (AngelusNovus) sairá ainda em Abril e é um retrato ao pormenor dos grupos ‘m-l’ portugueses.

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FRASES

"No discurso [Passos Coelho] não entra mal, mas o melão só agora começou a ser aberto." Eduardo Dâmaso, ontem, no CM.

"[Passos] parecia um aluno bem comportado, muito asseado e com a lição esmeradamente estudada." Joana Carvalho Dias, no blogue Hole Horror.

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abril 12, 2010

Blog # 584

O futebol mostra-nos coisas maravilhosas. Uma delas é o rosto de Messi depois de terminar o jogo, batendo bolas pelo relvado fora enquanto é felicitado pelos companheiros. Messi mostra o desprendimento de um génio. No Real Madrid-Barça do passado sábado, Cristiano Ronaldo ficou várias vezes preso ao chão enquanto o argentino dançava como uma faúlha no estádio rival, espalhando luz e gratidão. E quero rever os passes e as linhas de corrida de Xavi, o olho mais perfeito do futebol de hoje. A eles eu juntaria Rooney por causa do carácter operário do seu jogo, cheio de atribulações. O futebol mostra coisas maravilhosas. Por exemplo, o Inter, que joga mal, foi ultrapassado pela Roma, que joga mal. Mourinho precisa de sair de Itália para ver as coisas maravilhosas do futebol.

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Em Coimbra, a Escola da Noite e a Companhia de Teatro de Braga apresentam uma trilogia de textos de Rubem Fonseca. Rubem é um dos maiores escritores de língua portuguesa, o grande autor de “A Grande Arte”. Merece visita.

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FRASES

"Abril espalhou-se como um incêndio de uma ponta a outra do mundo." Rui Manuel Amaral, no blogue Dias Felizes.

"Sei que sou escutado no meu telemóvel. Se me disser para o provar, não o posso provar." João Palma, pres. do Sindicato dos Magistrados do MP. Ontem, no CM.

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abril 10, 2010

A virtude da derrota

Vale a pena gostar de Falcao. O golo (aquele golo) da jornada passada valeu por vários desgostos dos adeptos mas não compensa o resto das desilusões. Há quem, entre os adeptos do FC Porto, acredite que não vale a pena falar de derrotas — o futebol é um jogo, certamente, mas é também uma realidade financeira e um palco de poder; por isso, qualquer derrota tem um peso extraordinário na economia dos clubes. Há quem acredite que não se pode brincar com o assunto. Pode.

Lembram-se quando um simpático guarda-redes belga ameaçou que a sua selecção nacional iria moer Ronaldo com pancada? Uma onda de indignação cresceu como se fosse um ataque às quinas, ao hino e ao bacalhau. Foi ridículo. Devíamos ter rido e suportado a brincadeira, inventando outra maior e mais humilhante. Um jogo também é isso. E o humor diante das derrotas. A piada que inventamos, na hora, sobre a derrota (a mais recente, já agora, é «Liverpool: the Fab Four.»), é importante. Desdramatizar é meio caminho andado para encarar as próximas jornadas. Penso nisso quando, na tv, vejo alguns comentadores de emblema ao peito, rosto fechado, linguagem ressentida, e incapazes de um sorriso, de uma piada, de uma ironia. Ao vê-los, inteiriçados, apetece pensar que estão a tratar das alteração ao PEC. Futebol é também riso puro, artimanha, artifício, drible, desmoralização do adversário.

Por exemplo, no FC Porto, é preciso lembrar que, depois de quatro campeonatos vitoriosos e sucessivos, manda a lógica que se encomende um novo ciclo. É uma espécie de «até já, voltamos para o ano» (ainda não se sabe se este campeonato é lampião...), «e com mais gente no túnel». O humor é um instrumento fundamental no cavalheirismo do futebol. Ele permite lembrar que há, na derrota, uma virtude a descobrir – porque ensina a não contratar primos do Prediger.

Estamos tranquilos. O mundo não termina ao fundo do túnel (eu sei que é uma piada recorrente...). Se este campeonato nos escapar (passei a última semana a desenhar probabilidades matemáticas), dedicamos o próximo ao Benfica. Salvo seja.

in A Bola - 10 Abril 2010

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abril 09, 2010

Blog # 583

No ano passado, 16 crianças foram devolvidas às instituições do Estado pelos seus pais adotivos. Há várias razões para isso e é preciso dizer que o reconhecimento da incapacidade de educar um filho, adotivo ou não, é um ato de coragem. De qualquer modo, em princípio, antes de brincarem às famílias, os casais deviam ser portadores de uma “licença de uso e porte de criança” – e saber que a educação de um filho não está para graças. Sabe-se como é cada vez mais difícil, numa sociedade imbecilizada e superficial, dominada pelo princípio absoluto do prazer e pela abundância de sexo, suportar a responsabilidade daquilo que agora se chama ‘parentalidade’. Há cerca de 13.000 crianças em situação de acolhimento pelo Estado. Este número devia fazer-nos pensar. Mas não faz.

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Muito mais do que romance histórico: ‘Wolf Hall’, de Hilary Mantel (Civilização), que estou a ler, é uma espantosa crónica humana do século XVI inglês e uma lição sobre a agonia de Henrique VIII e o aparecimento de Cromwell.

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FRASES

"... implementar um modelo de acolhimento, que visa a desinstitucionalização das crianças." Idália Moniz, Sec. Estado da Reabilitação, em português moderno. Ontem, no CM.

"Há muita gente a gostar mais de livros do que de ler." Maradona, no blogue A Causa Foi Modificada.

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abril 08, 2010

Blog # 582

A sinagoga Shearith Israel foi fundada há exatamente 280 anos, no dia 8 de Abril de 1730 – trata-se da primeira sinagoga de Nova Iorque, cuja existência se deve a judeus portugueses saídos da Holanda (para onde tinham fugido de Portugal – como a família de Espinosa, o filósofo – e onde criaram a principal sinagoga de Amesterdão, também conhecida como Biblioteca Portuguesa) e do Brasil (para onde também tinham fugido e fundado, no Recife, a sinagoga Kahal Zur Israel, a primeira de todo o continente americano). Conhecer estes factos não é hoje importante, mas lembrá-los permite dar uma ideia de como, ao longo dos séculos, Portugal perdeu a ideia de tolerância e expulsou alguns dos seus melhores. Agora, que terminou (ontem) a Páscoa judaica (Pessach), convém recordá-lo.

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Tudo bom: o livro, ‘O Apogeu de Miss Jean Brodie’ (Edições Ahab), de Muriel Spark, graficamente perfeito; a tradução, excelente, de Margarida Periquito; e o posfácio, tentador de genial, do crítico James Wood. Cinco estrelas.

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FRASES

"Os cortes na despesa do Estado não são um estímulo à economia." Vieira da Silva, Ministro da Economia. Ontem, no CM.

"O Estado português legisla primeiro e depois faz as perguntas." Raquel Vaz Pinto, no blogue 31 da Armada.

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abril 07, 2010

Blog # 581

Até agora, a política oficial do Ministério da Educação era a de considerar os professores meros instrumentos e peças da engrenagem comandada dos seus gabinetes, sem autoridade e em que todos mandariam – os pais, as autarquias, os teóricos da pedagogia e as criancinhas. A anterior ministra não só os desautorizou como, aos olhos da opinião pública, os queria trucidar e reduzir a funcionários administrativos, uma massa inerte. Agora, o ME aceita o princípio de reconhecer ao professor o estatuto de autoridade pública dentro da escola. É um passo. Mas tardio. É preciso corrigir muitos anos de demagogia e de massacre, durante os quais os paizinhos e os alunos podiam esbofetear professores e passar por heróis inimputáveis. Aos poucos, o ME ganha algum sentido da realidade.

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Google. O Fim do Mundo Como o Conhecemos’, de Ken Auletta (Civilização Editora) é um dos livros de Abril; mostra como a net se transformou num negócio perigoso e fascinante e como a Google redesenhou as folhas de Excel.

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FRASES

"Cátia, todos sabemos que tens muito para dar!" Petição no Facebook para o regresso dos vídeos onde se veem alunas a maltratar uma professora. Ontem, no CM.

"O legado de Brad Pitt foi a cor do cabelo, que influenciou J. V. Pinto, Herman e Fábio Coentrão." Bruno Vieira do Amaral, no blogue A Douta Ignorância.

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abril 06, 2010

Blog # 580

Depois de amanhã reabrirá ao público a Livraria Buchholz, em Lisboa. É um símbolo da cidade, sem dúvida. Tinha uma clientela que vinha dos anos sessenta e fechou porque teria de fechar – e porque não acompanhou a forma como o mercado, o gosto dos clientes e os seus hábitos evoluíram. Quatro meses depois, reabre com outra gestão, outros livros e, supõe-se, outros horários e mais ‘animação’. A Buchholz histórica correspondia a um tempo em que uma livraria podia sobreviver com uma ‘clientela selecionada’ (desprezando o povoléu) e com um público universitário cujo nível cultural desceu e cuja bolsa tem outros destinos. Tenho saudades dela, mas não tenho saudades dela. Era outro tempo e os leitores sujeitavam-se a ser desprezados pelas livrarias. Agora, terá de ser diferente.

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O nome do autor é Jojo Moyes; o título é ‘Um Violino na Noite’ – e é o próximo lançamento da Porto Editora para o coração desta Primavera. ‘Coração’, digo bem, com histórias de amor lá dentro. Daqui a duas semanas nas livrarias.

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FRASES

"Nesta história trágico-marítima os pilares do regime sempre comeram à grande e à alemã." A. Ribeiro Ferreira, sobre o caso dos submarinos, ontem, no CM.

"O novo álbum dos UHF chama-se ‘Porquê?’ Parece bem. Sugiro que o próximo seja ‘Desculpem lá’." Adriano Nobre, no blogue Elevador da Bica.

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abril 05, 2010

Blog # 579

É normal a reação contra Bento XVI, sob o pretexto da pedofilia. Não vale a pena explicar que foi Bento XVI, precisamente, a autoridade católica que mais abertamente falou sobre o assunto e tomou a seu cargo a punição e a denúncia dos crimes dos padres pedófilos. No entanto, passar dos ‘padres pedófilos’ para a ‘igreja da pedofilia’ é um passo. Não basta a investigação sobre os crimes e a sua punição; muitos pensam que é preciso ‘eliminar’ a religião em si mesma para que o mundo passe a ser um lugar perfeito. São produtos da ‘era do ressentimento’ e do lugar-comum – para quem a história, o tempo e a volatilidade das ideias feitas não têm importância. O problema é outro: eles não entendem a língua de Bento XVI, muito distinta das frases ‘pop’ da televisão. Isso confunde-os.

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Interrupção de Páscoa: nada de literatura – está a chegar às livrarias o novo livro de Nigella Lawson, ‘Delícias de Nigella’ (Civilização). Rapazes, está na hora de dar um saltinho até à cozinha. Ela espera-nos, com aquele olhar.

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FRASES

"Deviam deixá-los descobrir a religião quando crescessem. Pelos 30, quando já conhecem o medo." Filipe Nunes Vicente, no blogue Mar Salgado.

"As palavras convencem, mas o testemunho comove." D. José Policarpo, no CM online.

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abril 03, 2010

Um cavalheiro

A entrevista do presidente do FC Porto à RTP trouxe uma novidade: Jesualdo Ferreira tem contrato com o clube, mas Mourinho também tinha. Leiam bem, que pode ser um aviso. A relação dos adeptos com o treinador nunca foi pacífica, como aconteceu com Bobby Robson ou, até ver, com José Mourinho pré-special one. O consulado de Robson foi marcante para o clube e para a relação dos adeptos com o clube. Recordo-me com saudades desse tempo; um dia, depois de um jantar na Ribeira, seguíamos pela rua e as pessoas cumprimentavam-no com deferência. Se se usasse chapéu, as pessoas tirariam o chapéu, como cavalheiros que se cruzam na rua, enquanto dão um passeio. Com um cavalheiro, portamo-nos como cavalheiros. Mas não só: havia um respeito carinhoso por ele. Jesualdo podia ser um segundo Robson, e tinha todas as condições para sê-lo: é um cavalheiro. Infelizmente, o Jesualdo foi apanhado a meio de um processo de perseguição pública e judicial ao FC Porto, cujos contornos não se podem explicar inteiramente se não pela natureza do ódio ao FC Porto – e que gerou insegurança e ressentimento na multidão. Os sociólogos explicam o facto, mas o futebol é muito rápido, não concede tempo para aprendizagem (o tempo que tiveram Robson e Mourinho).

Mesmo assim, Jesualdo Ferreira arrebatou três campeonatos, reconstruiu a equipa por duas vezes, e tentou reerguê-la este ano. Não se lhe pode exigir mais – nem a ele nem ao FC Porto; sobretudo com a campanha de judicialização do futebol (que em vez de ser entregue aos jogadores é comandado por juízes & burocratas), e com uma série de contratações defeituosas. Pinto da Costa defende-se, mas não tem razão, e o desastre está à vista – há contratações boas, há más, e há catastróficas. Mesmo que o pódio do campeonato ainda admita reviravoltas, é bom pensar sobretudo nos próximos tempos.

Para regressar à linha da frente, o FC Porto precisa de reflexão e de um cavalheiro ao leme. Que lembre Robson.

in A Bola - 3 Abril 2010

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abril 02, 2010

Blog # 578

Não se pode fazer nada contra isso. Mas todos os anos se repete a cena: estudantes portugueses, com as hormonas aos saltos, em poses abjetas, passam uns dias na Costa Brava ou num sucedâneo de Torremolinos, dormindo pouco, bebendo muito, preenchendo as ‘férias da Páscoa’ com as chamadas ‘viagens de finalistas’ – embora o ano letivo ainda esteja a meio. O gozo deve ser imenso, multiplicado pela quantidade de cervejas engolidas durante as noites de diversão, supondo sempre uma ressaca de dois a três dias, entre autocarros cheios e estômagos às voltas. Para lá do acontecimento dramático (a morte de um jovem de 18 anos), há a notícia recorrente da expulsão de algumas hordas destes adolescentes. Mais do que um ritual, é um despropósito anual, certo como a chegada das andorinhas.

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Mizé – Antes Galdéria do que Normal e Remediada’, de Ricardo Adolfo, acaba de ser reeditado na Alfaguara /Objectiva. Um romance surpreendente pela capacidade de ironizar, de fazer sarcasmo – uma fotografia perfeita do país.

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FRASES

"Basicamente dormíamos de manhã e à tarde e de noite saíamos." Jorge Lopes, 18 anos, um dos alunos de Lloret del Mar. Ontem, no CM.

"É possível ser-se moderno e conservador ao mesmo tempo; se calhar foi o que sempre procurei." Lourenço Cordeiro, no blogue Complexidade e Contradição.

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abril 01, 2010

Blog # 577

Hoje, quinta-feira, inicia-se o “êxodo” do fim de semana da Páscoa, traduzido numas ligeiras “férias de Primavera”. No entanto, poucos relacionarão a palavra “Páscoa” com o Êxodo bíblico, onde tem origem, correspondendo à libertação do povo judeu do Egito e à sua peregrinação pelo deserto. Cristo celebrava esta Páscoa (“Pessach”, do hebraico – passagem); o cristianismo encontrou na sua morte outro significado, sacrificial e penitente, mas concluído com a alegoria da ressurreição. Seja como for, nem uma nem outra narrativa são festejadas pela maioria dos que gozam as “férias de Primavera”, a que ainda acrescentam a dimensão comercial dos ovos de chocolate. Infelizmente, ao libertar-se da religião, a sociedade “libertou-se” também da sua dimensão histórica. Ficou mais pobre.

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Vai de férias? Quando regressar procure ‘Alegrias e Tristezas do Trabalho’, de Alain de Botton, o ‘superstar’ da “filosofia da vida quotidiana” (edição D. Quixote). Pode não dar alegrias, mas ajuda a compreender as tristezas.

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FRASES

"O governador do Banco de Portugal é, de facto, um caso sério nas suas previsões." António Ribeiro Ferreira, ontem, no CM.

"São perigosos os atalhos desesperantes da anti-religião." J. Adelino Maltez, no blogue Albergue Espanhol.

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